Para adultos com baixa escolaridade

Telecentros terão interfaces capazes de serem manuseadas por quem tem deficiência de letramento. As aplicações cobrem previdência e saúde.


Telecentros terão interfaces
capazes de serem manuseadas por quem tem deficiência de letramento. As
aplicações cobrem previdência e saúde.

Não só a taxa de analfabetismo no Brasil ainda é alta, de 10,4% de
acordo com dados do IBGE relativos a 2006, embora venha se reduzindo
paulatinamente nos últimos anos, como é extremamente elevado o número
de analfabetos funcionais, que define as pessoas com menos de quatro
anos de estudo e dificuldade de ler e escrever plenamente. Entre
analfabetos plenos e funcionais, a taxa salta para 37%. Assim, qualquer
programa de inclusão digital de massa tende a enfrentar barreiras
insuperáveis. Por isso é preciso desenvolver interfaces capazes de
serem entendidas e manuseadas pelo cidadão com deficiência de
letramento.

Que interfaces são essas? Como deve ser montado um programa de inclusão
digital para cidadãos com baixo nível de escolaridade? Como motivá-lo a
usar serviços na internet, sem que desanime ao primeiro obstáculo? Para
responder a essas perguntas, a Fundação CPqD está desenvolvendo um
programa de telecentros voltados para esse público, dentro do projeto
Soluções de Telecomunicações para a Inclusão Digital, que conta com
apoio do Fundo para o Desenvolvimento Tecnológico das Telecomunicações
(Funttel).

O primeiro passo foi definir o público-alvo e aplicações de serviços
públicos que fossem de grande relevância para sua vida. A escolha
recaiu sobre os trabalhadores rurais e urbanos de baixa escolaridade ou
analfabetos; e os programas eleitos cobrem duas áreas: previdência
social (como pedir aposentadoria e acompanhar o pedido pela web) e
saúde pública (marcação de consultas online).
Dos municípios que atendiam o perfil da amostra, foram selecionados
Bastos (SP) e Santo Antônio da Posse (SP), ambos com 20 mil habitantes
e forte atividade rural, e cujas prefeituras aceitaram integrar o
programa e firmar convênio para o seu desenvolvimento. “Estamos prestes
a iniciar o piloto”, conta Giovanni Moura de Holanda, gerente de
planejamento e soluções, da diretoria de inclusão e TV digital.

Cada uma das cidades vai ganhar um telecentro, para atendimento ao
público-alvo. E, nos postos de saúde da família, será instalado um
servidor, com o programa para marcação de consulta e com informações
básicas sobre saúde. Embora a aplicação da previdência social possa ser
instalada em qualquer ponto de acesso público, a de saúde pública
depende da participação da secretaria de saúde municipal. “Daí a
importância do envolvimento da prefeitura e da comunidade”, diz
Giovanni. Segundo ele, a aplicação de previdência social foi escolhida
pelo fato de 4 mil municípios brasileiros não terem postos do INSS. E a
de saúde pública, pela dificuldade de os trabalhadores, especialmente
rurais, marcarem consultas, pois, quando voltam do trabalho, as
unidades já estão fechadas.

Para desenvolver as aplicações, que agora serão testadas, o CPqD 
trabalha com profissionais da Unesp e da USP, na modelagem de
interfaces de maior facilidade de compreensão e interação por quem tem
baixo letramento digital. O trabalho contou, ainda, com o suporte de
uma pesquisa sobre o uso que a população faz de telecentros de acesso
gratuito (veja o quadro). O teste de campo será de um ano, e um dos
principais desafios é avaliar a experiência para que seja replicada e
oriente políticas públicas de inclusão digital.

Público-alvo

O CPqD, em 2007, fez 936 entrevistas (50% usuários de telecentros, 50%,
não) em três municípios — dois no Sudeste e um no Nordeste —, com
telecentro em funcionamento há pelo menos dois anos. Confira:

• 2,5% de pessoas acima de 45 anos usam telecentros.

• 5% das pessoas que não completaram o nível básico são usuários dos telecentros. Não há usuários analfabetos no telecentro.

• Para 34% dos não-usuários do telecentro, a internet tem pouca ou nenhuma importância na sua vida.

• O tempo médio de permanência no telecentro é de 30 minutos a 1 hora.

• Dentre os não-usuários do telecentro, 80% não tinham conhecimento de sua existência.

• 40% dos usuários declararam que o principal motivo para começarem a frequentar o telecentro é o fato de ele ser gratuito.