Processadores e discos rígidos foram usados pela eCommunita, empresa nascida do MetaReciclagem, para produzir as peças.
Os nove troféus entregues aos vencedores do Prêmio ARede 2007 foram criados a partir da reciclagem de partes e peças de computadores, pela empresa eCommunita, em parceria com a Basile Comunicação. A eCommunita desenvolve tecnologia social, oficinas e trabalhos de artes. Surgiu do movimento MetaReciclagem, que reúne, em várias partes do país, pessoas envolvidas em ações de apropriação tecnológica para fins de transformação social.
“Pensamos na idéia do prêmio, em inteligência coletiva, em troca de informações, e chegamos ao HD [disco rígido], que, além de ser bonito, envolve esses conceitos, e também ao processador, onde toda a informação circula e que é a base do troféu”, explica Glauco Paiva, artista plástico, integrante da eCommunita e metarrecicleiro. Para cada troféu do Prêmio ARede 2007, foram usados seis discos. “Porque cada disco só tem duas rodinhas. O melhor disco para isso é um da Samsung, não injetado no plástico da caixinha do HD, mas aparafusado, de modo que consigo tirá-lo sem usar máquinas.” A produção foi feita em parceria com Luís Basile, da Basile Comunicação: “Foi importante envolver uma organização que atua de alguma forma dentro do espírito do prêmio, de promover inclusão digital e apropriação tecnológica. Também trabalhar com material alternativo foi um desafio. Em geral, partimos para soluções prontas . Fazer uma coisa bonita com materiais que iam para o lixo é bem bacana”, diz Basile.
A sede da eCommunita, com uma equipe de 15 participantes, está em Santo André (SP). Seus projetos acontecem em parceria com as prefeituras de Sorocaba, Jacareí e Osasco (SP); a Rede Sesc; o Instituto Pensarte e o Governo de São Paulo. Em oficinas diretas, atendem, no total, a cerca de 200 pessoas por mês. A maioria dos projetos inclui as oficinas de metarreciclagem e o desenvolvimento de sites colaborativos com o software Drupal. Aliás, a equipe só trabalha com software livre. No Sesc, também participam de projetos de arte e experimentais, construção de robôs com sucatas, experiências multimídia com aplicativos livres.
Entre outubro e dezembro, a eCommunita está na mostra Recortar e Colar (ctrl C + ctrl V), comemorativa dos 25 anos do Sesc Pompéia. O evento reúne 70 artistas que trabalham com diferentes suportes (vídeo, escultura, música, etc.), com base nos conceitos de colagem e recriação. Também com o Sesc, Glauco, pós-graduado em Educação, costuma participar do Café Pedagógico, série de debates com professores.
O movimento MetaReciclagem — que busca formas de dominar as tecnologias para usos sociais, de forma livre e replicável — começou a se articular como uma ação em rede em 2002. Hoje, são cerca de 350 inscritos na sua lista de discussão e diferentes grupos (os esporos) desenvolvendo trabalhos em outros estados: Bahia, Brasília, Rio Grande do Sul, etc. Além do recondicionamento de computadores, pesquisam a montagem de outros metaprodutos: bijuterias com sucata (brincos com peças dos computadores), bolsas de teclados ou disquetes velhos, pranchetas e agendas com capas metálicas, luminárias com componentes eletrônicos.
O que se faz, vende. “Vende na esquina, na faculdade, para os amigos”. O problema, diz Glauco, é que o grupo não tem sucata bastante para ter escala comercial. “Não consigo montar uma cooperativa. Era preciso articular esse povo ou ter um canal para venda online”.