Programa prepara jovens desfavorecidos para o mercado de trabalho. Cerca de 85% dos 50 participantes estão empregados.
Elizy Félix dos Anjos*
Você já tem experiência? Quem nunca se deparou com essa pergunta em uma
entrevista de emprego? Se para quem tem curso superior é comum ouvir um
sonoro não como resposta, imagine a situação de um jovem de baixa renda
que terminou os estudos em escola pública. Pensando em mudar essa
realidade, a Academia para o Desenvolvimento da Educação (AED), e as
ONGs brasileiras Casa de Passagem, CDI-PE (Comitê para Democratização
da Informática de Pernambuco), LTNet e Porto Digital, com financiamento
da Agência Norte-Americana para o Desenvolvimento Internacional
(Usaid), criaram, em 2003, o Programa para o Futuro (PPF). Trata-se de
um projeto cujo desafio é preparar jovens para o mercado de trabalho, e
que será retomado este ano.
Ana Célia Arcanjo (à esq) ,
graduada no programa,
com Aparecida e Tânia. Fizeram parte do projeto 50 jovens entre 16 e 21 anos, todos de
famílias de baixa renda e que estudaram na rede pública. Eles passaram
por um ano de capacitação com atividades práticas integradas à educação
suplementar, além de um estágio que os permitiu vivenciar as primeiras
experiências no emprego formal. O foco foi no desenvolvimento de
habilidades na área de Tecnologia da Informação (TI). O projeto não só
visa ajudar a obter um emprego, mas também a mantê-lo. “Queremos
trabalhar com o jovem em crescimento profissional. Na fase do estágio,
esse jovem continua tendo um acompanhamento”, afirma Tânia Ogasawara,
coordenadora do Programa.
As inovações do PPF estão ligadas a uma metodologia baseada em
simulação do ambiente de trabalho, além da atividade de e-mentoring,
pioneira no Brasil. Ou seja, cada jovem teve um mentor – profissional
de empresas hospedadas no Porto Digital – que dedicava 40 minutos
semanais ao reforço da capacitação e à orientação do desenvolvimento de
uma postura pertinente ao ambiente de trabalho. Essa postura
transformou-se em diferencial dos jovens do projeto e foi motivo de
elogio por parte dos empregadores. “O mentor não só dava lições
técnicas, como lições para a vida”, revela Aparecida Cavalcante,
coordenadora de e-mentoring.
Outra contribuição dos mentores refere-se à formação de uma rede de
contatos, facilitando a circulação de informações sobre o mercado de
trabalho e fazendo com que esses jovens utilizem a internet
profissionalmente. O projeto volta em 2006 – ele se encontra em fase de
mobilização de recursos e busca de novas parcerias -, com ênfase no
empreendedorismo e o apoio dos jovens da fase piloto, que agora atuarão
como monitores e mentores. Pouco mais de um ano depois do final do
período da capacitação, 85% dos que passaram pelo programa estão
empregados. É o caso das jovens Cíntia Arantes e Avaneide Barbosa.
A primeira foi capa da revista de negócios norte-americana
“BusinessWeek”. “Eu não tinha nenhuma área para seguir, mas, depois que
comecei no programa, apareceu esse estágio e, hoje, sou programadora
júnior”, diz Cíntia, que faz estágio em uma empresa de TI do Recife.
Avaneide também passou pela mesma formação e acaba de prestar
vestibular para o curso de Secretariado. “Quero entrar na faculdade e
permanecer no meu trabalho. Se não fosse o programa, eu não teria base
alguma, o que me levaria a trabalhar na área de limpeza”.
*Repórter da Agência In’formar Peixinhos