Bonecos encantam adultos e crianças nas atividades do ponto de cultura de Joaquim Egídio inventa
Áurea Lopes
O Zé (que não precisa de sobrenome, pois é aquele sujeito boa praça, conhecido de todo mundo no pedaço) toma conta de carro na rua. Na rua em que ele mora, ao lado de uma casa enfeitada, onde se inventam sonhos. E o Zé, que sonha em ser feliz — “A gente tem que procurar viver a vida com alegria!”, ele filosofa —, não perde um! Brinca na Folia de Reis, assiste filme no Cine Cuscus, toca pandeiro no bloco de carnaval, ri com o mamulengo Benedito… Junto com o Zé, não só a comunidade de Joaquim Egídio, pequeno distrito da cidade de Campinas (SP), mas adultos e crianças de outras localidades se divertem e aprendem com as invencionices da associação Inventor de Sonhos.
São oficinas de bonecos, de brinquedos, de perna-de-pau, de música, entre outras. Ou projetos de arte-educação nas escolas da rede pública, por meio do teatro de fantoches. Ou, ainda, o desfile dos bonecos gigantes no carnaval, o que rendeu a Joaquim Egídio o apelido de Olindinha — uma referência ao carnaval de Olinda (PE). Taí um bom exemplo de como os Pontos de Cultura constituem eficazes pólos regionais para promover e preservar a cultura popular.
Criada há quatro anos pela artista plástica Natasha Faria e pelo diretor de teatro Sebastian Marques — hoje com a participação da acordeonista Vitória, de 9 anos, filha de Natasha — a Inventor de Sonhos começou abrigando um ateliê de peças feitas em papel machê, por Natasha, e um teatro de bonecos, especialidade de Sebastian. Em 2007, tornou-se um Ponto de Cultura do Programa Cultura Viva, do Ministério da Cultura. Um ano depois, em 2008, ganhou o prêmio Ludicidade/Pontinhos de Cultura, que contemplou 200 iniciativas de incentivo à cultura infantil em todo o país.
Uma das atividades mais prestigiadas é o teatro de bonecos, que foi o primeiro no Estado de São Paulo e o 5º no Brasil. Sebastian explica que a proposta é “resgatar identidades, brincadeiras e expressões originais perdidas no universo de mercadorias impostas pela cultura de massa”. Há sessões com ingresso pago, nos finais-de-semana, mas as “brincadeiras” (apresentações) também são levadas às escolas. “Uma característica marcante do nosso trabalho é o diálogo entre os espetáculos e as oficinas. Os grupos assistem os espetáculos dos bonecos e também participam das oficinas, aprendendo sobre a arte em papel machê”, completa Natasha.
Mais recente, porém igualmente concorrido, é o projeto do Cine Cuscus, que acontece toda última sexta-feira do mês. Na pracinha, um telão exibe produções do cinema nacional a uma platéia composta por crianças e adultos. O ingresso sugerido é um prato de cuscus. “Nesse dia, montamos na praça uma cozinha comunitária, aberta à participação de todos. Quem quiser, leva um prato, ou, faz um prato, na hora. Sempre sai um cuscus ali, depois da exibição”, conta Natasha.
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Ao lado, Nastasha e um
boneco gigante do carnaval.Além das peças de papel machê, a Inventor abre suas portas também para trabalhos de artesãos locais, como Aparecido Moreira, que expõe seus brinquedos em madeira; dona Amelinha e dona Luizinha, que fazem peças em crochê. “Nós somos uma espécie de ‘aparelho’ de cultura. Recebemos artistas populares de todo canto”, conta Sebastian, que foi um dos organizadores do 1º Encontro de Mamulengueiros em Campinas, em 2007, promovido pela Inventor de Sonhos. O encontro reuniu artistas de outros estados, que fizeram apresentações de teatro de bonecos em espaços públicos da cidade.
Comunidade participa
da folia de Reis. Este ano, a novidade é a oficina de carnaval. Os alunos da 7ª série da escola estadual Francisco Barreto Leme vão aprender a confeccionar bonecos gigantes, enquanto conhecem as origens da festa mais popular do país. Natasha explica que o objetivo é fazer os estudantes pensarem: “Qual carnaval nós queremos? Que músicas? Que tipo de festejo é esse?”. Para aprofundar a reflexão sobre manifestações e expressões artísticas populares, a Inventor de Sonhos vai começar a contar, nos próximos meses, com o conhecimento dos griôs locais.