iPad genérico indica futuro da tecnologia

Ronaldo Lemos, em sua coluna semanal no FolhaTeen, explica porquê o Brasil poderia, além de prometer mundos para conseguir fabricar o iPad no país, estabelecer também parcerias com empresas de tecnologia que olham para o andar de baixo.

Ronaldo Lemos, para o FolhaTeen

24/10/2011
Você já ouviu falar do iPad. E do Axis Pad? Ou do Wei Pad? Acho que não.
Enquanto o iPad é vendido por cerca de R$ 1.600 no Brasil, o Axis ou o Wei custam R$ 240, pagos em dez prestações de R$ 24.
Ambos usam Android, sistema do Google. O Axis traz conexão com a TV, o que permite assistir a filmes na tela grande. Os dois rodam aplicativos e jogos mais populares, como o hit “Angry Birds”.
O típico consumidor da Apple não conhece essas marcas, mas elas são familiares a milhões de pessoas. São prova de um dos fenômenos mais importantes do nosso tempo: o futuro do consumo tecnológico está na base da pirâmide social. São 4 bilhões de pessoas sem dinheiro para comprar Apple, mas que não vão deixar de consumir tecnologia.
A China percebeu isso de forma discreta e brilhante. Na região de Shenzhen, há polos tecnológicos especializados em produtos para a população de baixa renda. São empresas que trabalham em regime cooperativo: todos os designs e circuitos são compartilhados.
Quem não compartilha é banido. Muitos críticos (em especial os que compram Apple) acusam os produtos de serem de baixa qualidade, ou mera cópia.
Essa visão é em parte fundada em preconceito. Ignora que é um mercado vibrante em inovação. De lá surgiram os celulares que aceitam vários chips, e também os equipados com som estéreo de alta potência, sucessos nas favelas globais.
O Brasil está prometendo mundos para conseguir fabricar o iPad no país. Em vez de tentar competir em um mercado saturado como o da Apple, poderia ser mais esperto e estabelecer também parcerias com empresas de tecnologia que olham para o andar de baixo.
E população de baixa renda é o que não falta no nosso país e no mundo.
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