cultura

Paraty vira palco para o digital

Evento abriu calendário de debates sobre cultura,
comunicação, informação e tecnologia.
Patrícia Cornils


ARede nº 81 – junho de 2012

QUASE DUAS horas de oficina, sem computadores ou internet. Reunidos na Virada Digital, realizada de 11 a 13 de maio em Paraty (RJ), cerca de 30 pessoas, jovens e adultos, conversaram sobre o que é e quem faz as leis e seus direitos e deveres. Juntos, escolheram duas propostas para apresentar à Câmara Municipal da cidade como Projeto de Lei de Iniciativa Popular: a do acesso gratuito à internet para toda a população, oferecido pela prefeitura, e a da universalização do saneamento básico.

Na oficina “Como fazer uma lei”, não importava se o documento seria redigido ou apresentado. O que valia era o exercício de pensar e discutir um tema restrito ao mundo do direito. E pensar e discutir é o objetivo da Virada Digital. “Queremos realizar o debate sobre inovação, interatividade e desenvolvimento sustentável em eventos gratuitos, que envolvam a população”, resume Roberto Andrade, diretor executivo do festival.

Paraty foi a primeira de uma série de cidades que vão receber o evento. Até maio de 2013, a Virada Digital será realizada em nove locais. Em novembro, em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, simultaneamente e em rede. Em maio de 2013, vai acontecer em 22 pontos da cidade do Rio de Janeiro. E, em 2014, um mês antes da Copa, nas 12 cidades que vão sediar o campeonato, também interconectadas durante o evento.

A ideia era fazer essa conexão com eventos simultâneos em outras cidades já no encontro de Paraty. Mas o Brasil ainda não é exatamente um país digital. A prefeitura da cidade sequer tem um site e há apenas três provedores de acesso na cidade: o Paraty Online e a Paraty Web, que compram conexão da Oi; e a própria Oi, que presta o serviço Velox, tudo em velocidades insuficientes para suportar transmissões de vídeo. A Embratel, uma das patrocinadoras do evento, estendeu uma conexão em fibra óptica para Paraty, que vai permanecer lá e oferecer serviços à população.

“Uma virada digital tem que ser uma virada mesmo, no sentido de discutir, para além do acesso, os direitos à comunicação, informação, conhecimento, a necessidade de infraestrutura de comunicação em qualquer cidade”, comentou Franklin Martins, secretário de Ciência e Tecnologia da cidade do Rio de Janeiro. A Virada, que tem apoio institucional da prefeitura carioca, do governo do estado do Rio e do Ministério das Comunicações, foi financiada por recursos captados por meio da Lei Rouanet. Abrigou painéis sobre ambiente, cultura digital, desenvolvimento de soluções móveis para uso social, oficinas de vídeo, impressão em 3D,  exposição de artes digitais. O Ônibus Hacker, da comunidade Transparência Hacker, participou com oficinas de lambe lambe, rádio livre e TV livre. Os campeões de público, no entanto, foram o rapper MV Bill, que fez um show e promoveu uma oficina de rima; e a Lan Party, um ponto de acesso gratuito à internet pelo qual passaram 860 crianças e 180 professores da rede pública.

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