Uma estrela descoberta por computadores domésticos

Os 250 mil voluntários que doam tempo de seus computadores para analisar dados astronômicos podem comemorar sua primeira descoberta: um pulsar.

13/08/2010
Do El País

Três cidadãos do mundo que doam tempo de seus computadores para a análise de dados astronômicos se tornaram os descobridores oficiais de um raro pulsar (uma fonte pulsante de energia que corresponde a uma distante estrela de nêutrons). Os dados do pulsar estavam no meio de um mar de informações recolhidas em 2007 pelo radiotelescópio gigante de Arecibo, em Porto Rico.

Provavelmente a estrela nunca teria sido descoberta se esses dados não houvessem sido enviados para análise, em 2009, ao programa Einstein@home, que utiliza o tempo desocupado dos computadores 250 mil voluntários de 192 países. Os três voluntários cujos computadores mais contribuíram para a descoberta são um alemão e um casal de estadounidenses, o que se corresponde com os países que mais participam do programa.

Foi o primeiro descobrimento no espaço distante feito pelo programa, baseado na Alemanha e nos Estados Unidos, e que no início se dedicava a detectar ondas gravitacionais (ainda não detectou nenhuma) e desde 2009 também se centra na detecção de pulsares, estrelas de nêutrons que giram a uma velocidade altísima e são enxergados desde a Terra como se fossem farois.

“Mesmo sem considerar o que podemos aprender a partir de agora com esse pulsar, já é muito interessante para comprender a física básica das estrelas de nêutrons e como se formam”, comenta James M. Cordes, presidente do Consórcio ALFA, formado em 2003 para estabelecer um programa de busca de pulsares em larga escala. E que não é um pulsar qualquer, mas um tipo raro, que se supõe ser o resto de uma estrela dupla na qual um dos astros explodiu, na forma de uma supernova. Está na Via Láctea, aproximadamente a 17 mil anos-luz da Tierra, na constelação Vulpécula (A Raposa).

“Este resultado demonstra a capacidade do processamento de computadores domésticos para realizar descubrimentos em astronomia e em outras áreas científicas que se baseiam em dados”, apontam os autores do comunicado da façanha, publicado na revista Science, que citam nominalmente os proprietários dos computadores que localizaram o pulsar con maior confiabilidade.

A montagem da grade de computação e o manejo de dados com que o programa Einstein@home lida é grande e complexa. Foi necessário conectar a base de dados do Observatório de Arecibo com os computadores do Instituto Albert Einstein, da organização alemã Max Planck, o Centro de Computação Avançada da Universidade de Cornell e a Universidade de Wisconsin (ambas nos Estados Unidos), para poder mandar os dados aos voluntários em todo o mundo. “Isso prova que a participação pública pode descobrir novas coisas em nosso Universo. Espero que fça com que mais gente una-se a nós para buscar outros secredos escondidos nos dados”, diz Bruce Allen, criador e diretor do Einstein@home. Na primeira semana de agosto, mais de 100 mil computadores baixaram dados para análise.