Boas idéias e fáceis de usar

O 1º Fórum da Rede de Tecnologia Social (RTS), em Salvador, discutiu projetos de fácil disseminação e capazes de gerar transformação social.


O 1º Fórum da Rede de Tecnologia
Social (RTS), em Salvador, discutiu projetos de fácil disseminação e
capazes de gerar transformação social.
Rosane de Souza


Projeto "Cidades Sem Fome/Hortas Comunitárias" – Horta A. E. Carvalho

Tudo parecia conspirar contra o 1º Fórum da Rede de Tecnologia Social
(RTS), rea­lizado em Salvador (BA), no início de dezembro, até mesmo os
céus do Brasil. Muitos participantes não conseguiram decolar na crise
que se abateu sobre o espaço aéreo brasileiro, no final do ano. Apesar
disso, pelo menos 200 das 444 entidades associadas à RTS se reuniram no
Centro de Convenções da Bahia, para discutir projetos que estão mudando
a vida de milhares de brasileiros em regiões tão diferentes como o
semi-árido, a floresta amazônica e a periferia da maior capital
brasileira.

Por tecnologia social compreende-se os produtos, técnicas ou
metodologias reaplicáveis, desenvolvidas na interação com a comunidade
e que representam efetivas soluções de transformação social. Em geral,
são de baixo custo e facilmente replicáveis. Essa é a saída em que cada
vez mais instituições — governo, iniciativa privada, terceiro setor e
universidades , segmentos que integram a RTS — estão apostando para
aliar garantia de emprego e renda e desenvolvimento sustentável. De
acordo com a secretária-executiva da RTS, Larissa Barros, foram
investidos R$ 43 milhões em reaplicação e difusão de tecnologias
sociais, no biênio 2005/2006 — por entidades e empresas como Petrobras,
Fundação Banco do Brasil, Sebrae, Caixa Econômica Federal, Finep, entre
outros, além de diversos ministérios. Além dos R$ 3,7 milhões
destinados ao custeio da própria RTS. Os objetivos da Rede são
monitorar, fomentar o desenvolvimento e a replicação de tecnologias
sociais, além de apoiar a criação de políticas públicas nessa área.

Exemplo de tecnologia social pode ser uma horta comunitária. Em São
Paulo, o projeto Cidades sem Fome, de horta comunitária em terrenos
abandonados, na área pobre da zona leste da capital, muda hábitos
alimentares e cria trabalho e renda para 665 pessoas. A iniciativa
recuperou de tal forma áreas antes degradadas, que foi firmada parceria
com a prefeitura para transformar o aterro sanitário em uma grande área
de produção de alimentos. Na Bahia, a Cooperativa de Tecnologias
Livres, Colibre, mostrou, na V Expo Brasil Desenvolvimento Local,
evento paralelo ao fórum, que, com base na economia solidária e no uso
de tecnologias livres, muita gente pode se manter financeiramente e
ainda capacitar outros para a prestação de serviços.


Leandro Nunes dos Santos, um jovem de 23 anos, formado em Ciência da
Computação pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), não só contou
como tornou um sonho realidade — a cooperativa já reúne 22 pessoas de
22 a 34 anos —, como distribuiu o Cordel do Software Livre, para provar
que é fácil popularizar os computadores e a internet entre pessoas que
jamais chegaram perto de um deles. Depois de um ano de sua fundação, a
Colibre já presta serviços de instalação de redes, segurança,
capacitação, migração e desenvolvimento de novas soluções, trabalhando
exclusivamente com software livre, e com uma equipe de desenvolvedores de software, webdesigners e gestores com vasta experiência na área.

Na verdade, o I Fórum de Tecnologia Social mostrou que tudo é possível,
como resgatar cidades da decadência econômica e recuperar raízes, por
meio de canais de expressão próprios de seus moradores. É o caso de São
Gonçalo, no estado do Rio de Janeiro, onde a ONG Núcleo Barreto dá voz
a comunidade por meio da Rádio Comunitária NB FM 105.9 MHz.

“Esse também é um conhecimento de resistência”, reconheceu Sônia
Kruppa, professora da Universidade de São Paulo (USP) que ajudou a
articular a Secretaria Nacional de Economia Solidária, vinculada ao
Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Ao avaliar os quase três anos
de construção da RTS, a professora da USP diz que a Rede precisa ir
além da inclusão social e buscar também sua emancipação. Na opinião do
pesquisador da Unicamp, Renato Dagnino, já passa da hora de as
políticas públicas assumirem as tecnologias sociais como a saída viável
para garantir emprego e renda à população excluída, numa perspectiva de
crescimento sustentável.

“O governo brasileiro destina 90% dos recursos da área de Ciência e
Tecnologia às chamadas tecnologias convencionais, que poupam trabalho
humano mais do que seria conveniente, em nome do lucro. No entanto,
nada menos que 50% da população ativa do país está inserida na economia
informal. As pessoas que querem uma sociedade melhor já perceberam que
isso não poderá ocorrer sem políticas de inclusão social. O desafio é
torná-las viáveis”, salientou. Por isso, Dagnino defende a inserção das
políticas de inclusão nas políticas de Ciência e Tecnologia.

Nesse sentido, o pró-reitor de extensão da Universidade Federal do
Recôncavo Bahiano (FRB), Aelson Almeida, destacou a criação da
Secretaria de Ciência e Tecnologia para a Inclusão Social (Secis), na
estrutura do MCT. “Trata-se de um desafio novo, pois, do ponto de vista
das tecnologias alternativas, o órgão tem perfil conservador, voltado
para a Academia e intelectuais”, afirma, em entrevista publicada no site
da RTS. E ele também espera mais do governo. “Ainda não existe uma
política pública para tecnologias sociais no Brasil”, avalia.

Além da atuação da Abong na organização do Fórum, o evento teve
patrocínio da CEF, da Fundação Banco do Brasil, dos Ministérios do
Desenvolvimento Social e da Integração Nacional, e de apoio do MCT, da
Finep, Petrobras, Instituto Ethos, Articulação do Semi-Árido
Brasileiro, Rede GTA, IICA e Forproex. O site da RTS traz descrição de
várias tecnologias sociais disponíveis nas áreas priorizadas no último
biênio, como  manejo de açaizais, camarão de água doce, barragens
subterrâneas, meliponicultura (cultivo de abelhas sem ferrão para
produção de mel), cabrito ecológico da caatinga, entre outros. Também
tem cartilhas, notícias, links recomendados e outras informações na base de dados.

(…)

“Assim se eu uso um programa


Que me é interessante


Posso copiar pra você


Eles deixam, não se espante!


Eu posso modificar


E você, se desejar.


Podemos passar adiante




Pra nossa felicidade,


Há tanto programa assim


Que nem dá pra ver direito


Onde é o começo e o fim


Da lista de Softwares Livres


E há muita gente que vive


Com Software Livre sim




É Firefox, é Linux


É OpenOffice, é Apache


Pra programação, pra rede


Pra o que se procure, ache


Pra desenho, escritório


Para jogos, relatório


Pro que for, há um que se encaixe


(…)


Se você quer saber mais


Disso tudo que hoje eu teço


Procure na Internet


Veja agora uns endereços


softwarelivre.org


br-linux.org


E a atenção agradeço.




in Cordel do Software Livre,


de Cárlisson Galdino.

www.rts.org.br – Rede de Tecnologia Social

www.colibre.com.br

http://twiki.im.ufba.br/bin/view/PSL/CordelSL —  Para ler a íntegra e saber mais sobre o Cordel do Software Livre

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