Minicom divulga resultado da chamada de inclusão digital da juventude rural

Foram inscritos 147 projetos de 67 instituições de ensino diferentes de 22 estados e mais o Distrito Federal.

23/11/2011
Por Lucia Berbert, de Brasília

Oito estudantes cotistas da Universidade de Brasília (UnB) estão se preparando para criar uma rede social voltada para as suas comunidades indígenas com o objetivo documentar a cultura de cada um delas e trocar experiências em relação à história, organização social, educação, práticas de saúde e hábitos sanitários. O objetivo é dar visibilidade à cultura desses povos por meio do uso de tecnologias da informação.

O projeto, denominado Vida Paralela Indígena, foi um dos selecionados na chamada pública da Secretaria de Inclusão Digital do Ministério das Comunicações, em parceria com a Secretaria Nacional de Juventude da Presidência da República, para dar apoio financeiro à inserção da juventude rural e dos povos ou comunidades tradicionais às tecnologias da informação.

A coordenadora do projeto selecionado, Maria da Graça Hoefel, professora do Departamento de Saúde Coletiva da UnB, conta que a proposta surgiu como uma continuação do trabalho de extensão que esses estudantes realizaram nas suas comunidades. Munidos de celulares e máquinas fotográficas, os alunos documentaram o dia a dia das lideranças, mulheres e jovens indígenas, especialmente no que se refere à cultura, modo de vida, práticas de saúde e conflitos socioambientais e socioculturais enfrentados por esses povos.

“Além de álbuns fotográficos e vídeos, o trabalho resultou em um seminário onde pela primeira vez se discutiu a fundo a saúde indígena”, destacou Graça. A professora, que é médica, mas não esconde seu entusiasmo com os benefícios da cultura digital, disse que o projeto prevê a instalação de um espaço cultural em cada comunidade, equipado com computador, acesso à internet, celulares e data show para a construção da identidade das comunidades. Além disso, propõe a contratação de um bolsista que servirá de agente multiplicador para o uso dessas tecnologias nas aldeias.

O projeto prevê o atendimento dos povos Atikum e Fulni-ô, localizados em Pernambuco; Makuxi, em Roraima; Tupiniquim , no Espírito Santo; Guarani, em Santa Catarina; Pataxó, na Bahia; Pira-tapuya no Amazonas e Potiguara, na Paraíba. No espaço cultural previsto no projeto, há também a possibilidade de instalação de um cineclube, para exibição de filmes sobre comunidades indígenas.

Demandas

A secretária de Inclusão Digital (SID) do MiniCom, Lygia Pupatto, disse que ficou impressionada com a resposta das universidades federais e institutos tecnológicas à chamada. Foram inscritos 147 projetos de 67 instituições de ensino diferentes de 22 estados e mais o Distrito Federal. Além disso, comprovou o acerto da parceria fechada com a Secretaria Nacional da Juventude. “Essa primeira experiência indica que o papel da SID é de se articular com outros órgãos governamentais, potencializando ações de inclusão”, disse.

Dos 59 projetos selecionados na chamada pública, 20 são dedicados à Educação do Campo (capacitação de professores das escolas públicas localizadas em áreas rurais, no uso das tecnologias de informação e comunicação – TICs); 20 voltados para Gestão e Comercialização da Produção na Agricultura Familiar (apoio à profissionalização nas cadeias produtivas da agricultura familiar através das TIC para melhoria de gestão e comercialização) e 19 visando expandir a Comunicação Digital nas Áreas Rurais (formação de jovens do campo na área de comunicação digital para que atuem como produtores e multiplicadores de informações e representações locais). O projeto dos estudantes da UnB se enquadra nessa última temática.

Os projetos selecionados vão atender mais de 35 mil jovens do campo e das comunidades tradicionais. A maioria deles é dedicada à fixação do jovem nos assentamentos rurais, uma reivindicação dos agricultores, que se preocupam com a sucessão familiar, mas vêem que não é possível sem a opção de conexão. “Com acesso à internet, abrem-se todas as oportunidades para o jovem, sejam sociais, educacionais ou financeiras, garantindo sua permanência no campo”, disse a secretária.

Lygia ressalta que sem programas semelhantes fica difícil atender a demanda de conexão no campo. Isto porque apenas 6% dos municípios da zona rural brasileira têm acesso à internet atualmente. Ela lembra que a capacitação desses jovens e sua inclusão na rede têm sido demandas constantes dos movimentos sociais.

Selo de qualidade

A opção de restringir o chamamento para universidades federais e institutos tecnológicos foi em função da facilidade de transferência de recursos para os projetos. Mas a intenção da SID é ampliar o edital para projetos também das universidades estaduais que, na visão da secretária, têm mais capilaridade no interior.

Lygia também acredita que os projetos em parcerias com universidade e institutos tecnológicos acabam funcionando como um selo de qualidade dos cursos que serão ministrados. Ela acredita que isso contribui para a quebra do paradigma de que o Ministério das Comunicações é apenas um provedor de infraestrutura. “É preciso promover e se apropriar do grande conhecimento que essas máquinas permitem”, defendeu.

Os investimentos previstos para essas ações devem chegar a R$ 10 milhões. Cada projeto poderá receber entre R$ 100 mil e R$ 200 mil. A duração será de 16 meses, a partir do recebimento dos recursos, que serão repassados por meio de destaque orçamentário, após a assinatura do termo de cooperação entre o governo e a instituição selecionada.

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