Antena Coletiva – TV interativa na educação

O Genius Instituto de Tecnologia fornece solução para o uso de TV digital em programas educacionais na Região Amazônica.



O Genius Instituto de Tecnologia fornece solução para o uso de TV digital em programas educacionais na Região Amazônica.
Lucia Helena Corrêa

Na região Norte, a maior do país em extensão geográfica e uma das mais
pobres, a guerra santa pela inclusão digital não dá trégua. Na região
amazônica, os estudantes da rede de ensino fundamental com acesso à
internet são apenas 35,5 mil – menos de 1% da população brasileira,
segundo contagem do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio
Vargas. As regiões Sul e Sudeste ostentam a marca de 170 alunos por PC
instalado. Mas já foi pior. Mudar essa realidade é um dos desafios do
Genius Instituto de Tecnologia, que pretende atacá-lo com tecnologia de
TV digital, segundo o gerente de projetos, Agnaldo Silva.

O Genius, entidade de pesquisa sem fins lucrativos, iniciou, em janeiro
deste ano, os primeiros testes de sua solução para aplicações
interativas em TV digital. Desenvolvida no novo Laboratório de TV
Digital do Instituto, está sendo aplicada em um projeto de ensino a
distância da Secretaria de Estado da Educação e Qualidade de Ensino do
Amazonas (Seduc) e do Centro de Educação e Tecnologia do Amazonas
(Cetam).

Financiada com recursos da Superintendência da Zona Franca de Manaus
(Suframa), a iniciativa conta com a infra-estrutura da rede de canais
de satélite da Seduc, que já está sendo usada para o programa de
formação de professores. O sistema digital funciona através de um
adaptador, que permite a captação de sinais digitais (setop box) em TVs comuns, integrado aos soft­wares
do Genius. Na primeira etapa dos testes, finalizada em novembro de
2005, a equipe do laboratório do instituto avaliou, junto com
professores e alunos das escolas públicas, se os roteiros interativos,
a narrativa, as questões de usabilidade e a relevância dos serviços
oferecidos atendiam o público-alvo.

“O compromisso com a abrangência e, acima de tudo, a seriedade explicam
os sete anos de maturação, antes de o projeto entrar na fase de
execução, Brasil afora”, diz o educador Augusto Marino, especialista em
tecnologia aplicada à educação, hoje ligado à Seduc, e um dos
idealizadores do ProInfo (Programa Nacional de Informática na
educação), dez anos atrás. A base do Genius é a criação de conteúdo
educacional, rigorosamente de acordo com a cultura local. “Os primeiros
testes apontaram, por exemplo, para a necessidade de ‘tropicalizar’,
padrões internacionais em TV digital interativa. Layout,
cores, linguagem, todos os componentes dos serviços, enfim, foram
concebidos a partir de heurísticas que respeitam o perfil do
público-alvo: alunos, professores e gestores escolares da Região
Amazônica”, explica o educador. O paradigma, segundo ele, é o
construtivismo, metodologia educacional, que sustenta a tese da
não-imposição de conteúdos, concedendo ao educando a oportunidade de
escolher segundo a própria formação cultural. “Nada é fechado no
Genius. E tudo respeita a realidade, a visão de mundo de cada grupo
social, regionalmente”, reforça Marino.


Boi Bumbá

Na medida do possível, trabalha-se, porém, com os ícones presentes nas
culturas de diferentes áreas geográficas. É o caso do boi, que aparece
no folclore nacional, de Norte a Sul. No modelo pedagógico do Genius,
transformado em personagem lúdico, o animal percorre as salas de aula
em todas as disciplinas e, nos vários estados brasileiros, “ensina”
idiomas, Matemática, Ciências, História e até Educação Física. Nas
escolas de Manaus, por exemplo, a “malhação” é ao som do “Boi Bumbá”,
dança que se repete, com o mesmo nome, no Pará, onde também é conhecida
como “Boi de Máscara”. No Maranhão, ela recebe o nome de “Bumba meu
Boi” e, em Santa Catarina, chama-se “Boi de Mamão”.
 
O sucesso do Genius também premia a decisão estratégica, tomada há dois
anos, de enfrentar aquela que seria a mais dura batalha nessa guerra:
capacitar os professores da rede de ensino fundamental, preparando-os
para lidar com a tecnologia e transmitir a experiência aos alunos. A
tática do Genius foi instituir o Curso Normal Superior por meio do
Sistema de Ensino Presencial Mediano (telepresenciais). “No final do
ano passado, os educadores graduados já eram mais de 7,6 mil”,
orgulha-se Silva.

O Genius Instituto de Tecnologia surgiu por iniciativa de empresários
de Manaus (AM). Hoje, nele estão engajadas, além de instituições
internacionais da Europa, a Seduc, a Cetam a Suframa e o CT-PIM (Centro
de Ciência, Tecnologia e Inovação do Pólo Industrial de Manaus). Seu
trabalho apóia-se em dois pilares: geração de aplicativos e
desenvolvimento de terminais de acesso cujo baixo custo de fabricação
torne viável o uso massificado.

O próximo passo do Genius é transferir know how para a
Seduc, que poderá desenvolver, ela própria, os conteúdos interativos,
conforme as grades do Curso Normal Superior. Assim, argumenta Silva,
muito mais facilmente o Genius pretende combater a deficiência dos
laboratórios nas escolas públicas. A estratégia é oferecer 
ambientes virtuais de aprendizado, em qualquer área de conhecimento –
idiomas, matemática, física, química etc.

Soluções multiuso

Na área do software, o Genius Instituto de Tecnologia
favoreceu a geração de produtos nobres. Eles vão da gestão escolar aos
sistemas que promovem a disseminação do conhecimento em rede, mediante
suporte a quatro serviços interativos. O aplicativo Alfabetização
Digital, com recursos visuais, leva os conteúdos culturais às
comunidades via internet. “Trata-se de arma poderosa no combate ao
analfabetismo digital de alunos, professores e usuários em geral”,
garante o gerente do projetos do instituto, Agnaldo Silva.

O Comunidade Cidadã liga populações antes isoladas aos órgãos públicos.
A Seduc é um deles. Por intermédio do sistema, as pessoas podem ter
acesso à informação e discutir questões socialmente relevantes para a
região. O software
de apoio a projetos de EAD (Educação a Distância) utiliza roteiros
pedagógicos interativos para agregar conteúdos complementares aos
acervos de vídeos digitalizados. TV Escola e Telecurso estão na lista.
E o aplicativo Gestão Escolar garante a comunicação entre a Seduc e as
escolas mais distantes da região, eliminando os gargalos logísticos,
que atrasam providências administrativas essenciais e urgentes. “Fora
as aplicações educacionais, a infra-estrutura da TV Digital suporta uma
série de serviços interativos. Por exemplo, governo eletrônico,
tele-educação, telemedicina e comércio eletrônico, entre outros”, diz
Silva.