Opinião – A nova lei Áurea



José Luiz Navarro Frauendorf*


O homem sempre procurou difundir sua cultura, deixar registrada suas
idéias. Inscrições rupestres, papiros, pergaminhos e, finalmente, a
imprensa permitiram a transmissão des informações através de símbolos
gráficos. Com a introdução do rádio, no início do século XX, e,
posteriormente, da televisão, a divulgação ficou mais fácil e tem sido
muito bem empregada.

O homem também teve sempre a necessidade de se comunicar com seus
semelhantes. Sua criatividade fez com que usasse tambores, sinais de
fumaça, espelhos, mensageiros, cartas, telégrafo, telefone, telex e o
fax. Em menos de cinco décadas, evoluiu da válvula (anos 50) para o
microprocessador (80). Aí a eletrônica iniciou um processo de
transformação, cujo ciclo está prestes a se encerrar. Na década de 80,
nasceu uma “lagarta” (circuito integrado) que, aos poucos, está
devorando todas as aplicações da eletrônica. Ela é a responsável por
todas as evoluções “disrruptivas” que estamos assistindo nos últimos
20, 25 anos.

As telecomunicações, assim como a informática, evoluíram e também estão
prestes a serem devoradas pela “lagarta”. Os celulares provocaram a
primeira mudança de comportamento, pois libertaram o homem de amarras
tecnológicas, ao acabarem com o fio de telefone. Os fonógrafos, os
gravadores, os CDs, os DVDs e, em breve os PVRs (personal video recorders),
rompem outras amarras. Tudo isso, graças à eliminação de barreiras
tecnológicas que ainda obrigam o espectador, ou ouvinte, a assistir, ou
ouvir, à programação que a emissora de TV ou rádio insiste em levar “ao
ar” mesmo quando ele, muitas vezes, nem sequer está disponível. A TV
por assinatura já havia provocado a segmentação e, com sua
digitalização, aumentará mais, as opções.

Mas a telefonia continua em transformação, devendo ser absorvida pela
internet, com a massificação da voz sobre IP (VoIP). Para que essa
transformação seja totalmente concluída, falta só uma coisa, a internet
também se livrar “dos fios”. E isso está prestes a acontecer, em menos
de 12 meses, com a introdução das novas tecnologias wireless denominadas de WiMAX.

Assim como a internet mudou nossa vida, sua utilização portátil/móvel
irá tornar obsoleta as tecnologias “com fio”. O homem poderá estar
sempre “plugado” em qualquer hora e lugar, por meio de um único
dispositivo, que lhe provê o acesso. O acesso lhe permitirá usufruir de
diversas aplicações, como ouvir a sua música, assistir ao seu filme,
acessar a sua correspondência, consultar qualquer banco de informações,
inclusive bibliotecas, efetuar a sua transação comercial.

Rompidas as barreiras tecnológicas, o ser humano passará a necessitar
de um único serviço, o acesso. Os antigos serviços – telefonia fixa,
móvel, TV, rádio, etc. – deixam de existir e tornam-se aplicações.
Quanto tempo vai levar? Creio que pouco, se a indústria asiática
absorver essa tecnologia rapidamente, como já demonstram os primeiros
indícios. Em cinco anos, no máximo, esses dispositivos serão tão
populares como é hoje o celular.

Dentro de pouco tempo, a combinação desses fatores poderá criar uma
nova definição, onde o acesso significará: entrada para o “Mundo
Digital”; passagem para nova “Fase da História”; alcance de
“Conhecimento, Educação, Entretenimento”; promoção da comunicação, em
qualquer lugar, a qualquer tempo, das mais diversas formas, via um
único dispositivo. Essa poderá vir a ser a nova “Libertação dos
Escravos” da tecnologia, da falta de oportunidades, de educação
adequada, de recursos para vencer na vida. A Lei Áurea libertou o
indivíduo, mas não lhe deu chance de evoluir. Talvez a tecnologia nos
liberte da ignorância.


*Diretor geral na Neotec – Associação das Operadoras de Sistemas MMDS.