ARede nº56, março de 2010 – Foi na década de 1990 que os movimentos culturais de periferia começaram a ganhar força. Marginalizada e excluída, apenas recentemente a cultura da periferia passou a receber o apoio de políticas públicas, como o Programa de Valorização de Iniciativas Culturais (VAI), da Secretaria Municipal de Cultura; o Programa de Ação Cultural (Proac), da Secretaria de Estado da Cultura; e em nível federal, do programa Cultura Viva, do Ministério da Cultura. “É um reconhecimento importante, que fortalece esses movimentos, mas para a grande parte da sociedade eles permanecem invisíveis. O avanço de políticas ainda não garante visibilidade de grupos culturais da periferia”, diz Antonio Eleilson, coordenador da área de cultura da Ação Educativa.
Apesar da extensa lista de projetos voltados a grupos que estão fora do circuito comercial, ações, campanhas de interesse público e uma coleção de prêmios que reconhece a importância da instituição, demorou alguns anos até a Ação Educativa ser contemplada pelo programa do MinC. O que garantiu a seleção da instituição no último edital foi a Agenda Cultural da Periferia, publicação que há três anos circula na capital paulista, todos os meses, gratuitamente. “Já é de conhecimento das pessoas que existe uma intensa cena cultural nas periferias, apesar da carência de infraestrutura e da ausência do poder público”, afirma Eleilson. A versão eletrônica da publicação também rendeu à ONG R$ 40 mil reais, com o prêmio de Mídias Livres, do MinC, em maio de 2009.
A publicação deu visibilidade a eventos que passam distante da grande imprensa, começou a construir uma rede entre os artistas da periferia e tem impulsionado outros avanços. “Os ativistas culturais passaram a fazer a divulgação de suas atividades”, conta Elizandra Costa, redatora da publicação. Hoje, 10 mil exemplares são distribuídos em 114 pontos da cidade, divulgando cerca de 80 eventos por edição. Mas o espaço não basta para atender a demanda, que não para de crescer.
Para suprir essa carência, no projeto do Pontão estava prevista a ampliação do número de páginas da publicação. Mas isso não será possível. Ao menos, não de imediato. O motivo, de acordo com o coordenador da ONG, foi um corte no orçamento. “O projeto estava orçado em R$ 1.050 milhão, mas o edital aprovou R$ 420 mil”, revela Eleilson. A redução no montante de recursos será sentida também nos seminários internacionais. A princípio, a cada ano seria produzida uma revista com um balanço do evento, entrevistas e artigos dos conferencistas. Agora será produzido apenas um livro, ao final dos seminários realizados durante os três anos. (C.M.)