O valor e o poder da informação
Cientistas internacionais e brasileiros analisam os impactos políticos das tics na sociedade Áurea Lopes
O uso de tecnologias digitais pode reduzir, em vez de aumentar, a efetiva participação democrática da sociedade. O sistema de informação, do modo como vem se configurando, só faz incrementar a capacidade do Estado de reunir informações a respeito de cidadãos, pesquisas e atividades sob seu escopo — enquanto reduz as chances dos cidadãos obterem informações sobre o que o governo está fazendo.
Com esse alerta, a professora estadunidense Sandra Braman, da Universidade de Wiscoonsin, abriu o seminário internacional “Informação, Poder e Política: novas mediações tecnológicas e institucionais”, realizado no Rio de Janeiro, de 15 a 17 de abril. Para ilustrar sua afirmação, Sandra citou os sistemas informacionais dos Estados Unidos: “Toda pessoa que fizer um pedido com cartão de crédito em determinada rede de pizzas é passível de ser considerada suspeita de envolvimento com organizações terroristas, uma vez que o sistema de mineração de dados antiterroristas identificou essas características relacionadas a um dos envolvidos nos atentados do 11 de setembro”. Para a especialista em Ciência da Informação, estamos vivendo uma era de autofagia, na medida em que uma informação se alimenta de outra informação, gerando o “abandono dos fatos”.
A crise mundial foi objeto de análise, no seminário, uma vez que o colapso econômico representa, efetivamente, o descolamento que existe entre a economia real, concreta, e a economia fictícia, construída no plano da informação. Para o economista José Eduardo Cassiolato, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), “observamos, hoje, a privatização do conhecimento. Empresas se apropriam de informações públicas, que se tornam commodities”.
Força das redes
Outra abordagem do impacto das novas tecnologias na redistribuição de forças políticas foi feita pelo ativista holandês Geert Lovink, teórico de mídia que falou sobre a apropriação das redes pelos movimentos sociais. “As políticas públicas são vagarosas demais para estes tempos de mídia em tempo real. Os movimentos sociais são mais ágeis, em especial se organizados em rede. Mas ainda gostamos de passar o tempo de forma agradável nos sites de relacionamento, enquanto poderíamos aproveitar essa característica de agregação para promover um relacionamento em rede mais interessante do ponto de vista social”, avaliou Lovink.
A idéia de uma democracia digital para além da justiça distributiva foi desenvolvida por Jonatas Ferreira, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), para quem “a inclusão digital deve servir para pensar processos mais democráticos na construção de uma sociedade da informação”. Com a queda dos preços de equipamentos, houve um avanço, no Brasil, em termos de acesso, diz o sociólogo, acrescentando que o acesso, sem escolarização, “é limitado”.
Com presenças de outros especialistas nacionais e internacionais que contribuíram para o debate, o seminário Informação, Poder e Política foi idealizado em uma iniciativa conjunta do Instituto brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict), da UFRJ e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).