Telecentros – A marcha digital dos trabalhadores sem terra

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) mantém uma rede de dez telecentros, em fase de expansão. E estuda o uso de voz sobre IP, ou seja, telefonia pela internet, para reduzir custos de telecomunicações.


O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) mantém uma rede
de dez telecentros, em fase de expansão. E estuda o uso de voz sobre
IP, ou seja, telefonia pela internet, para reduzir custos de
telecomunicações do movimento. 
Verônica Couto

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) mantém dez
telecentros em vários estados do país, numa das iniciativas da equipe
especializada em tecnologia da informação – a Frente Digital – , que se
dedica a construir uma sofisticada rede de comunicação para seus
militantes. O próximo passo, segundo Pascal Daniel Angst, da Frente
Digital, é adotar tecnologias de voz sobre IP entre os escritórios
estaduais, para reduzir os custos de telefonia.


Telecentros abertos às comunidades.

O projeto de inclusão digital do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra (MST) começou em 2003, com cerca de 2 mil computadores obtidos em
doações. Os equipamentos foram distribuídos por 23 estados, onde o
movimento tem representações, a fim de permitir a criação de uma rede
nacional de comunicação e informação. De acordo com Pascal, decidiu-se
pela abertura dos telecentros em estruturas já existentes –
cooperativas, escolas, centros de formação.

Assim, além dos equipamentos instalados nas instâncias administrativas,
foram mapeados dez locais para receber os centros de acesso à internet,
nos principais núcleos de formação do movimento, como a Escola
Agroecológica de Guararema, no estado de São Paulo. Hoje, eles estão
sendo transformados, todos, em Pontos de Cultura, no programa Cultura
Viva do Ministério da Cultura, que vai equipá-los com equipamentos
multimídia para produção de áudio e vídeo.

Aberto a todo mundo

Os telecentros estão localizados em Cantagalo (PR), Guararema e
Ribeirão Preto (São Paulo), Palmeiras de Goiás (GO), Quissamã (SE), São
Mateus (ES), Caruaru (PE) e em Igarapé do Meio (MA). Foram abertos a
partir de abril de 2004, após trabalhos de capacitação e mobilização
das comunidades. “Começamos a levar, na base, a discussão sobre o uso e
o sentido do conceito de inclusão digital. Para que as comunidade
entendesse e manifestasse o seu interesse em assumir o dever e a
obrigação de manter os telecentros, sabendo para que eles servem”,
explica Pascal. “Um aspecto que vale ser destacado”, continua, “é a
situação da juventude do campo, que, em geral, não tem acesso a nenhuma
tecnologia. E a oferta de meios de comunicação e de produção de
conhecimento é importante para lhes dar maiores perspectivas e
mantê-los no campo”.

Os telecentros do MST também contribuem para melhorar a relação do
pessoal dos assentamentos com as comunidades em que estão inseridos.
“Muitas vezes”, ressalta Pascal, “o nosso é o único acesso à internet
da região. E está aberto a todo mundo, não só às pessoas do movimento”.
Houve lugares em que foram feitos projetos conjuntos com a
administração pública para receber, de forma organizada, 
professores e alunos das escolas das cidades. Além de outros convênios
com prefeituras, para atividades de interesse comunitário.

Como em muitos assentamentos não há telefone, grande parte das conexões
à internet é provida por antenas Gesac – programa do Ministério das
Comunicações. Mas Pascal lamenta que, na gestão do atual ministro Hélio
Costa, ainda não conseguiu novas antenas para ampliar a rede (saiba mais). “Vamos tentar uma conversa com o pessoal do Gesac, para
apresentar o projeto”, adianta. Porque, além dos dez telecentros, o MST
tem cerca de 30 salas de informática –  estruturadas para uso de
computadores, mas sem conexão à internet. O governo do estado do Paraná
também decidiu apoiar, por meio da Celepar (companhia de processamento
de dados estadual), a criação de cinco telecentros em assentamentos no
estado – um deles com cabeamento em fibra óptica.

Formação de quadros

A Frente Digital desenvolveu uma apostila para usuários e conseguiu, em
convênio com a Secretaria da Pesca, realizar três cursos de capacitação
de pescadores nos centros de formação do MST. Esses cursos para
monitores e outros integrantes da rede se baseiam numa metodologia do
movimento que inclui formação política, cultural e para autogestão.
“Cria-se um coletivo com os educandos. Depois, eles trabalham com a
comunidade o que aprenderam, e voltam para discutir e reforçar seus
conhecimentos”, detalha Pascal. O curso completo tem seis meses,
desenvolvido pela Coordenação Político-Pedagógica do movimento.


Toda a documentação do projeto
está online.

O trabalho de formação também abrange domínio do software (a
distribuição MSTix e outras plataformas abertas), noções básicas para
manutenção dos equipamentos, como dar cursos para os usuários, como
fazer projetos, como conseguir recursos, como criar e trabalhar com
conselho gestor. Ou seja, cobre aspectos políticos, administrativos e
técnicos do projeto. Em geral, são 40 educandos – 20 técnicos e 20
monitores.

A Frente Digital é responsável pela tecnologia da informação do MST e
está inserida no setor de comunicação, que pilota outras iniciativas,
como rádios comunitárias, o jornal Sem Terra, a Revista Sem Terra, o
portal do MST e o da própria Frente na internet, e os programas de
inclusão digital. “O que vemos é que a base do movimento social não
está incluída nas grandes discussões sobre a Sociedade da Informação.
Essa inclusão requer, urgentemente, uma política pública”, defende
Pascal.

www.mst.org.br – Portal do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
http://id.bsb.mst.org.br
– Portal da Frente Digital, responsável pela área de tecnologia do
movimento. Traz documentação, manuais, as grades dos cursos e fotos dos
telecentros.