04/08/09 – A maioria absoluta dos usuários da internet na Europa não paga pelo conteúdo online, de acordo com um estudo encomendado pela Comissão Européia. Além disso, a maior parte deles não pretende mudar este comportamento, nem mesmo se as fontes de conteúdo livre desaparecerem.
Esta é uma das conclusões do relatório anual de Competitividade Digital da Comunidade Européia, publicado hoje. O estudo avalia uma série de questões relacionadas à política de tecnologia da informação na Europa, desde a penetração da banda larga até o uso de redes sociais e a disponibilidade de informações online sobre saúde.
Um capítulo do estudo trata do entretenimento online e de seu impacto sobre os criadores de conteúdo. Os resultados não são muito animadores para a indústria de entretenimento. Menos de 3% dos usuários de internet na Europa pagaram por conteúdos online nos três meses anteriores à pesquisa na qual o estudo se baseou e poucos pretendem fazê-lo no futuro. Do estudo:
“Consultadas, metade das pessoas que não pagaram por conteúdos audiovisuais afirmam que nada iria fazê-las mudar de ideia”.
O que faria com que a outra metade pagasse?, você pode perguntar. Preços menores foram a primeira resposta, com 30% afirmando que abririam as carteiras se houvesse uma redução no preço. Cerca de 20% da população online não-pagadora mudaria seu comportamento se a qualidade do conteúdo pago fosse maior do que a dos serviços gratuitos. Não são muitos. O estudo explica:
“A pouca vontade de pagar por melhores serviços sugere que a aquisição de conteúdo avançado está relacionada à percepção de que muitos deles são gratuitos ou oferecidos em contrapartida ao pagamento de tarifas fixas de conexão à internet.”
Em outras palavras: as pessoas simplesmente acham que online é sinônimo de grátis. A crença em serviços gratuitos está tão entranhada na consciência coletiva que somente 20% dos não-pagadores iriam dispender dinheiro para receber conteúdo, mesmo que todas as alternativas grátis fossem eliminadas.
É uma constatação muito importante, e vai no sentido contrário ao que a indústria de entretenimento defende há anos. É possível competir com serviços gratuitos, argumenta a indústria, mas a venda de conteúdo online só seria bem-sucedida se os sites e redes de compartilhamento fossem fechados. O estudo diz o contrário:
“O baixo percentual de indivíduos que consideram a não existência de serviços grátis como razão para adquirir serviços pagos coloca em xeque o argumento defendido por representantes da indústria de conteúdo, de que os consumidores europeus vão, no longo prazo, sofrer com a ausência de viabilidade comercial do conteúdo de alta qualidade se o modelo atual de distribuição, baseado nas cópias ilegais, não for quebrado”.
Ainda que houvesse uma maneira de eliminar todo o conteúdo grátis, os usuários não pagariam. As pessoas esperam que o conteúdo online seja gratuito porque já constataram, na prática, que isso é possível. Isso significa que, para competir com conteúdo gratuito, somente outro conteúdo gratuito. Matéria do blog P2P. A íntegra do estudo, em inglês e no formato PDF, está aqui.