O projeto da Dinamicoop,
cooperativa instalada na zona norte do Rio, venceu seleção
internacional disputada por candidatos de 21 países. Rosane de Souza
O Morro dos Macacos tem 30 mil
moradores
Até o fim deste ano, os moradores do Morro dos Macacos, localizado no
bairro de Vila Isabel, no Rio de Janeiro, terão toda a infra-estrutura
de uso de computadores e acesso gratuito à internet, por meio de uma
rede wireless
de cinco quilômetros de extensão. A dimensão do projeto, batizado
de Taí.com, pode ser avaliada pelo tamanho e pela importância, do ponto
de vista social, do Morro dos Macacos — um complexo de habitações
populares encravadas em mais de dois quilômetros, que reúne 30 mil
moradores e todos os ingredientes para fazer parte apenas do mapa de
violência da cidade.
A antiga Fazendo dos Macacos, de propriedade do Barão de Drummond,
começa numa localidade chamada de Pantanal, que fica bem em frente ao
famoso Morro da Mangueira, e só termina no bairro de Engenho Novo. O
sonho de viabilizar o Taí.com, idealizado pelos 56 participantes da
cooperativa Dinamicoop — cuja sede ocupa o segundo andar de um prédio
de propriedade da instituição kardecista União dos Discípulos e
Jesus — começou a se tornar realidade no momento em que a Wings
Telecom, empresa de desenvolvimento de software
e soluções para redes celulares, Wi-Fi, sistemas ponto-a-ponto,
ponto-multiponto, satélite e radiodifusão, acreditou que era possível,
fez o projeto e começou a buscar parceiros para a tarefa.
De acordo com Leandro Farias, diretor-presidente da cooperativa, a
Dinamicoop já atende pelo menos 7 mil moradores do Morro dos Macacos,
por meio de serviços de informática, telecentros, oficinas e cursos.
“Porém, o Morro dos Macacos é geograficamente muito grande e dividido.
Mesmo dentro da comunidade, há uma divisão de classes sociais. Uma
parte dos moradores, a que se instalou para além do maciço conhecido
como Pau da Bandeira, não é beneficiada por nenhuma ação do Estado, nem
de nenhuma entidade social. Queremos, agora, atender e unificar todo
mundo”, afirma.
Com o projeto executado pela Wings Telecom, que tem uma ligação
estreita com universidades, centros de pesquisa e consultores na área
de telecomunicações, a Dinamicoop, cooperativa popular de serviços de
informática, teve a proposta da rede social sem-fio Taí.com selecionada
entre as 15, de um total de 94, enviadas para o edital “Fortalecimento
e articulação de redes comunitárias e sem-fio na América Latina e
Caribe”. A seleção foi promovida pela Fundación EsLaRed, pelo Network
Startup Resource Center – NSRC e pelo Instituto para a Conectividade
das Américas — ICA. Recebeu propostas de 21 países, que foram avaliadas
segundo critérios de relevância, inovação e viabilidade. Outro parceiro
na empreitada é a entidade de nome Wilac – Tecnologias e Inalámbricas
para el Desarrolo em Latino America e Caribe, que fornecerá os
equipamentos para a instalação dessa rede social Wi-FI, indoor e outdoor, ou seja, de ambientes internos e externos, com raio de 5 quilômetros.
Rede social
Quatro jovens da Dinamicoop
serão capacitados para fazer
a manutenção da rede
“Essa rede social wireless (sem-fio) foi projetada para ter
uma estação base e quatro pontos remotos”, resumiu o diretor de
engenharia da Wings Telecom, Carlos Rodriguez. Ele acrescenta que o
projeto de instalação da rede ponto-multiponto, o que vai permitir a
sua expansão, já está na fase de avaliação dos locais estratégicos para
as antenas da estação base e para os quatro pontos remotos. Neste
primeiro semestre, a rede será implantada em escolas públicas,
associação de moradores, posto de saúde e centros comunitários. Mas,
até dezembro deste ano, os parceiros na empreitada esperam levar a
conexão à internet às casas dos moradores da comunidade. E, se
possível, também ampliar a base local de computadores pessoais. É que o
projeto prevê a reutilização de computadores usados.
“Com isso, vamos viabilizar o sonho do computador pessoal em casa para
milhares de moradores do Morro dos Macacos”, assinala Leandro Farias,
diretor-presidente da Cooperativa. Segundo ele, a Dinamicoop já se
articulou com os Correios para ganhar os micros descartados pela
empresa. O projeto vai usar, ainda, o software Plurall, criado pela
PUC/RJ e pela Movimentos em Rede (veja ARede nº22, nota em Raitéqui),
em código aberto, para organizar e facilitar a implantação de redes, e
permitir o uso de velhas máquinas como terminais, ligados a um
servidor. O servidor de aplicações vai rodar a distribuição livre
Ubuntu.
O apoio da Wings Telecom à iniciativa da Dinamicoop não se resumirá à
elaboração e à implantação do projeto da rede sem-fio. Marlene Pontes,
outra sócia da empresa e professora de telecomunicações da PUC/RJ,
afirma que o Instituto Saber Incluir, braço social da empresa, vai
instalar uma unidade de capacitação em uso da informática na comunidade
do Morro dos Macacos, e fornecer o conteúdo dos cursos, com
certificação para os usuários. O objetivo é promover o uso das
informações e serviços disponíveis na internet, para dar melhores
condições de emprego, renda e da própria qualidade de vida para a
população do local. “Nossa idéia é a de também capacitar os jovens da
Dinamicoop para realizarem a manutenção da infra-estrutura local”,
informou Bruno Halburg, diretor comercial da Wings. Quatro jovens já
foram selecionados para serem capacitados na manutenção a rede.
Há outros parceiros no Taí.com. A empresa Console, que foi incubada na PUC, entrará com o software
Netunne para fazer a gestão de provedores de acesso à internet, para
controlar a banda e oferecer segurança aos usuários. No Morro dos
Macacos, isso é mais do que necessário. Abandonados pelo poder público,
seus moradores se viram como podem. Criaram, inclusive, ramificações
próprias da rede popularmente conhecida no Rio de Janeiro como
gato-net, através da qual é distribuído o acesso irregular a TV por
assinatura e à internet banda larga. Essa distribuição ilegal garante o
serviço, mas não impede que ele tenha sérios problemas de qualidade,
segurança e manutenção.
João Batista
Viana de Drummond foi grande empresário carioca, dono da Cia. Vila
Isabel de Carris Urbanos e de terrenos que comprara da princesa Isabel,
no atual bairro de Vila Isabel. Ali, inaugurou, em 1888, um jardim
zoológico, mantido por subvenção pública autorizada por D. Pedro II.
Com a proclamação da República, o Barão perde a subvenção e cria uma
loteria, com bilhetes no valor do preço dos ingressos, para financiar o
zoológico. Os bilhetes traziam o número e a estampa do animal. Deu
origem ao popular Jogo do Bicho, depois tornado ilegal.