Inclusão desigual

Apenas 15% dos lares do Norte e Nordeste têm acesso à internet.

29/11/2011
Por Miriam Aquino, no Tele.Síntese

Os dados sobre bens duráveis nas residências brasileiras, apurados no Censo de 2010, recentemente divulgado pelo IBGE, trazem boas e más notícias no que se refere ao acesso a computador e à conexão à internet, dois pré-requesitos para o ingresso de qualquer país na sociedade do conhecimento.

Uma boa notícia é saber que, nos últimos 10 anos, os computadores foram os bens duráveis que mais cresceram nos lares brasileiros (mesmo considerando que a base desses equipamentos, há 10 anos, era muito pequena), passando de 10,6% das residências para 38,3%. No ano passado, 22 milhões de domicílios tinham pelo menos um computador.

Outra boa nova é saber que a conexão à internet cresceu de forma ainda mais vigorosa. O crescimento foi de mais de 8,6 mil vezes. Também aqui não podemos esquecer que a base de comparação de 10 anos atrás era quase inexistente. Saímos de exclusivíssimas 200 mil residências com acesso à internet em 2000, para 17,5 milhões em 2010. Um tento e tanto.

No censo, o IBGE não entrou em detalhes sobre o tipo e a velocidade da conexão, mas tenho a sensação que alguns milhares dessas residências ainda se conectam à internet por linha discada. Isso significa que grande parte da navegação deve ocorrer apenas nos finais de semana, quando o acesso à web é faturado apenas um minuto ao longo de todo o dia, conforme as regras de tarifa da telefonia fixa. Ninguém aguentaria pagar o minuto e ficar horas “pendurado” na internet, nos dias de semana, pois a conta de telefone seria proibitiva.

Esta impressão vem do fato de que o número de acesso à banda larga (considerando que  banda larga é qualquer velocidade acima dos 64 Kbps oferecidos pela linha discada) no ano passado era pequeno, de 13,8 milhões fixos e 20 milhões móveis (levando em conta o questionável critério de que todo aparelho celular 3G em poder do usuário acessa a internet).

O mesmo censo traz, porém, informações bem preocupantes, que pedem intervenção firme do Poder Público na formulação de políticas que priorizem a sociedade digital, se se pretende que o Brasil  seja protagonista na sociedade do conhecimento.

Maioria dos lares sem computador
A primeira má notícia é que, se o crescimento do acesso ao computador e à internet foi bem significativo, a realidade é que 60% dos lares brasileiros ainda não têm nem o computador, nem o acesso à web.

A segunda fonte de preocupação é que  20% dos lares que têm computador não têm acesso à internet. Não se consegue imaginar hoje qual o auxílio de uma máquina como esta, desconectada da web. A falta da conectividade nessas residências deve estar associada à renda. A família conseguiu comprar o equipamento (que realmente está bem mais barato, devido à política de redução tributária do governo federal), mas não consegue pagar uma mensalidade para a conexão.

E a outra má notícia refere-se à desigualdade regional. Também no mundo virtual, está-se reproduzindo a  concentração de riquezas do Brasil tradicional.

O Norte e Nordeste são as regiões com o menor número de residências com computadores e com acesso à internet. No Norte, apenas 15,4% dos domicílios tinham acesso a uma conexão no final de 2010 (pouco mais de 612 mil casas). No Nordeste, apenas 16,8% com acesso à internet (2,5 milhões de lares). Quase 80% das residências dessas duas regiões (total de 18,89 milhões de residências) não têm um computador sequer.

Enquanto isto, neste mesmo Brasil, 48% dos lares da região Sudeste têm computador e 39,5% deles (9,9 milhões de casas) acessam a internet. No Sul, 46% das residências com computador e 35,5% com internet (total de 8,89 milhões de casas na região dos pampas).

No Centro-Oeste está a  melhor relação entre lares com computador e lares com internet. Do total de 4,33 milhões de lares, 39% tinham computadores e 31,4% tinham internet. Talvez, esta relação melhor entre máquina e conexão possa ser explicada pela presença do Distrito Federal, que tem o maior número de domicílios com computador (63% das 773,9 mil residências) e também o maior número de casas conectadas – 60% do total.

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