26/09/2011
Em 2008, os alunos das escolas públicas do interior do Uruguai receberam, cada um deles, um laptop do governo federal, dentro do Plano Ceibal, o programa de um computador por aluno daquele país. Quase quatro anos depois, diretores de escolas públicas começam a reportar os impactos da iniciativa – no Brasil. As escolas da região de fronteira entre o Rio Grande do Sul e o Uruguai começaram a detectar o que a secretaria estadual de Educação chama de “um desejo migratório” de seus alunos para as escolas do Uruguai. Traduzindo: as crianças gaúchas da fronteira querem aulas com laptops. Por causa delas o governo do Rio Grande do Sul decidiu iniciar seu programa de um computador por aluno em Bagé e Aceguá, dois municípios que fazem fronteira com o país vizinho. Aceguá divide, inclusive, o nome com seu município vizinho no Uruguai.
O programa se chama Província de São Pedro e vai entregar 9,5 mil computadores em 23 escolas e a 7,5 mil alunos dos dois municípios (os 2 mil restantes são as máquinas para os professores e a reserva técnica). “Quanto mais amadurece o programa no Uruguai, maior pode ser o descompasso entre nossos alunos e os alunos uruguaios em questões como a empregabilidade e o desenvolvimento da região”, explica Ana Figueroa, diretora do Departamento de Logística da Secretaria de Educação do Rio Grande do Sul.
A Província de São Pedro do Rio Grande do Sul foi criada em 1821, quando o Brasil ainda era um império, a partir da Capitania de São Pedro do Rio Grande do Sul. Seus limites territoriais foram acertados com o Uruguai em 1850. Para distribuir computadores a todos os alunos das 260 escolas estaduais da região seriam necessários, hoje, 160 mil equipamentos. Mas isso vai acontecer ao longo do tempo: o programa começa em Bagé e em Aceguá e se estende, em 2012, às cidades que ficam literalmente no meio da fronteira – ao atravessar uma rua, o país é outro.
UCA
A experiência do programa Um Computador por Aluno (UCA) forneceu subsídios para a iniciativa estadual. O Laboratório de Estudos Cognitivos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que participou das fases I e II do UCA, faz parte do Província de São Pedro. “Todo o know how desenvoldo no UCA nos beneficiou”, conta Ana. “Enxergamos os erros, agregamos conhecimento”, explica. O programa gaúcho, por exemplo, vai começar com uma conexão de 10 Mbps exclusivos para os laptops por escola, dentro do plano de banda larga do governo gaúcho. Hoje, a banda larga cedida pelas concessionárias para as escolas, no programa federal, é de 1 Mbps.
O Província de São Pedro vai começar permitindo a todas as crianças que levem seus laptops para casa, a exemplo do que acontece no Uruguai. “Assim a relação entre a comunidade e a escola se fortalece”, constata Ana. Os computadores serão adquiridos da Positivo Informática, com recursos do Tesouro estadual, dentro da Ata de Registro de Preços do UCA. Mas não vão usar o mesmo sistema operacional. “Estamos conversando com a Positivo, porque queremos usar o Ubuntu Educacional”. As máquinas chegam às mãos dos alunos no início do ano letivo de 2012, mas o processo de formação dos professores já começou.
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