ARede nº56,março de 2010 – Em outra iniciativa relacionada com reúso de computadores, o programa Computadores para Inclusão, da Secretaria de Logística e Tecnologia da Informação (SLTI), do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, o recondicionamento de máquinas se tornou uma ferramenta pedagógica. Como o programa trabalha principalmente com computadores doados por órgãos do governo federal, que depois de recondicionados são doados para telecentros, bibliotecas e escolas, às vezes o projeto é confundido com uma iniciativa de reciclagem e destinação final de equipamentos. Mas não se trata disso. O foco é a dimensão social.
O mais importante do programa, explica o secretário Rogério Santanna, da SLTI, é a formação. Os jovens das comunidades de baixa renda onde estão os Centros de Recondicionamento de Computadores (CRCs), do programa Computadores para Inclusão, participam de cursos de montagem, configuração e manutenção de máquinas. Os equipamentos são usados nesse aprendizado e o reaproveitamento impede que sejam descartados em lixos ou aterros. Desde a inauguração do primeiro CRC, em Porto Alegre, em 2006, foram formados 1,22 mil jovens. “Trazer essas pessoas para o projeto foi o maior ganho”, avalia Santanna.
Há cinco CRCs em funcionamento: Cesmar, em Porto Alegre; Gama, em Brasília (DF); Oxigênio, em Guarulhos (SP); BH Digital, em Belo Horizonte (MG) e Recife (PE). Mais duas unidades serão inauguradas este semestre. Uma em Lauro de Freitas, na Bahia, e outra em Belém, no Pará. O de Recife é o mais recente, aberto em maio de 2009. Formou a primeira turma, de 110 jovens, em 30 de janeiro deste ano. E recebeu mais de 900 inscrições de pessoas interessadas em participar da segunda turma, que também tem cem vagas e acaba de começar.
O CRC do Gama passou o ano de 2009 parado. Ao final do convênio com a Fundação Banco do Brasil, que doou R$ 1,9 milhão para a implantação do centro, e sem ter outro parceiro, interrompeu suas atividades. Somente em janeiro, com recursos do projeto CRC e parceria com o Centro Social Marista, as atividades voltaram, mas em ritmo menor do que permitiria a capacidade do CRC, de processar mil máquinas por mês. “Estamos com uma turma de 20 jovens, que é o que podemos fazer com os recursos que temos agora”, afirma Vanda Araújo Silva, presidente da Associação de Apoio à Família, ao Grupo e à Comunidade (Afago), instituição parceira do CRC Gama.
Os CRCs em funcionamento receberam, de 2007 para cá, 40 mil equipamentos. Desde o início do projeto, doaram 9,4 mil computadores recondicionados para 712 entidades. As inscrições para receber doações são centralizadas no site do projeto. Como também são centralizadas as decisões sobre qual CRC vai doar quais máquinas a qual instituição. Essa centralização gera custos de transporte de equipamentos – no ano passado, o CRC Oxigênio, de Guarulhos, em São Paulo, fez uma doação de 200 máquinas para 23 entidades em Roraima. Mas gera também pressão, sobre os CRCs, de entidades locais que gostariam de ser beneficiadas.
Resíduos
A cada quatro computadores recebidos, os CRCs conseguiram recolocar um em circulação. Cabe a cada CRC encontrar uma solução para as peças restantes do processo de reaproveitamento. Normalmente, são encaminhadas a empresas de reciclagem. Do CRC de Recife vêm descartes para a empresa Lorene, em São Paulo. O CRC de Garulhos entrega os resíduos a diversos recicladores. O do Gama tem parceria com cooperativas de catadores. Todos procuram dar um fim ambientalmente correto para seus descartes, mas reconhecem que esse é um problema ainda a ser equacionado, pela dificuldade de encontrar parceiros que se interessem por suas sucatas e, ao mesmo tempo, garantam que nenhuma substância não aproveitada vai voltar à natureza. (P.C.)