Cultura

Asas à inspiração

SITE OFERECE A AUTORES FERRAMENTAS DE PUBLICAÇÃO GRATUITA DE LIVROS.

Bárbara Ablas

ARede nº68 abril/2011 – Ter o primeiro livro nas estantes das grandes livrarias nacionais é um sonho de muitos escritores independentes. Mas é na internet que a maioria encontra espaço para divulgar seu trabalho e formar um público de leitores. Quem está começando, ou quem já é profissional, encontra, no Clube dos Autores, uma opção não só para sair do anonimato, mas também para zerar custos de produção.

Criado em 2009, o site consiste em uma espécie de editora virtual que publica livros sob demanda e sem tiragem mínima. As obras são impressas uma a uma, na quantidade vendida. O escritor não precisa pagar por um pacote de cópias para rodar o livro, exigência comum entre editoras e gráficas. Os direitos autorais são estipulados pelo escritor. 
A cada R$ 100 vendidos por obra,  ele recebe sua parte. Se quiser retirar o livro do ar, não há nenhum tipo de ônus. E não tem nenhum vínculo de exclusividade, caso pinte a chance de publicar em outros sites, ou até em uma editora. Como o Clube tem links em vários sites de busca e redes sociais, não falta divulgação gratuita, também. O clube recebe aproximadamente 90 mil acessos por mês.

As facilidades se estendem ao leitor. Em fevereiro, o clube iniciou a venda de livros em formato digital (e-books, ou, livro eletrônico), com preços que chegam a menos de R$ 10. Na média, os impressos mais baratos custam R$ 30. Mas os mais caros podem ultrapassar R$ 100. A meta do clube é chegar a 80% do acervo disponível em formato digital. Hoje, são mais de 7 mil títulos, entre livros impressos e digitais. Se o leitor optar pelo  livro eletrônico, é só baixá-lo no computador. Se preferir o impresso, pode receber em casa pagando um frete, ou retirar pessoalmente em uma gráfica terceirizada. Antes de finalizar a compra, o leitor visualiza os endereços das gráficas.

O site foi desenvolvido por meio da parceria entre as empresas I-Group, especializada em planejamento estratégico digital, e A2C, que atua na área de tecnologia e design digital. “Partimos do princípio que todo mundo tem uma história para contar”, diz Ricardo Almeida, diretor geral do
I-Group. Entre os usuários do Clube dos Autores estão profissionais de várias áreas como médicos, professores, advogados e estudantes. A faixa etária vai de 14 a 80 anos, conta Ricardo.

Mas como é que fica para montar o livro, se o escritor só tem o texto digitado no computador? O site é interativo e autoexplicativo. Fornece ferramentas e dicas para diagramar e publicar, desde a formatação até as imagens de capas. É só o escritor fazer seu cadastro e iniciar o processo. Só que existem algumas regras: o livro precisa ter no mínimo 40 páginas e no máximo 700, e o arquivo precisa estar em PDF. Apesar de seguir uma estética padronizada, o escritor pode personalizar a sua capa, não é obrigado a usar as opções do site. O livro também não precisa ter ISBN.

O preço final depende do tamanho e do valor do direito autoral. A balança funciona da seguinte forma: quanto menos o escritor quiser ganhar, mais barato ficará para o leitor. Ao subir o livro no site, uma calculadora virtual faz as contas automaticamente, de acordo com o valor inserido pelo autor e o número de páginas.

Visibilidade

O sucesso, é claro, depende do empenho de cada um. O escritor é responsável pelo conteúdo que publica. O clube não faz revisão ou correção dos originais de graça, é necessário contratar o serviço. Em geral, vende bem quem tem boas histórias para contar, segue normas gramaticais e investe no potencial de divulgação de blogs e redes sociais. “No atual mercado editorial, o autor moderno precisa ser seu próprio empresário, não pode ficar esperando acontecer”, acrescenta Ricardo.

