XOmate ou ClassXO?

A Intel, que desenvolveu o ClassMate, une-se à ONG OLPC para apoiar o XO. Uma primeira versão do laptop, resultado do trabalho conjunto, deve estar pronta no final do ano.



A Intel, que desenvolveu o ClassMate, une-se à ONG OLPC para apoiar o
XO. Uma primeira versão do laptop, resultado do trabalho conjunto, deve
estar pronta no final do ano.
  Verônica Couto


Tela do Sugar, interface do XO.

A Intel, que criou o computador educacional ClassMate, anunciou, no dia
13 de julho, seu ingresso no board da organização não-governamental
OLPC-One Laptop per Child para apoiar o desenvolvimento do XO, o
projeto pioneiro nessa área e, até então, seu principal concorrente. De
acordo com Oscar Clarke, presidente da Intel Brasil, uma versão de
computador educacional, resultado da parceria, com tecnologia de ambos
os modelos, deve estar pronta no final do ano ou início de 2008. Até
lá, contudo, ainda neste semestre, ele diz que será lançada mais uma
versão do ClassMate. Da mesma forma, explica que a Intel vai entrar com
o ClassMate, separadamente do XO/OLPC, na concorrência federal para a
compra de 150 mil máquinas para o programa Um Computador por Aluno
(UCA), prevista para setembro ou outubro. Mas o executivo considera
possível que o governo adote as duas soluções.

Sobre o valor do investimento feito pela Intel para integrar a OLPC,
Oscar Clarke afirma que foi o mesmo aportado pelos demais parceiros do
projeto. A AMD, por exemplo, concorrente direta da Intel e uma das
fundadoras da OLPC (em 2005), desembolsou US$ 2 milhões, assim como a
Red Hat, outra associada da iniciativa. “Vamos atuar em conjunto para
desenvolver novos produtos — software, hardware, etc. — cujos
propósitos são os mesmos, da Intel e da OLPC”, explica Clarke. Esses
propósitos, segundo ele, envolvem o atendimento a crianças de seis a 16
anos, de famílias de baixa renda, em mercados emergentes, com foco no
segmento educacional. Também destaca o que considera “o grande
expertise da Intel em Linux e em software livre, que é foco do governo
brasileiro”.

Atualmente, o ClassMate da Intel está sendo testado em duas escolas
públicas — em Palmas (TO) e em Piraí (RJ) —, com 400 unidades em cada
uma, e numa escola da Fundação Bradesco, em Campinas (SP), com outras
500. O equipamento está orçado em US$ 225 (custo FOB, sem impostos, na
China), enquanto o XO sai por US$ 176, nas mesmas condições, e está
sendo avaliado numa escola da capital paulista e em Porto Alegre (RS).
No dia 23 de julho, a OLPC anunciou que vai iniciar a produção em
escala do XO, com uma  demanda mundial, no primeiro ano, estimada
entre 25 mil a 50 mil unidades.

O presidente da Intel Brasil afirma que, “a não ser que aconteça
qualquer coisa muito inesperada”, cada um — Intel e OLPC — deve
participar do edital para o UCA com o seu computador. Mas ele acredita
que a licitação pode selecionar as duas plataformas, cada uma para um
segmento ou grupo de escola. “Vai depender muito dos resultados dos
projetos piloto. O XO, a partir de agora, vai abordar a arquitetura da
Intel, serão tecnologias convergentes. Antes do início da parceria,
acharia que não [era possível a escolha dos dois na mesma licitação].
Mas agora não há problema”, diz Clarke. Um dos representantes da OLPC,
David Cavallo, tem opinião semelhante: “talvez o país adquira parte de
um, parte de outro”. Embora ele ressalte que, “no futuro, vai ser
diferente”. Ou seja, “a Intel vai desenvolver coisas para o XO e usar a
sua tecnologia”.

