A infovia do Rio tem cada dia mais municípios conectados. Devagar, outros estados procuram seus caminhos. Anamárcia Vainsencher
Alunos são protagonistas da
produção digital
O estado do Rio de Janeiro está cada vez mais digital. No corredor do
Vale do Café, além de Piraí e Rio das Flores, tiveram redes sem-fio
recentemente implantadas um distrito do município de Resende (Visconde
de Mauá) e um de Valença (Conservatória). Em cerca de dois meses, será
a vez de Rio Claro. Por ora, todas essas são localidades de pequeno
porte. Mas, segundo o Proderj — Centro de Tecnologia da Informação e
Comunicação do Estado do Rio de Janeiro, estão sendo avaliadas opções
para municípios de maior porte, como Nova Iguaçu, por exemplo. Em
outras unidades da Federação, há projetos em diferentes estágios, ou
que simplesmente não conseguiram sair do papel. (veja o quadro).
Nem todos os projetos têm as mesmas características. Com apenas uma
semana de diferença entre as inaugurações, em maio, os modelos de Mauá
e de Conservatória não guardam qualquer semelhança entre si. Além de
fornecedores distintos — respectivamente Alcatel-Lucent e Cisco — o
tipo de rede sem-fio é diverso, o tempo de implantação diferente, o
envolvimento da comunidade local, idem. Em Mauá, os equipamentos da
rede Wi-Fi foram instalados em menos de um mês: rádios; telefones Wi-Fi
e IP; câmaras para monitoramento, etc. O objetivo da vila é ter
comunicação de voz analógica e sobre IP (incluse sem-fio); comunicação
de dados e internet; vídeo-conferência, para educação a distância;
vídeo-monitoramento para divulgar imagens em tempo real no seu portal.
Com direito a banda e discursos, a fita do projeto de Mauá foi cortada
em 19 de maio, durante o festival gastronômico. Sem treinamento prévio,
uma dezena de computadores doados pelo programa ProInfo, do Ministério
da Educação, foi instalada no Colégio Estadual Fábio Rangel. Na Escola
Municipal Visconde de Mauá, uma semana depois da festa, a diretoria
informava que os computadores tinham sido prometidos, mas ainda não
estavam lá. A idéia é expandir a rede para a vizinha localidade de
Maringá e demais povoados turísticos das proximidades, na serra da
Mantiqueira.
Enquanto o governo do Rio de Janeiro vê se consegue financiamento do
BNDES – Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social para levar
Um Computador por Aluno (UCA) aos 6 mil estudantes das 20 escolas de
Piraí, e 500 micros para os professores, dia 23 de maio, Conservatória,
Capital Mundial da Seresta, inaugurou uma rede Mesh, ao som de
chorinho. Coordenada pela equipe Piraí Digital, a iniciativa foi o
piloto inicial do projeto Município Digital em Valença. Desde então,
está no ar a rede Cisco padrão Wireless Mesh, tecnologia que faz
interconexão sem-fio entre antenas, e interliga pontos separados por
barreiras geográficas, o que amplia a área de cobertura. A rede de
transmissão de voz, dados e imagem contou, ainda, com parceria da
Associação de Prefeituras do Estado do Rio de Janeiro, Metasys,
Vertotech, governo estadual (via Proderj, Faperj — Fundação de Amparo à
Pesquisa, e da Secretaria de Educação).
Música, maestro!
A infra-estrutura wireless interliga todos prédios públicos,
duas escolas, Casa da Cultura, hospital, rodoviária e os principais
hotéis e pousadas, além de permitir a construção de laboratórios
públicos de inclusão digital. A sustentabilidade de Conservatória
Digital será assegurada pela prestação do Serviço Limitado Privado, a
ser fornecido por empresa contratada pela Casa de Cultura. Certamente,
esse serviço é de interesse da rede turístico-hoteleira e do comércio
local, que poderá testá-lo, gratuitamente, durante os três primeiros
meses de funcionamento da rede. Depois, parte da remuneração se
destinará a um fundo administrado pela Casa da Cultura.
