Projeto Tonomundo | Ciclo virtuoso do virtual ao real

Quase 110 mil adolescentes, 29 mil professores, 454 escolas são beneficiadas por metodologia de educação a distância.


Quase 110 mil adolescentes, 29 mil professores, 454 escolas são beneficiadas por metodologia de educação a distância.


Ensino a distância em Pernambuco, no Ceará, na Paraíba, no Rio Grande do Sul, num total de 16 estados.

Tudo começou ainda em 2000, quando o Instituto Oi Futuro (ex-Instituto
Telemar) e a Escola do Futuro da Universidade de São Paulo firmam
parceria para desenvolver um método de ensino a distância e projetos
comunitários. Foi o pontapé inicial do Projeto Tonomundo, o vencedor do
Prêmio ARede 2007,
na categoria Terceiro Setor, modalidade Fundações e Institutos
Empresariais. Neste último trimestre do ano, as grandes linhas do
planejamento para 2008 já estão traçadas. Ano que vem, as atividades
incluem um novo portal da Comunidade Virtual de Aprendizagem (CVA),
que, além de incorporar as práticas consolidadas da rede, incluirá
webradio e webTV, conta Samara Werner, diretora de projetos do Oi
Futuro.

O Tonomundo, diz ela, continuará crescendo com a integração de mais
cinco municípios e estados, e o objetivo é expandir as políticas
públicas, isto é, a adoção, pelos governos, da metodologia desenvolvida
pelo Oi Futuro, na qual o aprendizado e as idéias nascem no mundo
virtual para se realizar e transformar o mundo real — as comunidades
onde estão inseridas as escolas, o centro de tudo.

O Tonomundo está presente nos 16 estados de cobertura da operadora de
telecomunicações Oi, e beneficia professores e alunos de 454 escolas
públicas estaduais e municipais, de 5ª a 8ª séries, na faixa etária de
12 a 17 anos, e membros da comunidade. Contudo, o Oi Futuro constatou
um movimento das próprias escolas envolvidas em estender a ação do
projeto aos alunos do ensino fundamental, médio e do EJA (Educação de
Jovens e Adultos). O projeto se descreve “estruturado como uma ação
cumulativa”, ou seja, ao longo do tempo, incorpora novas unidades, por
meio de convênios para parcerias com governos que adotam sua
metodologia nas políticas públicas voltadas à educação.

Com isso, a expansão é contínua. Ao todo, estão cadastrados no portal
CVA 454 escolas, 109.395 alunos, 28.743 professores. Desse universo,
como Pernambuco adotou a metodologia do projeto na rede pública, é o
estado que concentra o maior contingente de beneficiados: 352 escolas,
24.972 alunos, 3.259 professores. Os mais novos participantes do
Tonomundo estão na Paraíba, no Ceará, no Rio Grande do Norte e em
Sergipe: 34 escolas, 795 alunos, 417 professores. André Couto,
coordenador do projeto, assinala que esses são os números de escolas,
professores e alunos cadastrados, “mas o quantitativo de beneficiados é
maior, se levarmos em consideração a comunidade como um todo”. Um
projeto vivo que é, o Tonomundo vai se aprimorando com os acertos e
erros da experiência, que são testadas nas unidades piloto: 68 escolas
em 16 estados, 83.628 alunos, 2.976 professores.

Cabeças incríveis


Atividades online no portal da
Comunidade Virtual de
Aprendizagem
A tecnologia, argumenta Samara, é só um meio de produzir
conhecimento, disseminar informações; e essas, com a internet, não são
transmitidas em mão única, mas circulam de uma forma tal, que os atores
tanto recebem como produzem conhecimento. Se, nos seus primórdios, o
gestor doava laboratórios e provia conexão à internet, à medida que os
governos passaram a adotar políticas de inclusão, isso deixou de ser
necessário. “Quantas escolas não vemos com laboratório e conexão e que
não sabem o que fazer com isso?”, comenta, acrescentando que
computadores servem para desenvolver novas formas de aprender e ensinar.

O diferencial do Tonomundo, destaca Samara, não está na tecnologia, mas
na metodologia de trabalho. Considerando que, por suas dimensões e
desigualdades, já se descreveu o Brasil como “um arquipélago cultural,
formado por comunidades isoladas”, o projeto quer contribuir para
reduzir esse isolamento e incluir o país no mundo globalizado, a partir
da escola. “Trata-se de um investimento da Oi na comunicação via
internet, visando a democratização do conhecimento para diminuir a
exclusão social”.

De 2000 a 2007, o Tonomundo recebeu da Oi  investimentos de R$
14,5 milhões. Se atingiu seus objetivos? A colheita é pródiga, assegura
Samara Werner. “Queríamos chegar onde ninguém chegava, nos rincões mais
distantes do país. E lá também há cabeças incríveis. Rompemos a
fronteira dos grandes centros. Onde o conhecimento foi chegando, a
resposta foi muito boa e aprendemos o Brasil”. Fácil? Não, não foi. Foi
e é preciso romper com o medo que os professores têm do computador,
considerado um “bicho-papão”. Para isso, inverter hierarquias, indo do
jovem para o professor, que acabou repensando o seu papel.

Quem foi ensinar, aprendeu. Samara conta que, no diálogo com os atores
locais, viu-se que eles têm muito a ensinar, e que, sem o envolvimento
da comunidade, não há projeto que avance. Um projeto comunitário começa
pela identidade cultural da localidade, o que se procura fortalecer por
meio de apresentações em espaços públicos, aumentando o conhecimento
das populações sobre sua história, a sua auto-estima, o seu
pertencimento e a sua cidadania. Outro caminho são ações voltadas para
o meio ambiente, como o replantio em áreas desmatadas. Ou de
saúde,  para reduzir a gravidez entre adolescentes. O Tonomundo
“ensina” tudo através de temas, tendo por palco de atividades o portal
CVA, onde são trocadas experiências, idéias, dicas. Uma das “aulas”,
sobre autoria online,
para construção coletiva, foi dada por Sônia Rodrigues, filha de
Nelson, o dramaturgo, e cuja tese de doutorado foi “Um jogo chamado
autoria”.

Em média, dois anos após o ingresso de uma escola no Tonomundo, ela
pode se tornar auto-sustentável. Isto é, não precisa mais de tutoria e
desenvolve seus próprios projetos. Do universo total de escolas, 15% já
são independentes.