O edital deve cobrir 150 mil laptops, para atender 300 escolas (cada
uma com 500 computadores). A Intel fechou acordo com a CCE e com a
Positivo para a fabricação local do ClassMate. Na área de software
livre (aplicativos educacionais), a parceira é a MetaSys. A OLPC também
deve buscar empresas brasileiras para disputar as compras
governamentais. “Como disse o Cezar Alvarez [assessor da Presidência e
coordenador de inclusão digital do governo, veja ARede nº 26], o
projeto está construído sobre três pilares: educação; inclusão; e
ajudar no desenvolvimento econômico, na área de tecnologia. Então,
serão necessárias iniciativas nas áreas de suporte, apoio,
conectividade, conteúdo. A definição dos parceiros será feita quando o
governo lançar o edital”, afirma David, que também é co-diretor do
grupo Futuro da Aprendizagem, do Media Lab (unidade do Massachusetts
Institute of Technology).

A chegada da Intel no projeto XO, na opinião do pesquisador, vai
ampliar a escala de produção dos computadores. “A ação é fantástica. O
Brasil quer um número de equipamentos? Pode aumentar o pedido, porque,
com mais recursos, pode-se fazer mais”. Ele avalia, ainda, que a
presença da Intel não traga prejuízo para a AMD, uma das pioneiras na
OLPC. “A AMD tem uma missão — levar máquinas para crianças. E vamos
conseguir mais, com a Intel. Nossa máquina tem chip AMD, mas, para a
AMD, isso não é um negócio, é uma ação visionária; eles estão pensando
nas crianças, na educação. Acho que não vai haver duplicação de
esforços. As coisas vão andar mais rápido”.

A AMD, ao comentar a operação Intel/OLPC, é diplomática, mas sublinha
que seu apoio de primeira hora à OLPC deve revelar um diferencial de
mercado. “O passo tomado pelo nosso concorrente reforça a liderança e a
visão de mercado da AMD. Acreditamos que a empresa pode fazer uma
contribuição positiva para esse importante projeto, em benefício de
crianças em todo o mundo”, declara José Antônio Scodiero,
vice-presidente de marketing e vendas para América Latina e diretor
geral da AMD Brasil. A AMD lançou, em 2004, a Inicativa 50×15, que
prevê a criação de soluções para dar acesso de baixo custo à internet e
aos recursos de computação para 50% da população mundial até o ano
2015. “Nós acreditamos que o OLPC contribuirá muito para essa causa”,
continua Scodiero. O XO usa o processador AMD Geode LX, que oferece
menor consumo de energia e permite a produção de máquinas menores.

Quanto às críticas feitas por Nicholas Negroponte, pesquisador que
deixou o MIT para criar a OLPC, de que a Intel vinha oferecendo o
ClassMate abaixo do preço para dominar o mercado de laptops
educacionais, os dois lados parecem ter combinado: “são coisa do
passado”, respondem David, da OLPC, e Oscar Clarke, da Intel.

Positivo amplia fábrica e defende ProInfo

A Positivo está ampliando, até setembro, a capacidade produtiva mensal
de sua fábrica, em Curitiba (PR), de 130 mil computadores para 225
mil/mês. Segundo Lucas Guimarães, diretor financeiro da empresa (que
vai fabricar ClassMates no Brasil, junto com a CCE), o acordo com a
Intel prevê, além de manufatura, garantia mínima de um ano para os
equipamentos, e 400 pontos de assistência técnica. Ainda não há
definição sobre o futuro do acerto, caso a Intel resolva deixar o
projeto ClassMate. Lucas afirma que a Positivo tem contato com a equipe
do MIT e da OLPC desde o início do projeto XO, que considera
“interessante”. Mesmo assim, ele destaca o ProInfo, programa de
informatização convencional das escolas, e a intenção do governo de
instalar 520 mil computadores na rede de ensino até 2010. A licitação
para as primeiras 89 mil unidades foi ganha pela Positivo, que concluiu
a entrega no final de julho. Outros 100 mil serão comprados este ano.
“Dá um retorno muito maior; com um laboratório desse, atende-se mais
crianças do que no projeto Um Computador por Aluno. O governo está
muito certo em olhar as duas coisas”, diz Lucas.


www.positivo.com.br