Contando a história pela
música
A equipe Piraí Digital não abre mão de trabalhar apoiada no
desenvolvimento local, diz o coordenador Franklin Coelho. E tudo começa
pela mobilização da comunidade local. Conservatória não foi exceção:
seus seresteiros e violeiros deram o tom do projeto, tocado em estreita
colaboração com a Casa da Cultura, encarregada da gestão. A
sensibilização da comunidade teve início em maio de 2006. O site, conta
Franklin, foi feito por um funcionário da Pousada Acalanto; o gestor
trabalhava no hotel Martinez. Ambos começaram a participar como
voluntários. A divulgação ficou sob a batuta de Piauí, da Rádio
Comunitária. Mais: o Música Popular nas Escolas, projeto de Ricardo
Cravo Albim, deve ser incorporado em Conservatória, assim como em Piraí
e Rio das Flores. É a história contada pela música: a formação da MPB;
o choro carioca e sua sedução; o samba dos bambas; a música regional e
a diversidade do Brasil; a bossa nova no Brasil e no mundo; a febre dos
festivais.
Sem ter medo de reconhecer que a informatização é “uma oportunidade
ameaçadora”, os professores de Conservatória foram capacitados em software livre, ferramentas interativas, wikis. Para os seresteiros, software
Metasys de pautas musicais. A expectativa é de que a inclusão digital
de Conservatória contribua para a modernização da gestão pública e para
o desenvolvimento econômico e social do distrito, alavancando a
consolidação de um Arranjo Produtivo Local (APL) de Entretenimento, que
deve ser implementado em 2009. A idéia inicial é transmitir as
tradicionais serestas pela internet, disseminar o patrimônio cultural e
aumentar o fluxo turístico do distrito, cuja principal atividade
econômica é o turismo cultural.
O Proderj (Centro de Tecnologia da Informação e Comunicação do Estado
do Rio de Janeiro) não tem do que reclamar. Em cerca de dois meses,
Parati, cidade que pleiteia se tornar patrimônio da humanidade,
portanto, não pode ser cabeada, deve ganhar uma rede sem-fio, informa
Tereza Porto, presidente da autarquia. Desta feita, com a fabricante de
antenas NextWave. À Proderj, caberá a infra-estrutura de rede. A
empresa e a NextWave já saíram em campo para levantamento de locais
para instalação das antenas e estão em processo de definição de
tecnologia wireless.
E, no Corredor Histórico do Vale do Café, a próxima localidade será Rio
Claro. No começo de junho, o Proderj estava em conversas iniciais com a
Motorola, que poderia fornecer os equipamentos sem-fio para o piloto.
Em São Paulo, a cidade de São Carlos (SP) está às vésperas do pregão
eletrônico para comprar R$ 1 milhão em equipamentos destinados à
implementação de uma rede em 5,8 GHz, com 160 pontos, segundo
relata Ronaldo César Serafini Abrão, diretor de TI da prefeitura. Na
primeira etapa, diz, serão interligadas as unidades da administração
municipal. Num segundo momento, virá o “acesso popular”. Ainda no
segundo semestre, acrescenta Abrão, a cidade terá comunicação VoIP.
Em Minas Gerais, contudo, Bruno Soares Henriques, do Inatel Competence
Center (ICC), lamenta o, até o momento, incerto desfecho do projeto
Santa Rita Digital, de Santa Rita do Sapucaí. O município tem alta
concentração de empresas de alta tecnologia, mas o projeto esbarrou na
falta de recursos. O ICC, explica Bruno, é a empresa do Inatel que
provê serviços de treinamento, consultoria, desenvolvimento de software e hardware,
e fez o esboço do projeto com a prefeitura. “Começamos o levantamento
de dados, mas, há dois meses, paramos por falta de recursos,” diz ele.
O currículo do ICC inclui o desenvolvimento de modulação inovadora para
o Sistema Brasileiro de TV Digital (que não será incorporado).