É preciso criar mecanismos para garantir a atuação daqueles que são os responsáveis pelo vínculo com a comunidade
ARede nº43 Dezembro de 2010 – As oficinas e a articulação com ascomunidades são fundamentais nos projetos de inclusão Quando foi anunciado, no painel de encerramento da 7 ª Oficina de Inclusão Digital, que o projeto do governo federal prevê a criação de 8 mil bolsas para monitores em todo o Brasil, houve um murmúrio de aprovação na platéia. Quem trabalha em projetos de tecnologia para a inclusão social conhece, assim como o governo, a importância dos educadores nos telecentros. No entanto, ainda não se encontrou uma maneira de formar e manter os recursos humanos responsáveis por esse trabalho. Em dois projetos do governo federal, o Gesac (do Minicom) e o Casa Brasil (em trânsito, do Instituto Nacional de Tecnologia da Informação, para o Ministério da Ciência e Tecnologia), estão para vencer contratos temporários de profissionais que atuam com capacitação e articulação da comunidade. E em nenhum dos dois programas há uma solução para manter essas pessoas, ou contratar outras com experiência em projetos de inclusão digital.
No Gesac, desde outubro de 2006, quando o Minicom começou a elaborar a licitação de 12 mil novas antenas, fala-se na necessidade de uma licitação separada para contratar implementadores socias. Os 27 implementadores, cujo vínculo profissional é com a empresa Stefanini, subcontratada da Vicom, ficam até janeiro, quando inicia o contrato da Embratel — em que não há previsão de implementadores. Heliomar Medeiros de Lima, diretor do Departamento de Serviços da Inclusão Digital da Secretaria de Telecomunicações do Minicom, explica que não foi possível, em dois anos, criar um termo de referência para a contratação de pessoas com um perfil adequado, que junte capacidade técnica com capacidade de educar e de auxiliar a comunidade na articulação para o uso dos telecentros.
O implementador social existe porque o Minicom reconhecia, em 2005, a necessidade de treinar monitores, realizar oficinas apropriadas a cada comunidade. “Não se pode distribuir as antenas sem critério ou deixá-las sem uso porque as pessoas não sabem como usá-las. Sabíamos que sem os implementadores não haveria apropriação das tecnologias”, explica Elaine Tozzi, coordenadora do relacionamento com as comunidades e da estruturação do trabalho dos implementadores de 2005 a 2007.
O Minicom está montando uma equipe para o Gesac, por conta da “implantação de 6,2 mil telecentros comunitários no Brasil em 2008, sendo pelo menos um telecentro nos 5.564 municípios brasileiros”. Publicou, em setembro, um edital para contratar profissionais formados em Ciências Humanas que irão, de acordo com assessores do Minicom, trabalhar no apoio às comunidades. Mas ainda não está definido como contratar profissionais que cumpram o papel dos implementadores.
No Casa Brasil, doze das vinte bolsas concedidas pelo CNPq para os Técnicos de Instrução Continuada (TICs, ou agentes comunitários) começaram a vencer em novembro. Os vinte Técnicos Especialistas em Computação (TECs) e onze coordenadores também são contratados por meio de bolsas. Porém, ao final de 36 meses, os bolsistas não podem permanecer. Para os TICs cujas bolsas acabam agora, a alternativa é a parceria com o programa de economia solidária, da Universidade de Brasília. “Eles trabalham, de fato, como agentes de gestão de trabalho e renda”, explica Edgar Piccino, coordenador do Casa Brasil. Uma solução, mais uma vez, temporária.