É o caso da carioca Kel Costa, formada em Artes Cênicas, autora do livro O Segredo dos Colt, que fala de vampiros, um dos mais comentados do clube. A obra também ficou em 2º lugar no 1º Prêmio Clube de Autores de Literatura Contemporânea, realizado em 2010. Fã do best seller Crepúsculo, Kel publica no Orkut, desde 2008, fanfics. A comunidade dela tem mais de cinco mil pessoas. E o livro, lançado em 2009, já vendeu cem exemplares impressos. Uma das editoras para a qual enviou o original do livro respondeu dizendo que “o tema vampiros já está saturado”. “Algumas editoras estão abrindo as portas para os escritores nacionais, mas ainda preferem os best sellers estrangeiros, que têm venda garantida”, opina. No momento, Kel finaliza a continuação da sua história, que deve ir ao ar em breve e que, ao menos pela internet, tem público garantido.
Em São Paulo, Sergílio de Uspecéia, pseudônimo de Sergio Ferreira da Silva, autor de dois livros pelo clube, é outro exemplo de quem conquistou audiência aproveitando oportunidades de relacionamento com leitores via web. Além de trovador premiado, ele é  blogueiro e frequenta comunidades virtuais. “O escritor é escritor em qualquer lugar”, comenta. Formado em Direito e concluinte do curso de Letras na Universidade de São Paulo (USP), Sergio ganhou o pseudônimo em uma comunidade virtual da USP, onde postava resumos das aulas. O nome é uma referência ao poeta romano Virgílio, conhecido por escrever o poema Eneida, e o sobrenome, à Odisseia do
poeta grego Homero. Um dos seus livros, Diários de Bordo, foi inspirado em um fórum de discussão da internet sobre ativos financeiros da bolsa de valores. Sergio, que frequenta a lista por questão de trabalho, adaptou os resumos discutidos no grupo e o perfil dos usuários às situações e personagens da série de televisão Star Trek (Jornada nas Estrelas), e logo conquistou uma legião de leitores. Outro livro, a Força das Tradições e outras Histórias, está na lista dos mais comentados do clube. A obra já tinha sido premiada em 2007 pelo 16° Programa Nascente da USP, mas até fevereiro deste ano permanecia na gaveta.

A baiana Lêda Rezende, que mora  em São Paulo há 12 anos, também encontrou no clube uma oportunidade de multiplicar sua rede de leitores. Médica pediatra com formação em psicanálise e especialização em Nutrologia, Lêda é autora de crônicas e poesias, integra a Sociedade Brasileira de Médicos Escritores e há tempos está conectada. Além de manter um blog, ela lançou na internet, em 1995, uma enciclopédia sobre psicanálise. “Sempre achei a internet um veículo de informação fascinante”, enfatiza. Uma de suas obras, Vitral – Compondo a Vida, ficou entre os dez finalistas do Prêmio Clube de Autores. 

O sucesso de um dos livros mais vendidos do clube, Sensibilidade à Flor da Pele, surpreendeu a autora, Helena Polak, que exerce a profissão de tradutora em Belo Horizonte: “Vendi cerca de 500 exemplares, um número muito bom, considerando que não fiz divulgação. O livro trata do Transtorno de Bordelaine, “uma predisposição da pessoa a ter uma alta sensibilidade emocional a qualquer estímulo ou evento”, explica. Helena, que tem um parente próximo diagnosticado como Bordelaine, escreveu o livro para dividir experiências e dar dicas de como lidar com pessoas que apresentam o transtorno. Além do Clube dos Autores, existem opções de sites estrangeiros como o Blurb e o Lulu, que atuam de maneira similar. Só que funcionam no idioma inglês. 

www.clubedeautores.com.br
www.blurb.com
www.lulu.com

os dez livros mais vendidos

1.     Sensibilidade à Flor da Pele, Helena Polak
2.    A Receita do Bolo, Prof. Mauro Calil
3.    Fidus interpres: a prática da tradução profissional,         Fabio M. Said
4.    Ritual de Emulação, Fabio  Mendes Paulino
5.    Fel, Carla Cintia Conteiro
6.     O filho de Clara, Clarinda Canassa Bonadia
7.     Geração Y, Sidnei Oliveira
8.     Explosão Poética, Maria Elena de Sousa Leitão
9.    Alma Nomade, Sergio Zurawel
10.    A Lei Prima do Universo, Cleber Portapila