Na saúde e no setor de bancos, crescem as possibilidades de serviços móveis. Porém, faltam padronização e segurança.
ARede nº41 Outubro de 2008 – A entrada da Oi no mercado de cartões de crédito, com o Oi Paggo, representa um passo rumo ao futuro das comunicações sem-fio, traçado durante o 3º Wireless Mundi, promovido pela Momento Editorial no mês de setembro, em São Paulo. O serviço da Oi permite fazer compra por celular, com pagamento na conta telefônica, sem taxas de administração. Mais de 40 mil lojas e 800 mil usuários já estão cadastrados. “Além do baixo custo, o usuário considera o pagamento seguro, pois é como ter um cartão de crédito chipado, dentro do celular”, destacou Roberto Rittes, diretor do Oi Paggo.
No setor bancário, o custo do serviço pode ser um entrave. Carlos Eduardo Correa da Fonseca, diretor da Febraban, disse que uma transação bancária via celular tem um custo médio de R$ 1,40. “Se o cliente for pagar uma conta de R$ 10,00 pelo celular, significa 14% de taxa”, alertou. Outros desafios a serem superados são padronização, simplicidade e segurança. Para Carlos Iures Pena, gerente de TI da diretoria de Tecnologia do Banco do Brasil, a falta de cultura do uso e a baixa qualidade dos serviços das operadoras dificultam a expansão dos serviços wireless.
David Carvalho, diretor da Supportcomm, alertou: “As partes envolvidas — operadoras, bancos, lojistas — precisam discutir como será o atendimento e, principalmente, quem será responsável pelo cliente”. Também para Wagner Simão, da divisão de serviços financeiros da Accenture, a grande questão é como dividir receitas e responsabilidades entre os players. Nelson Wortsman, da Brasscom (Associação Brasileira de Empresas de TIC), acredita que o Brasil tem as condições necessárias para transformar o serviço de mobile banking em mais um caso de sucesso, a exemplo das eleições e do Imposto de Renda pela internet.
Aplicações na saúde
Embora as perspectivas sejam promissoras, na área de saúde as experiências wireless no Brasil ainda se limitam a comunicação via torpedos (um exemplo é a iniciativa da Vivo do uso do SMS no apoio de campanhas de vacinação e de doação de sangue). No cenário internacional, mostrado por Norberto Alves Ferreira, gerente de serviços e aplicações multimídia do CpqD, existem aplicações de diferentes tipos de tecnologias, como Wi-MAX, WLAN, NFC. Em um hospital na Dinamarca, por exemplo, foi implantada uma rede WLAN com doze servidores, bluethoot, câmeras nas salas de cirurgia. Os médicos receberam celulares com chip RFID (identificação por radiofreqüência) e foram instalados três grandes displays em salas reservadas, para monitorar os deslocamentos da equipe e o andamento das cirurgias. Paulo Breviglieri, diretor de Desenvolvimento de Negócios da Qualcomm, citou casos como o uso de sensores acoplados ao organismo do paciente para fazer coleta de informações, que são repassadas a um centro de monitoramento. “As aplicações existem e o papel da indústria agora é integrar as soluções”, destacou o executivo.
Pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde junto aos gestores do Sistema Único de Saúde apurou que a transmissão de dados com o apoio da rede de telefonia celular foi a preferida para gerenciar as informações locais (nos hospitais e postos de saúde), com 76,92% da respostas. Segundo Ezequiel Dias, representante da Datasus, em seguida foram apontadas as informações hospitalares (com 53,85%); o atendimento das farmácias populares (46,15%) e o cadastro da população (30,17%) como as opções mais viáveis para tecnologias sem-fio no sistema de saúde. Outra preocupação, apontada por Fernando Cupertino de Barros, do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), está nas limitações da conectividade.
Apesar de ainda incipientes, as experiências de aplicações na área de saúde começam a surgir no país. Em São Paulo, o recém-inaugurado Instituto do Câncer foi construído para operar com uma estrutura de TI totalmente sem-fio, o que permite que todos os exames com imagem realizados à beira do leito, como utrassonografia, raio X, eletrocardiograma, entre outros, sejam transmitidos para os computadores centrais. O acesso dos médicos aos dados e imagens é feito por um tablet PC WiFi. O dispositivo tem câmera integrada, scanner para código de barras e permite assepsia (limpeza de sangue, por exemplo). No Espírito Santo, o projeto Farmácia Cidadã já atende a 5 mil pessoas cadastradas, com previsão de chegar a 40 mil, segundo Victor Murad Filho, diretor-presidente do Instituto de TIC do Espírito Santo (Prodest). O serviço emite avisos por celular sobre chegada de medicamentos nos postos de distribuição e marcação de consultas.
Recursos para o desenvolvimento de aplicações não faltam, garantiu Margarida Baptista, assessora da presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Além do Prosoft, com orçamento de R$ 1 bilhão neste ano, dos quais R$ 400 milhões já desembolsados, ela lembrou do Procult. Este programa contempla conteúdos digitais e pode ser usado para qualquer mídia, inclusive para o desenvolvimento de conteúdo para celulares. O Procult dispõe em carteira R$ 175 milhões, mas apenas R$ 40 milhões foram desembolsados este ano, praticamente para produtoras de conteúdo audiovisual.