O acesso em banda larga é um meio para melhorar a qualidade de vida dos cidadãos
ARede nº42 novembro 2008 – O município de Tauá, onde vivem 54 mil pessoas, fica na região dos Inhamuns, sertão do Ceará. Nos últimos três anos, em conseqüência da seca, Tauá esteve em situação de emergência nove vezes, mais do que qualquer outro município no Brasil. O ano de 2004 foi especialmente árido, mas também foi quando começou uma iniciativa que tornaria a cidade conhecida nacionalmente. Naquele ano, o Ministério das Comunicações decidiu financiar, com R$ 800 mil, o projeto Cidade Digital, elaborado pela prefeitura. O município entrou com uma contrapartida de R$ 40 mil e, mais as contribuições de outros parceiros, o programa deu a largada em julho de 2006, com um provedor municipal de acesso, um centro de capacitação tecnológica, uma sala de videoconferência e formação a distância, quatro laboratórios escolares e serviços de governo eletrônico no portal da prefeitura.
O que distingue Tauá das cerca de quatro dezenas das cidades digitais existentes no Brasil é o foco. O acesso em banda larga à internet não é a principal finalidade do projeto, mas um meio para melhorar a qualidade de vida dos cidadãos. Com o Cidade Digital, Tauá gerou empregos qualificados, melhorou o atendimento da secretaria da Saúde, atraiu empresas, formou profissionais em tecnologia da informação, abriu vagas para cursos da Universidade Aberta do Brasil, aumentou a auto-estima dos cidadãos. Essa integração bem-sucedida entre acesso à internet e iniciativas de desenvolvimento local foi o motivo pelo qual o Cidade Digital recebeu o Prêmio ARede 2008 na modalidade de Setor Público Municipal.
O problema da prefeitura era atrair para a cidade empresas que não dependessem de uma infra-estrutura não disponível e cuja atividade não fosse influenciada pela adversidade climática. “Nosso melhor recurso é nossa população”, explica Alexciano de Sousa Martins, assessor de tecnologia da informação e comunicação da prefeitura. “A internet foi nosso investimento nesse potencial humano”, explica. O provedor municipal possibilitou a ativação de 462 pontos de acesso à internet, entre residências, prédios da prefeitura e empresas. A prefeitura paga R$ 15 mil mensais por uma conexão de 4 Mbps da Oi e a redistribui, por meio de uma rede wireless, aos usuários da cidade. O acesso custa R$ 40,00 por mês e estes recursos pagam parte dos R$ 25 mil mensais (conexão, recursos humanos, manutenção da infra-estrutura) que o Cidade Digital custa ao poder público.
Pólo de formação
Na sala de videoconferência foram realizados, desde julho de 2006, 362 eventos, principalmente de formação à distância, dos quais participaram 8 mil pessoas. Essa estrutura credenciou o programa Cidade Digital para ser um pólo da Universidade Aberta do Brasil e transformou a cidade em um pólo de formação de professores para toda a região.
No Centro de Capacitação Tecnológica Graci Aguiar, um telecentro, são oferecidos cursos de tecnologia da informação. Entre julho de 2006 e julho de 2008, foram realizados cursos de multiplicadores digitais para 84 servidores públicos municipais; Linux Básico para 848 pessoas e Linux Avançado para 102; Informática para o Trabalho (Windows) para 50 pessoas e Informática para Professores, para 13 pessoas. Com isso, a cidade se tornou um referencial de contratação de mão-de-obra qualificada em diversos segmentos do mercado de informática, como programação web e Java, ou monitores para telecentros escolares. Em 2008, 12 técnicos egressos desses cursos formaram a Associação de Desenvolvimento Tecnológico de Tauá (ADETT), que desenvolve e comercializa softwares de automação comercial e gestão escolar e realiza cursos de TI. O primeiro curso de HTML da ADETT formou 21 pessoas, em agosto. Assim, a primeira geração de profissionais capacitados pelo Cidade Digital está multiplicando seu conhecimento e exercendo um trabalho remunerado.
Também são remunerados os oito profissionais contratados pela Educandus — empresa que produz conteúdo multimídia para o ensino básico e ensino médio e formou, em parceria com a prefeitura, um centro de desenvolvimento de software em Tauá. Em maio de 2008, a Educandus começou a desenvolver um portal multimídia para uso nas escolas e a formar gestores da educação e professores para usá-lo. Os empresários João Valberto e José Valber Cavalcante, engenheiros formados pelo Instituto de Tecnologia da Aeronáutica, são filhos do professor Vilmar Cavalcante, natural de Tauá. Agora, com a estrutura tecnológica e a mão-de-obra formada na cidade, a empresa pode atuar diretamente lá.
Em março de 2007, a internet ganhou as ruas da cidade, com o TauaNet Móvel, para acesso gratuito e sem fio em áreas de grande circulação. Foram instalados quatro quiosques digitais para acesso da população que não tem computador. O serviço TeleSaudade conecta pessoas distantes, por meio de videoconferências, bate-papo pela web ou Skype. No portal da prefeitura, o serviço de governo eletrônico mais usado é o Fala Cidadão, canal direto de comunicação com a gestão municipal. Todos os habitantes têm direito a registrar um endereço de e-mail grátis nesse portal.
Bodefones
A distância geográfica entre a sede do município e seus distritos deixou várias localidades de Tauá fora das obrigações de universalização da telefonia fixa das operadoras locais. A solução proposta pela prefeitura, em conjunto com a empresa Converge TI, é de implantar orelhões ligados à internet por meio da tecnologia de voz sobre IP, que permite ligações locais e interurbanas a preços até 70% abaixo do das tarifas telefônicas comuns. Dois telefones, batizados de Bodefones, estão em fase experimental e o poder público busca financiamento para expandir a rede de comunicação de dados a fim de instalar 30 unidades em localidades distantes. Na área de saúde, todos os 107 agentes comunitários receberam palmtops, para coleta de dados da população.
A cidade será um dos pólos distribuidores do Cinturão Digital, rota de fibra óptica a ser instalada pelo governo do estado nos linhões da Chesf. Com seu projeto de Cidade Digital, Tauá recebeu vários prêmios e projeção nacional, atraiu o interesse de muitos e variados parceiros e deixou de ser apenas a cidade da seca.