Modelos novos na música

Na Bahia, em São Paulo e no Distrito Federal, tentativas de inventar novos canais de distribuição ou de remuneração dos artistas.



Na Bahia, em São Paulo e no Distrito Federal, tentativas de inventar
novos canais de distribuição ou de remuneração dos artistas.


Eletrocooperativa: este ano, 20 CDs de artistas independentes.

Quem assistiu ao filme “O Milagre do Candeal”, do espanhol Fernando
Trueba, que conta a história do encontro do músico cubano Bebo Valdés
com o baiano Carlinhos Brown, pôde vislumbrar um pouco os contornos da
cultura libertária que vem sendo gerada no Brasil, nos diversos Pontos
de Cultura equipados pelo MinC. Muitos dos que tocam o cotidiano desses
espaços mantêm em comum o gosto pela criação espontânea, livre e,
sobretudo, compartilhada, sem que ninguém precise pagar nada por isso —
em alguns casos, é obrigatório citar o autor. O Cineclube Rede Terreiro
Central é um desses pontos. Ele fica na pequena cidade histórica de
Cachoeira, na Bahia, onde tudo de vanguarda acontecia no século XIX,
inclusive uma batalha vitoriosa contra os colonizadores portugueses
liderada pela baiana Maria Quitéria de Jesus Medeiros, às margens do
Rio Paraguaçu.

O Terreiro Cultural atende a cem jovens de diversos grupos musicais,
todos  com formação na Filarmônica Lira Ceciliana. A mistura de
sons produzidos na casa resultou em CDs com a trilha sonora para os
vídeos, e em uma coletânea que inclui música clássica, pop rock e
percussão. “Agora, estamos em fase de construção de uma sala e de
aquisição de equipamentos para suporte de gravação acústica dos CDs,
que terão o selo Terreiro Cultural, e serão vendidos em feiras e
concertos”, assinala o coordenador Luiz Cachoeira.

O Ponto de Cultura recebe ajuda pontual do MinC, mas sobrevive dos
recursos doados pelos músicos ou aportados via emendas parlamentares, e
do Fundo Nacional de Cultura. Outra maneira é produzindo para
terceiros, de forma remunerada, por exemplo trilha sonora para cinema –
caso do próprio “Milagre do Candeal”.


Invenção Brasileira, em Taguatinga

O projeto funciona na rua Irineu Sacramento, maestro que ficou mais
conhecido como Flauta de Veludo. Lá, os criadores da ONG 13 de Maio
montaram uma plataforma digital, que inclui telecentro com software
livre, estúdio de gravação de CD, ilha de edição, oficinas de música e
de audiovisual, artesanato, além de sala de exibição para 50 pessoas e
uma arena ao ar livre, onde cabem mais 200. Uma das oficinas resultou
no grupo de arte barroca Gegê Nagô, fruto do trabalho de um dos autores
da trilha sonora premiada do filme espanhol, o músico e consultor do
Terreiro Central, Mateus Aleluia.

O projeto do Ponto de Cultura Invenção Brasileira, em Taguatinga (DF),
também é articulado para irradiar conhecimento livre — e atende 50
pessoas nas suas oficinas. Eles acabaram de produzir um vídeo sobre o
programa Escola Viva. O Invenção Brasileira abriga biblioteca,
videoteca e cineclube, um estúdio de vídeo e áudio (onde prensam CDs e
produzem as capas), e um espaço interno para discussões dos grupos.

O local é aberto ao público. No fim de setembro, eles lançam o primeiro
CD comercial, mas a maioria é feita mesmo para distribuição em Pontos
de Cultura, escolas e universidades, festas e feiras de economia
solidária, disponíveis também no portal Estúdio Livre. “Desde que não
tenha fins lucrativos, qualquer um pode usar, alterar, e interagir com
outras criações, mantendo a atribuição do autor”, explica Chico Simões,
coordenador. As formas de sustentação da casa são as mais variadas,
inclusive a contribuição de 10% cobrada pelos shows e espetáculos de 12
músicos profissionais.


“Pós-Creative Commons”


PdC Terreiro Cultural, em
Cachoeira, na Bahia

A Eletrocooperativa, instalada em Salvador e na capital paulista, reúne
700 jovens de 15 a 28 anos, para a produção de trilhas, ringtones,
jingles, chamadas telefônicas e vídeos. Mantém o olhar voltado para o
mercado, para as carteiras assinadas, experiência profissional e
fomentação cultural. Este ano, a Eletrocooperativa vai produzir 20 CDs
de artistas independentes. Em Salvador, estão sendo finalizados quatro
álbuns de diferentes bandas, cujos CDs são vendidos nas ruas a R$ 5,00.

Agora, eles semeam em São Paulo o projeto Música Crua, que visa gravar
em um só take, sem overdubs (técnica para adicionar novos sons a
gravações). Em outubro, inauguram na capital paulista o projeto Bairro
Musical: os artistas vão se apresentar em palcos de ruas nos bairros de
Jaçanã e da Vila Madalena. Os shows serão gravados e publicados no
portal da ONG, que, em breve, ganha sua versão 2.0, dentro de uma visão
que o coordenador Reinaldo Pamponet denomina de”pós-Creative Commons”.

“A Creative Commons se afastou muito dos artistas, e não agrega valor
econômico às atividades. Não fizemos um show ou vendemos um CD a mais
[por causa da CC]”, diz. Ele ainda não tem claro quais devem ser as
características das novas licenças — “um tema a se discutir” —, mas
observa que elas devem garantir, na distribuição, uma forma de
remunerar os artistas. Para Reinaldo, é “imperativo pensar em uma nova
lógica do direito autoral no país, e uma solução que gere valor
econômico à cultura”.

O ambiente de divulgação dos trabalhos é na plataforma livre Xoops. Mas
a produção é mista, com ênfase em softwares proprietários. “A
experiência com o Linux não funcionou bem”, compara Reinaldo. Cada
jovem recebe R$ 500,00 mensais, mas R$ 120,00 vão para uma poupança
coletiva. Somente depois de dois anos, o dinheiro do fundo pode será
ser retirado, e sua destinação, decidida por todos.


www.invencaobrasileira.com.br

usina@eletrocooperativa.org

Cineclube Rede Terreiro Central: 75 3425.1166