Localizado no Instituto Efort, em São Paulo, o espaço está preparado para atender portadores de necessidades especiais.
Lupas, leitores de tela,
teclados em Braille e
nenhuma barreira para
cadeirantes.
O Telecentro com Acessibilidade Total da prefeitura de São Paulo, que
funciona no Instituto Efort, localizado no bairro da Vila Mariana, em
São Paulo, é o vencedor do Prêmio ARede 2007
na modalidade/categoria Setor Público Municipal. Entre os 178
telecentros municipais da cidade, foi escolhido para concorrer, porque
é um projeto radical de inclusão. O Telecentro Efort está preparado
para receber todos os cidadãos, inclusive os que têm necessidades
especiais, por serem portadores de deficiências motoras, mentais,
visuais ou auditivas. “O impacto dessa iniciativa é maior, porque dá
acesso total às pessoas”, explica Ricardo Montoro, secretário de
Participação e Parcerias, responsável pelo Programa Telecentros.
Acessibilidade é o direito de usar todos os espaços e serviços que a
sociedade oferece, independentemente da capacidade de cada um. Em um
telecentro, significa eliminar barreiras arquitetônicas, sonoras, de
comunicação e prover softwares
que permitam o acesso a todos. No Telecentro Efort, inaugurado em 2002,
isso se traduz em oito computadores com acessibilidade total: monitores
para pessoas com baixa visão, teclados especiais para pessoas com
deficiências motoras, navegadores e softwares que “falam”,
impressoras em Braile e equipamentos para surdos e deficientes físicos.
Essas máquinas estão em um espaço sem barreiras para cadeirantes e
preparado para que as pessoas se movimentem sem ajuda de terceiros. O
telecentro conta com pedagogos e monitores capacitados a ensinar e
orientar pessoas com necessidades especiais. E as máquinas com acesso
total dividem espaço com computadores para usuários comuns, que também
freqüentam o telecentro, o que favorece a integração entre as pes-soas
com e sem necessidades especiais.
Resultado: vem gente de todo lugar para usar o telecentro. “Todo mundo
quer aprender”, diz Angelina Evangelista, responsável pela área de
educação do Instituto Efort. A iniciativa de inclusão do Telecentro
Efort é importante porque a maior parte do mundo diz “não” à vontade de
aprender dessas pessoas. “Os equipamentos com acessibilidade são caros
e difíceis de encontrar”, observa Waldemar Junqueira F. Neto,
coordenador geral de inclusão digital da prefeitura de São Paulo. “Não
há, nas Casas Bahia, teclados expandidos ou mouses adaptados”, diz. A
maioria dos sites e programas também não usa as chamadas “tecnologias
assistivas”, concebidas para ajudar pessoas com incapacidades ou
deficiências a realizar tarefas de seu cotidiano.
Ponteiras para apoiar a digitação
O Telecentro com Acessibilidade Total é para todos: há 140 pessoas
portadoras de necessidades especiais, hoje, participando de cursos no
Efort. O de informática básica é composto por dez aulas de duas horas,
uma vez por semana. Há também cursos de capoeira especial, reforço
escolar, artesanato, música, orientação para o trabalho — tudo isso
integrado com as atividades do telecentro, que recebe cerca de 1,4 mil
usuários por mês, portadores ou não de deficiência. O trabalho é
individual, todo o acompanhamento é feito para responder
adequadamente às necessidades de cada usuário. Mais de 9 mil pessoas
foram atendidas nos cursos e no uso livre da internet, em 2006.
Fila de espera
A principal conquista do telecentro foi mostrar que as pessoas
deficientes têm a mesma capacidade de construir conhecimento que as
demais, afirma Maria Regina Maciel, presidente do Instituto Efort. No
caso do acesso às tecnologias da informação, a internet deixa de ser
uma barreira e se torna uma ferramenta para vencer outras dificuldades,
porque estimula novas possibilidades de conhecimento e participação
efetiva em novas comunidades e grupos sociais. E as pessoas portadoras
de deficiência sabem disso: o telecentro foi reivindicado pelos
próprios alunos dos demais cursos no Efort. “Havia muita gente querendo
aprender informática, mas não havia um espaço apropriado”, conta.
O instituto tem pedagogas e equipe
especializadas no atendimento de
portadores de necessidades especiais
Ainda não há o bastante. Pessoas de Atibaia, Guarulhos, Guaianases
freqüentam o telecentro, porque não há centros com acessiblidade perto
de suas casas. A fila de espera para o curso básico tem cerca de 800
pessoas, e a prioridade é dada a pessoas com deficiência. Mesmo para
elas, contudo, a espera é de 2 meses e meio. O Efort sugeriu à
prefeitura que montasse outros espaços com acessibilidade, e,
atualmente, há pelo menos mais um: o telecentro da Associação da Casa
dos Deficientes de Ermelino Matarazzo, na zona leste da cidade. O
instituto também é chamado para replicar sua metodologia. Em
2006, realizou um curso com 280 supervisores de telecentros da cidade
para ensinar como receber e atender pessoas com necessidades especiais
e como usar as ferramentas tecnológicas adequadas.
O telecentro é sustentado por uma rede de parcerias. A Secretaria
Especial de Participação e Parcerias cedeu, sob convênio, mobiliário,
máquinas, material de escritório, e paga os monitores e o supervisor; a
Secretaria Municipal de Educação cedeu dois professores para aulas de
apoio escolar, informática, orientação para o trabalho e artes; a
Microsoft doou as licenças e apoio financeiro para o pagamento de
recursos humanos e capacitação dos monitores (os computadores com
acessibilidade total, no Efort, rodam Windows e aplicativos
proprietários). O Instituto Vivo doou plataformas elevatórias, promoveu
a reforma do prédio, doou impressoras em Braile, material didático para
oficinas de geração de renda e o pagamento dos professores; e Furnas
Centrais Elétricas doou softwares especiais para deficientes visuais, periféricos e equipamentos para surdos e pessoas com restrições motoras.
O ambiente em que as pessoas vivem faz com que elas fiquem mais ou
menos limitadas em seu desenvolvimento pessoal. Como isso vale para
todos, o esforço para oferecer acessibilidade plena a usuários de
telecentros beneficia, também, os demais cidadãos. No caso dos
portadores de deficiência, que, no Brasil, representam 14,5% da
população, estamos falando de 24,5 milhões de pessoas, de acordo com o
Censo 2000, do IBGE.