UCA: cultura digital é fundamental para que os professores e alunos se apropriem plenamente de seus laptops.

Artigo das professoras Ana Beatriz Carvalho e Thelma Panerai Alves, da Universidade Federal de Pernambuco na revista Logos, da UERJ.

24/11/2011

As professoras Ana Beatriz Carvalho e Thelma Panerai Alves, da Universidade Federal de Pernambuco publicaram, na revista Logos, da UERJ, um artigo chamado Apropriação tecnológica e cultura digital: O programa Um Computador por Aluno no Interior do Nordeste Brasileiro. O número 18 da revista chama-se Dossiê: O estatuto da cibercultura no Brasil. E está todo na rede.
Elas foram aos municípios de Vitória do Santo Antão e Caetés, no interior de Pernambuco, para acompanhar a implantação do UCA. Voltaram otimistas com o impacto dos laptops educacionais em locais com baixos indicadores econômicos, sociais e educacionais. Veja abaixo a conclusão do artigo e aqui o texto integral. Vale a pena a leitura.
“A apropriação das tecnologias digitais só será alcançada quando o processo de consolidação da cultura digital também for efetivado. O domínio da técnica, por si só, não garante a utilização das tecnologias de forma realmente inovadora.

A inserção dos laptops nas escolas da rede pública em municípios pobres em uma região com uma lacuna histórica no seu processo de desenvolvimento, extrapola as condições e consequências previstas no programa de inclusão digital. Umas das imagens mais reveladoras registradas em nosso estudo foi a de uma adolescente vestida para trabalhar no corte de cana, utilizando o laptop dentro de um caminhão que trasporta trabalhadores que estava estacionado na praça.

A cultura agrícola de uma jovem que tem como meio de vida a dureza do trabalho no campo pode ser transformada a partir do uso dos laptops educacionais? Ao que tudo indica, as mudanças são significativas e os sujeitos de nossa pesquisa, embora não apresentem clareza em todas as dimensões que a inclusão digital oferece, estão confiantes que o mundo de informações disponíveis para o acesso pode realmente fazer a diferença em suas histórias de vida. Talvez o futuro não comprove tanto otimismo, mas só o fato de se acreditar na possibilidade de mudanças, já é um indicativo importante.

É interessante que apesar do receio dos professores diante do uso do laptop como instrumento de inovação pedagógica, alunos e familiares encaram o uso do equipamento em uma perspectiva bastante positiva. Não existe o embate entre os traços antigos da cultura e a existência de uma ferramenta que modifica alguns dos seus princípios, eles acreditam é na possibilidade de escolha. Nos dois municípios estudados, houve redução da brecha de acesso ao conhecimento entre os diferentes grupos sociais.

Foi interessante notar os grupos que se formaram/formavam de alunos, tanto nas escolas como na praça, consolidando novas formas de convivência. Verificamos que o modelo 1 a 1 impacta especialmente as classes menos favorecidas, pois quanto menor o acesso aos equipamentos digitais, maior é o interesse e a transformação.

Podemos afirmar que objetivo principal do Programa Um Computador por Aluno – promover a inclusão digital – é plenamente alcançado entre os alunos que rapidamente se apropriam do uso tecnológico e dominam o laptop com desenvoltura. Mesmo que os professores tenham apresentado dificuldades iniciais no domínio técnico de seus laptops, talvez esse não seja o maior problema.

Em nossa opinião, o grande desafio é encontrar formas produtivas e viáveis de integrar esses computadores ao processo de ensino e aprendizagem, de acordo com as condições concretas de cada escola, favorecendo a reflexão desses professores sobre suas práticas, proporcionando a compreensão dos mesmos sobre suas ações/atuações e possibilitando, assim, a reconstrução dessas ações, se necessário.

Temos muitos desafios ainda para superar no no tocante ao uso pleno dos laptops dentro das escolas: a formação dos professores pode ter sido insuficiente no que se refere a deixar o professorado seguro e fluente no uso dos laptops, a percepção deles com relação ao uso desses equipamentos s ainda é de receio e de inexperiênci. Eles não sabem como trabalhar e produzir materiais específicos para motivar os alunos – que já conhecem bem o usodos computadores, as escolas apresentam infraestrutura precária e apoio técnico insuficiente/ineficiente.

Diante do quadro apresentado, percebemos com clareza que o campo da cultura é um lugar de conflito, negociações e, sobretudo, de convergência de relações que resultam em novos modelos de cultura. A consolidação de uma cultura digital é fundamental para que os professores e alunos alcancem plenamente a apropriação tecnológica dos equipamentos e possam realizar e aproveitar as inovações pedagógicas necessárias. Porém, é preciso compreender as mudanças culturais como um processo lento, nos quais diversos elementos individuais e coletivos são cotidianamente negociados até que se possa instaurar um novo modelo que resultará na existência de uma cultura digital, conhecida como cibercultura, como pressuposto básico da cultura escolar.”
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