Audiovisuais educativos, para baixar e usar.
Programação diversificada disponível na internet. O conteúdo é de qualidade, e a distribuição, BitTorrent. Jane Soares
ARede nº64 novembro de 2010 – Unanimidade a respeito de qualquer tema é praticamente impossível. Mas é o que acontece quando se coloca na pauta a necessidade de melhorar a qualidade do ensino no Brasil. Entre as inúmeras instituições públicas e privadas que tentam alcançar esse objetivo, o Futuratec está obtendo grande êxito. Esse serviço pioneiro do Canal Futura – projeto social da Fundação Roberto Marinho – permite baixar gratuitamente 900 programas educativos sobre os mais variados assuntos como ética, diversidade cultural, nutrição, religião, esportes, entre outros. Desde o início de seu funcionamento em 2007 até agora, mais de 10 mil transferências foram concluídas com sucesso e o Futuratec já cadastrou aproximadamente 5 mil instituições, responsáveis por 14 mil projetos educativos, que beneficiam uma população estimada em 1,6 milhão de pessoas.
Criado em 1997, o Canal Futura é o primeiro canal privado de televisão totalmente voltado para a educação e valorização da cultura. Na maior parte do Brasil, os usuários têm acesso gratuito à programação com a ajuda de antenas parabólicas. Mas, em alguns locais, o sinal só está disponível por meio das TVs por assinatura. O Futuratec foi concebido para levar gratuitamente uma programação educativa de qualidade a todos os brasileiros, especialmente aos estudantes. O projeto também atendeu a uma demanda dos educadores, que solicitavam os conteúdos oferecidos pelo Canal Futura para tornar o processo de aprendizagem mais rico, interessante e divertido.
A concepção do Futuratec gerou uma ampla discussão interna. A ousada ideia de oferecer conteúdo de graça amedrontava parte dos profissionais, que discutiam a viabilidade e a relevância da iniciativa. Tudo isso ficou para trás. “O que era um piloto transformou-se em uma política estratégica do Canal, citado pela direção como uma referência”, explica Leonardo Machado, coordenador de Novas Mídias do Canal Futura e um dos idealizadores do projeto que ganhou o Prêmio ARede, na categoria Serviço ao Usuário, modalidade Iniciativa Privada. “Esse prêmio foi muito comemorado porque significa o reconhecimento para um projeto inovador do Canal Futura, que ousou distribuir gratuitamente conteúdos de qualidade. É muito gratificante para toda a equipe e acontece em um momento muito oportuno, quando a sociedade discute temas como direitos autorais e pirataria”, diz Machado.
O projeto idealizado pela equipe de Conteúdo e Novas Mídias custou R$ 50 mil e foi financiado integralmente pelo Canal Futura – que, por sua vez, é mantido por vários parceiros: Bayer Schering, Fundação Bradesco, Confederação Nacional da Indústria, CNN, Sistema FIESP, Sistema Firjan, Gerdau, TV Globo, Fundação Itaú Social, Sebrae, Vale e Votorantim. Os programas são veiculados na internet por meio de uma tecnologia de distribuição conhecida e de grande uso na rede, a P2P BitTorrent. O arquivo é baixado de outros usuários e não de um servidor. Assim, quanto mais usuários, mais rápida é a transferência. Esse protocolo é amplamente utilizado no mundo para download de músicas, filmes e séries de TV. O formato desses arquivos permite que os vídeos sejam gravados em VCD e assistidos em TVs equipadas com DVD.
Em franco crescimento
Hoje, o Futuratec tem 5.145 instituições cadastradas, 20,5% pertencentes à rede pública. Em 17,7% dos casos, os conteúdos foram usados em atividades pedagógicas no ensino superior, 10,4% no fundamental e 10,1% no médio. A maior parte das instituições se concentra nas regiões Sudeste (46%) e Sul (18%). Entre os profissionais dessas instituições, 32% se declaram professores da rede pública e 14%, da particular. Aproximadamente 15% se intitulam educadores, 11% são funcionários e 5%, voluntários. As instituições usuárias atendem todas as faixas etárias, de crianças a pessoas da terceira idade.
No primeiro semestre deste ano, a área de Conteúdo do Futura realizou, por e-mail, a primeira pesquisa de satisfação do Futuratec. Os resultados serão publicados no “Almanaque das Redes Sociais”, em elaboração. ”No geral, as avaliações foram muito positivas e nos permitiram saber qual o uso e em que contexto o material é utilizado nas escolas. Mas algumas pessoas relataram dificuldades em procedimentos técnicos, evidenciando a falta de preparo dos profissionais para o uso de algumas ferramentas da internet“, conta Machado.
Um dos depoimentos que consta da pesquisa veio de Clayton Gitti, médico veterinário e professor de Doenças Infecciosas do Departamento de Epidemiologia e Saúde Pública do Instituto de Veterinária da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Ele destaca a programação do Canal Futura, “voltada à educação, informação e atualização, aproveitada por diferentes faixas etárias”. Gitti trabalha em um projeto de educação sanitária para crianças. Alunos do curso de Medicina Veterinária da UFRRJ participam do projeto e já usaram vários programas do Canal Futura nas suas atividades pedagógicas.
Os bons resultados já apareceram. Em reuniões, os pais contam ter levado “bronca” dos filhos por não lavar as mãos antes das refeições. Algumas delas ensinaram os familiares a usar cloro ou vinagre para lavar as verduras e a escovar os dentes corretamente. “São pequenos exemplos do resultado que nossas atividades educacionais produzem nas famílias. Muito ainda deve ser feito. Um passo de cada vez”, conta o professor Gitti.
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