Rádio Comunitária – Rádios testam padrão digital dos EUA

As emissoras comerciais, representadas pela Abert, começam a experimentar, no final de setembro, a tecnologia proprietária Iboc.


As emissoras comerciais, representadas pela Abert, começam a experimentar, no final de setembro, a tecnologia proprietária Iboc.

Apesar dos protestos de parte do
governo, dos radiodifusores comunitários e dos movimentos pela
democratização das comunicações, as emissoras de rádio comerciais já
decidiram e começarão a testar, no final de setembro, a tecnologia
digital utilizando o padrão norte-americano IBOC, criado por uma
empresa dos Estados Unidos chamada iBiquit. Os testes começarão por São
Paulo. Atualmente, a transmissão de rádio no Brasil é feita de forma
analógica. O sinal digital ocupa menos espaço no espectro de freqüência
de radiodifusão e sofre poucas interferências. Isso faz com que o rádio
possa transmitir dados e ganhe qualidade do áudio muito superior.

Os radiodifusores comerciais, representados pela Abert (Associação
Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão), argumentam que o padrão
IBOC é o que melhor atende às suas necessidades, porque permite que
migrar para a tecnologia digital sem mudar de canal. Podem ocupar a
mesma faixa de freqüência e manter o número no dial (IBOC significa
In-Band On-Channel
, no mesmo canal). Essa facilidade, na opinião de
Ronald Barbosa, assessor técnico da Abert, simplifica a implantação da
rádio digital e reduz os custos com a substituição de tecnologia. A
migração se daria apenas numa troca de equipamentos, que depende da
disposição financeira de cada emissora, mas independe de regulamentação
da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).

A Casa Civil e os movimentos de defesa da radiodifusão comunitária,
contudo, não entendem assim. Apenas essa troca de equipamentos é
estimada em cerca de R$ 75 mil (US$ 30 mil), valor proibitivo para
rádios comunitárias. Para os defensores da democratização das
comunicações, a tecnologia digital pode mudar a radiodifusão no país e
abrir espaço para novos operadores e serviços diferentes e para a
popularização da produção e veiculação de conteúdos.

Mas o padrão IBOC é proprietário. Exige o pagamento de taxas (chamadas
royalties) aos fabricantes da tecnologia, o que significa custos altos
para os radiodifusores comunitários ou que não têm o poder de mercado
das grandes emissoras. Sem falar que a escolha do IBOC poderia
encarecer o aparelho de rádio digital. “A implantação da rádio digital
não é tão simples quanto trocar um equipamento. O rádio vai mudar com a
tecnologia digital e serviços multimídias poderão ser agregados”,
ressalta André Barbosa, assessor especial da Casa Civil para assuntos
de comunicação eletrônica de massa.

André Barbosa questiona a disposição das emissoras de testar apenas o
padrão IBOC, e a pressa com a qual a rádio digital poderá ser
introduzida no país sem uma discussão ampla entre governo,
radiodifusores e movimentos sociais. Para ele, outros padrões, como o
europeu DRM (Digital Radio Mondiale), não-proprietário, também têm que
ser testados. O Ministro das Comunicações, Hélio Costa, disse que o
padrão DRM deverá ser testado por emissoras das principais capitais
brasileiras. Por não ser proprietário, permite que seus consorciados
(várias rádios públicas européias, como a BBC ou a Radio France)
desenvolvam pesquisas sobre a base tecnológica oferecida.

Já a Anatel argumenta que não há mais espaço no espectro de freqüência
de radiodifusão – isto é, não há mais lugar no dial para novas
emissoras ou para mudar de lugar as atuais – e, por isso, ao se fazer a
digitalização do rádio, é preciso uma solução que permita às emissoras
permanecer no mesmo canal. Segundo Ara Apkar Minassian, superintendente
de Comunicação de Massa da agência, o IBOC permite usar o mesmo canal.