O coração no celular

O Ministério da Saúde apresenta seus investimentos em tecnologia para melhorar a saúde pública

Sinais do coração,pelo celular.

ARede 58 maio/2010 –
Com recursos da ordem de R$ 80 milhões, investidos em 2009, o Datasus, braço de tecnologia do Ministério da Saúde (MS), preparou a infraestrutura que vai permitir avançar na oferta de serviços de governo eletrônico. Embora a adoção em massa de aplicações que podem, por exemplo, eliminar as filas e simplificar a burocracia no atendimento da população ainda esteja distante, algumas experiências já foram postas em prática, como mostrou o diretor do Datasus, Luis Gustavo Loyola dos Santos, em apresentação realizada no 7º Wireless Mundi, realizado no dia 13 abril, em São Paulo. O evento, que reuniu 200 participantes, é organizado pela Momento Editorial e tem como objetivo criar uma cultura da mobilidade e disseminar o uso de tecnologia nos serviços de governo.

O serviço Tele-Eletrocardiografia Digital, em fase de testes em 37 cidades, envolve a transmissão de eletrocardiograma via telefonia celular para o Hospital do Coração (HCor) de São Paulo, permitindo a realização de um exame no paciente ainda na residência ou na ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) a caminho do hospital, com a transmissão dos dados via internet para análise pela central de telemedicina do hospital e o retorno do laudo em cinco minutos. “O atendimento rápido faz com que muitas vidas sejam salvas”, comentou Loyola, informando que, no caso de mortes por infarto, as estatísticas mostram que acontecem nas primeiras duas horas, se não houver qualquer intervenção médica.

De acordo com Loyola, a meta é instalar os kits com eletrocardiógrafos e telefones celulares em unidades do Samu, cobrindo 1.276 cidades. Os investimentos no projeto são de R$ 6,9 milhões em três anos, aplicados na compra de aparelhos, treinamento de equipes e manutenção de equipamentos.

Rede Infosus
Parte dos investimentos realizados pelo Ministério da Saúde foi direcionada à modernização da rede Infosus (o backbone nacional do MS), com aprimoramento da topologia anterior que, agora, permite que todas as localidades se comuniquem de forma direta e independente, com redução do tráfego na conexão de Brasília com os Núcleos Estaduais. A rede teve também aumento de velocidade, de 98 Mbps para 256 Mbps, e o acesso à internet passou a ser descentralizado, podendo atender até 580 pontos de acesso.

Com essa infraestrutura já é possível pensar na adoção de prontuário eletrônico, medida que, em escala nacional, agiliza o atendimento, reforça a cidadania, integra as informações em saúde, captura dados automaticamente, reduz custos e evita desperdícios, além de contribuir para a melhoria de mecanismos de auditoria e controles sociais. Para que o prontuário eletrônico se torne uma realidade, o Ministério vai informatizar os seis hospitais federais do Rio de Janeiro. “Isso pressupõe a implantação de infraestrutura tecnológica adequada para suportar o Sistema de Informação Hospitalar”, diz Loyola.

O diretor do Datasus admite que o tratamento da informação e o estabelecimento de sistemas de informação nos hospitais públicos brasileiros focaram, até o momento, os aspectos administrativos, relegando ao segundo plano as informações clínicas dos indivíduos que compõem o Registro Eletrônico Individual de Saúde (Prontuário Eletrônico). “Os registros clínicos assistenciais que compõem os prontuários dos pacientes e que formam mais de 75% da base necessária para a gestão da informação de saúde, tanto individual quanto coletiva, ainda são tratados de maneira precária, desorganizada, redundante e muitas vezes irrecuperável, mesmo em estabelecimentos considerados avançados”, observa Loyola.

Um Registro Eletrônico de Saúde (RES) integrado ao Sistema de Informação Hospitalar permitirá, entre outros avanços, acesso remoto e simultâneo dos dados clínicos individuais e coletivos; aumento da confidencialidade dos dados do paciente; flexibilidade na organização das informações; integração com outros sistemas de informação; processamento contínuo e apoio à decisão e à pesquisa, além de melhorar os mecanismos de auditoria e controle sociais.

A informatização dos hospitais federais terá rede cabeada e redes Wi-Fi, com equipamentos para o serviço de identificação (RFID), para permitir controle de materiais, equipamentos e até de pacientes; além de conectividade com outras unidades hospitalares.

Resultados em Porto Alegre
Em Porto Alegre, onde a prefeitura tem uma infovia própria, a telemedicina já deu resultados concretos. Em apresentação no Wireless Mundi, o diretor-presidente da Procempa (Empresa de TIC de Porto Alegre), André Imar Kulczvnski, relatou a experiência no bairro da Restinga, um dos mais carentes e populosos de Porto Alegre, onde o posto de saúde não dava conta de atender a demanda. “Uma ultrassonografia obstétrica tinha quatro a seis meses de espera e a taxa de absenteísmo era de até 60%”, relatou Kulczvnski. Ou seja, uma grávida conseguia fazer, na melhor das hipóteses, um único exame durante toda a gestação.

A ampliação da rede de fibras ópticas, combinada com a tecnologia de radio para acesso ponto-multiponto permitiu dotar o posto de saúde da Restinga de tecnologia para a realização de exames no próprio local, sem que a gestante tenha que se deslocar de seu bairro. Os exames, online e em tempo real, são acompanhados por especialistas em medicina fetal do Hospital Materno Infantil Presidente Vargas.

A iniciativa resultou em um aumento de oito vezes no número de exames, em redução do tempo de espera para menos de 30 dias e na queda do absenteísmo para menos de 10%. De acordo com André, cerca de 10% dos exames indicam que as gestações são complexas e a identificação precoce permite o encaminhamento da paciente para um hospital onde pode fazer os exames complementares. Os laudos e imagens são armazenados no prontuário eletrônico da paciente. “Além da melhoria dos serviços, o serviço ainda gera economia de R$ 100 mil por ano”, relatou André.

Fotos Divulgação Luís Oliveira/MS
Foto Robson Regato