O Instituto Criar de TV e
Cinema, idealizado pelo apresentador de TV Luciano Huck, forma jovens
em várias áreas do mercado audiovisual. Os alunos têm bolsa paga pela
Prefeitura de São Paulo. Vitória Guimarães
Os alunos recebem bolsa
para não precisarem trabalhar.
Com o slogan “Luz, câmera e ação social”, o Instituto Criar de TV e
Cinema já nasceu atraindo holofotes. Idealizado pelo apresentador
Luciano Huck, o projeto foi lançado no dia 20 de maio de 2003, num
evento beneficente inusitado, composto por um jantar seguido de um
leilão, no qual os lances foram para itens incomuns, como um café da
manhã com a Xuxa e uma volta no autódromo de Interlagos com o Rubinho
Barichello, por exemplo. O resultado não foi diferente: R$ 22 mil por
um jantar com o ator Rodrigo Santoro e uma partida de golfe com
Ronaldinho por R$ 15 mil. O final? Quase R$ 1,5 milhão arrecadados, o
suficiente para montar a sede de 3 mil metros quadrados, localizada no
centro da cidade de São Paulo, que abriga 15 oficinas, uma biblioteca e
videoteca, marcenaria, refeitório, cozinha, sala de projeção,
vestiários, espaço de convivência, dois estúdios, laboratórios, cinco
ilhas de edição, cinco de áudio e dez de finalização. Parceiros como a
Sony também ajudaram a montar a estrutura, fornecendo equipamentos de
última geração (duas câmeras PD-170, duas câmeras DSR-390 e um
switcher).
Entidade sem fins lucrativos e não-governamental, o Instituto Criar
conta com a presença de muitas estrelas da economia e da TV no seu
conselho consultivo (José Roberto Marinho, Nizan Guanaes, Paula
Lavigne, Pedro Paulo Diniz, Regina Casé, entre outros). E muitos canais
de parceria com produtoras de sucesso, que podem dar estágios aos seus
formandos. “A formação audiovisual é um meio; acreditamos na formação
integral dos jovens. Mostramos a eles como a comunicação é um
instrumento poderoso de transformação social”, diz Danielle Fiabane,
superintendente do Instituto. Além das oficinas, a OnG oferece plano de
saúde, tratamento odontológico, vale-transporte, café da manhã e
almoço, e uma bolsa-auxílio para que o jovem não precise trabalhar e
possa se dedicar integralmente à sua formação. Essa bolsa, no valor de
R$ 200,00, é paga pelo projeto Capacita Sampa, da Secretaria Municipal
do Trabalho, de São Paulo, único órgão público que mantém parceria com
o Instituto.
Os alunos chegam ao Instituto pela manhã, tomam café e às oito horas
vão para uma das oficinas básicas: comunicação, criatividade e
expressão, laboratório digital, projetos, história da TV e do cinema e
repertório. Depois, acontecem as aulas das oficinas técnicas
(computação gráfica, cenografia, cabelo e maquiagem, edição, figurino,
operação de luz e elétrica, operação de áudio, operação de câmera,
produção e roteiro) escolhidas pelos alunos, nas quais passam mais duas
horas. Após as aulas, os alunos almoçam e ficam nas dependências da
OnG, na biblioteca ou no espaço de convivência, por exemplo.
Da primeira turma, 96 estagiaram em empresas parceiras.
Além dos cursos, outras atividades compõem o processo de formação dos
jovens, como o Voe Alto, em parceria com a Gol (empresa de aviação), um
calendário de encontros com profissionais da televisão e do cinema que
visa proporcionar contatodireto dos jovens com formadores de opinião do
mercado audiovisual. Já participaram dos eventos Andrucha Waddington,
da Conspiração Filmes; Gilberto Braga, autor de novelas da TV Globo; o
cineasta Hector Babenco; o documentarista João Salles e a diretora Tata
Amaral. Essa diretora, aliás, recrutou uma equipe de cinco alunos do
Instituto para fazer o making of do seu terceiro longa-metragem,
“Antonia”, sobre o universo das cantoras e dançarinas de rap, que vai
integrar o DVD do filme.
Na passarela
Um desfile na sede da ONG, que reuniu estilistas, cabeleireiros,
maquiadores e profissionais da área, partiu de uma idéia dos alunos da
oficina de figurino da primeira turma. O Estilo Criar acabou envolvendo
todos os alunos: os da oficina de produção coordenaram o trabalho; a
equipe de iluminação montou o design de luz; os alunos de cenografia
montaram o cenário da passarela; a trilha sonora foi produzida pela
equipe da oficina de áudio; as alunas da oficina de cabelo e maquiagem
ficaram responsáveis pelo visual dos modelos voluntários da agência
Mega; os alunos da oficina de câmera gravaram o desfile e os
bastidores, material que, posteriormente, foi montado pela equipe de
edição; os alunos de roteiro escreveram um texto sobre o evento e os
alunos de computação gráfica criaram um convite virtual.
A primeira turma, formada por cem alunos, iniciou o curso em junho de
2004, com a duração de um ano: 96 alunos completaram o curso e todos
estão estagiando ou já terminaram o estágio, proporcionado pela
parceria entre o Instituto e produtoras, rádios, lojas, teatros e
emissoras de televisão. Os estágios têm a duração de seis meses e os
alunos recebem uma bolsa mensal no valor de um salário mínimo. Dos que
já acabaram o estágio, 28 foram efetivados pelas empresas e 18
renovaram o contrato de estágio por mais um se- mestre. A segunda
turma, com 150 alunos, iniciou o curso em agosto do ano passado.
Danielle se orgulha das estatísticas: “Apenas quatro alunos não
concluíram o curso, o que é um número maravilhoso. A expectativa
inicial era de que pelo menos 20% abandonassem, mas o fato de os jovens
estarem se dando bem no mercado profissional é uma prova de que a
formação deles é de qualidade”. Ela acredita que um dos motivos do
sucesso é a equipe bem estruturada. “Todos os profissionais que
trabalham no Instituto são remunerados, o que faz com que não haja
desistências como acontece em muitas OnGs. Além disso, todos os
professores são profissionais da área”, diz ela.
Cinco alunos participaram do
making of do filme "Antonia".“Aprendi muito mais que edição de vídeo. Conheci novas pessoas, estive
em contato com outras coisas, mas, principalmente, aprendi a me
comunicar melhor”, conta Tatiana Macedo, 19 anos, que após o término do
curso, começou a estagiar na produtora Mixer e, em janeiro deste ano,
foi efetivada. Tatiana fazia parte da OnG Arrastão, no bairro do Campo
Limpo, onde se interessou por audiovisual e, assim que soube da criação
do Instituto, se inscreveu. “Quando entrei no Instituto, tinha 17 anos
e não queria pensar na vida, em nada sério. Depois de um tempo, vendo a
oportunidade que estava na minha frente, decidi batalhar e buscar o
melhor para mim. E não parei até hoje.”
Os interessados em freqüentar as aulas devem ter entre 16 e 20 anos,
integrar famílias de baixa renda, estar cursando ou ter terminado o
ensino médio, fazer parte de uma das OnGs parceiras (a lista está
disponível no site), demonstrar interesse, ter o perfil para trabalhar
na área da oficina técnica escolhida, apresentar capacidade para
trabalhar em grupo, iniciativa e autonomia.
Telefone: (11) 3333-7676