
Bons frutos em solo árido
Qualificação profissional para jovens dá sustentabilidade à cadeia produtiva do turismo regional Inaldo Cristoni
ARede nº64 novembro de 2010 – O Araçá Mirim, espécie típica de regiões silvestres, dá nome a uma instituição baiana que, em 2008, também se inspirou nas caratecterísticas dessa árvore para criar o projeto Juventude Incluída. Em solos secos, a planta dá um fruto levemente adocicado e é capaz de oferecer uma copa esparsa que chega atingir até dez metros de altura. Assim é o Juventude Incluída, iniciativa do Instituto Araçá Mirim, criado em 2006. O projeto tem por objetivo estimular o desenvolvimento de políticas públicas nas áreas de Educação, Meio-Ambiente e Cultura para beneficiar estudantes carentes da rede pública de ensino, guias turísticos, brigadistas, populações ribeirinhas e quilombolas dos municípios de Lençóis, Palmeiras, Andaraí e Mucugê, entre outras localidades do entorno do Parque Nacional Chapada Diamantina, área central do estado.
O sentido é exatamente esse, explica Marília Nascimento Pinto, coordenadora do projeto: “Nas pesquisas que fizemos, vimos que a planta tem muita vitalidade, é uma das mais resistentes do Cerrado e todos adoram o seu fruto. Da mesma forma, o Instituto Araçá Mirim quer ser grande e resistente na região”. Vencedor do prêmio ARede 2010, na categoria Sustentabilidade e Gestão, modalidade Terceiro Setor, o Juventude Incluída agora recebe projeção nacional. “Esse prêmio é o reconhecimento de que estamos no caminho certo”, diz Marília.
O projeto ataca um dos grandes problemas locais: a falta de oportunidades para os jovens no mercado de trabalho, resultado de uma economia baseada apenas em uma atividade, o turismo. Esses são os casos dos municípios de Lençóis e Palmeiras. O comércio e agricultura têm alguma força em Andaraí, enquanto Mucugê vive do comércio e do turismo. Juntas, as quatro cidades somam uma população de 52 mil habitantes, segundo último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Sem perspectivas profissionais, os jovens dessas cidades costumam migrar para a capital, Salvador, distante 400 quilômetros, em busca de trabalho e melhores condições de vida.Quando não, permanecem na região e invariavelmente ingressam no mercado informal, atuando como guias turísticos. Assim, quase sempre abandonam os estudos.
Para mudar esse cenário, o Instituto Araçá Mirim começou a oferecer cursos de qualificação profissional, empreendedorismo social, gestão de pessoas e competências pessoais, informática básica e avançada, entre outros, a fim de fortalecer a cadeia produtiva do turismo indutor e sustentável na região. Entre outras ações, criou as Jornadas Ecopedagógicas no Parque Nacional Chapada Diamantina, procurando valorizar o conhecimento e os talentos locais. Dessa forma, passou a contribuir para a geração de mão de obra qualificada, melhorando a renda das famílias locais.
A primeira providência para se chegar a esse resultado foi realizar o mapeamento das necessidades. A tarefa ficou a cargo do Núcleo de Educação do projeto, que é responsável pela capacitação educacional e profissionalizante. De acordo com Marília, a base do programa é a educação a distância (EAD), embora os jovens sejam estimulados também a participar de eventos presenciais, como seminários, fóruns e congressos. Os cursos EAD acontecem em dois Centros Digitais de Cidadania (CDCs) – unidades de telecentro que integram o programa de inclusão Sóciodigital do Estado da Bahia (ver página 16). Um dos CDCs fica na sede do Instituto Araçá Mirim, em Lençóis.
acesso limitado
O acesso à internet é uma das limitações do projeto. Marília conta que, seis anos atrás, o custo da navegação girava em torno de R$ 1 o minuto. Melhorou um pouco com o passar do tempo – hoje, a conexão sai por R$ 3 a hora. “Mesmo assim, está aquém do ideal para a região. Temos um único provedor de acesso e estamos pedindo para a Oi instalar o Velox aqui”, revela, fazendo referência ao serviço de banda larga da operadora. Lençóis foi contemplada como uma Cidade Digital e a expectativa é de implantação de uma rede sem-fio que permitirá acesso à internet a toda a população. Nas outras cidades da região, porém, o panorama é mais sombrio, pois o link de internet é via rádio.
Dentro do Juventude Incluída, há também o Núcleo Meio Ambiente, que conduz o projeto Comunidade Sincorá. Participam dele agentes encarregados de disseminar as iniciativas realizadas em Lençóis para outras três cidades
do entorno do Parque Nacional Chapada Diamantina. O Núcleo Cultura funciona como uma espécie de canal de comunicação entre o Instituto Araçá Mirim e a comunidade. Os participantes publicam um jornal com informações gerais, de utilidade pública, e temas específicos de interesse da comunidade. Como conta Marília, “o jornal fez uma reportagem sobre drogas e vimos muitos meninos tirando cópias para mostrar aos amigos que estão enfrentando esse problema”.
Desde que entrou em operação, o Juventude Incluída beneficiou aproximadamente 400 pessoas. O público-alvo são os jovens de 16 aos 29 anos, mas há atividades também para crianças partir dos dez anos. O Instituto Afrânio Afonso Ferreira, de Salvador, já destinou recursos financeiros da ordem de R$ 100 mil para as iniciativas do projeto. “Este ano, conseguimos arrecadar R$ 60 mil, mas nossa meta é obter mais este tanto até o final de agosto de 2011, para desenvolver as ações nos quatro municípios”, planeja Marília.
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