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Conhecimento não mede distância
Cursos não presenciais ganham qualidade, conquistando a confiança dos estudantes e ajudando a formar os professores de que o país tanto necessita.
Áurea Lopes e Luciana Machado
ARede nº73 setembro de 2011 – Até o início da última década, a educação a distância (EAD) era objeto de desconfiança por toda parte. Desprestigiados por empregadores, os cursos não presenciais eram desprezados pelos estudantes. Os próprios educadores não estavam convencidos de que se pudesse oferecer boa formação se o professor estivesse localizado a alguns – ou milhares de – quilômetros da sala de aula. Essa modalidade de ensino era vista, enfim, como uma forma marginal de aprender, um jeito mais fácil e barato de obter um diploma e ingressar no mercado de trabalho.
Hoje, esse ponto de vista – cada vez mais raro – é considerado um grande preconceito. “A gente aprende mesmo!”, afirma enfaticamente a professora Oneide Silva Borges, que faz o curso superior de pedagogia das Faculdades FAEL, pela TV. Ela integra um grupo de nove alunas que se reúnem em uma escola cooperativada de Guaranésia (MG), toda sexta-feira, das 19h às 22h, para assistir as aulas transmitidas via satélite. O curso, de quatro anos, é acompanhado por um tutor local, contratado pela FAEL, e segue as regras de uma faculdade presencial. Tem vestibular, aceita a nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), exige 75% de presença, pede pesquisas de campo, lição de casa, requer um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) e emite diploma reconhecido pelo Ministério da Educação (MEC). No caso das meninas de Guaranésia, rola até a esticada ao boteco da esquina, depois da aula.
Outra estudante que ocupa, literalmente, um lugar especial nessa classe é a “tia” Cris. À noite, ela se senta em uma das cadeiras em frente à televisão, como aluna. Durante o dia, ela se posiciona do outro lado da sala, à frente das carteiras, como professora do 3º ano do ensino fundamental. Depois de três anos e meio, Cristiane Maria Vilas Boas Lopes já colhe os frutos do seu esforço, que será recompensado com a festa de formatura, no final deste ano. “Eu tinha medo de dar aula. E o curso me deu mais segurança para trabalhar com as crianças”.
Por essas e muitas outras, a EAD conquistou espaço e respeito. Entre jovens que acabaram de concluir o ensino médio, idosos que buscam uma forma de inclusão, profissionais que tentam mudar de área ou se especializar. As pessoas estudam em casa, em telecentros, lan houses e até nos próprios ambientes de trabalho. De acordo com o último censo da Associação Brasileira de Ensino a Distância (Abed), 57% dos alunos de cursos remotos têm mais de 30 anos e quase a metade (47%) ganha entre um e cinco salários mínimos.
Para essa gente, a EAD não é mais apenas uma oportunidade, mas uma boa oportunidade de formação e requalificação. Exatamente porque o ensino a distância ganhou organicidade e hoje dispõe de recursos tecnológicos que – se usados adequadamente – agregam qualidade ao processo de aprendizagem, nada menos do que três milhões de estudantes estão matriculados em cursos a distância no país, de acordo com a Abed. Nos últimos cinco anos, quase todas as universidades públicas e diversas particulares aderiram às novas práticas pedagógicas. Em várias modalidades: os cursos livres, que não exigem pré-requisitos, os cursos profissionalizantes, os de nível superior e de pós-graduação. Os cursos de nível superior mais procurados são os de administração, gestão de recursos humanos e tecnologia de informação.
O que se vê, também, é um incentivo enorme do governo para que as instituições invistam em EAD para formar professores. Atualmente, o Brasil capacita mais docentes para a educação infantil e para o primeiro ciclo do fundamental pelo ensino a distância do que pela educação presencial, de acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).
Entre as instituições públicas – 45% das escolas a distância reconhecidas pelo MEC são gratuitas – o maior centro público de ensino a distância do país é a Universidade Aberta do Brasil (UAB), um sistema integrado por universidades públicas que oferece cursos gratuitos de nível superior (ver página 12). Fátima Antenório, estudante da UAB, mora em Sertãozinho, interior do estado de São Paulo, e está matriculada em um curso de pedagogia da Universidade Federal da Bahia. Ela assiste às videoaulas de seu computador de casa e, de vez em quando, se tem tempo, lê um ou outro texto durante o expediente de trabalho. Boa parte dos livros indicados pelos professores ela comprou em um sebo. Fátima era professora sem formação superior, por isso teve sua vaga garantida.
Quem não é professor pode concorrer a bolsas de estudos, parciais e integrais, para ingresso em universidades pagas, bancadas pelo governo federal, e por algumas fundações e associações. Os maiores programas de financiamento são o do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq – www.cnpq.br), da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes – www.capes.gov.br), do Instituto Ling (www.institutoling.org.br), da Fundação Estudar (www.estudar.org.br) e o Programa de Financiamento Estudantil (Fies – http://sisfiesportal.mec.gov.br).
Nos cursos privados, as mensalidades costumam ser acessíveis, exatamente para atender o público das regiões mais desprovidas. O curso de pedagogia da Fael, por exemplo, custa R$ 220 por mês. “Um terço do que a gente pagaria em uma faculdade em Guaxupé, aqui perto”, compara a aluna Cláudia Cristina de Faria. E, mesmo que tenha dificuldade para pagar, muita gente faz o investimento porque o retorno é certo e rápido. Maria do Carmo Miguel, colega de Cláudia, é professora na rede municipal de Guaranésia há 20 anos. Quando tiver o diploma de pedagoga em mãos, seu salário receberá um acréscimo automático de 17%.
Um dos grandes apelos do ensino a distância é levar o conhecimento a regiões desprovidas de estrutura educacional. Cerca de 70% das universidades brasileiras se situam em capitais e grandes cidades. “Estar fisicamente presente é um privilégio de poucos; mas progredir nos estudos é uma necessidade para a maioria”, afirma Frederic Litto, presidente da Abed. Outro benefício de impacto é a abrangência. A EAD atende a uma demanda crescente de alunos que não caberiam nas salas de aulas. “Em um país com dimensões continentais como o Brasil, em que boa parte da população não tem acesso aos centros de pesquisa nem condições de arcar com as mensalidades, a educação a distância se coloca como uma ferramenta essencial para o crescimento nacional”, reflete Litto.
Onde estudar gratuitamente
E-Tec – O Programa Escola Técnica Aberta do Brasil (e-Tec) é do Ministério da Educação e tem por objetivo popularizar os cursos técnicos profissionalizantes de nível médio a distância. Os pólos de ensino, onde ocorrem parte das aulas (cerca de 50% é presencial), estão vinculados a universidades e centros técnicos de instituições municipais, estaduais e federais. Para se candidatar a uma vaga é necessário submeter-se a um processo seletivo.
www.cefetrn.br/coted/e-tec
Universidade Aberta do Brasil (UAB) – Criada em 2006, pelo governo federal. Todos os cursos são gratuitos e provêm de universidades públicas brasileiras, por meio de parcerias. Os professores com ou sem curso superior, de nível municipal ou estadual, têm preferência na ocupação das vagas. As remanescentes são oferecidas à população por meio de processo seletivo.
www.uab.capes.gov.br
Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) – Tem cursos de iniciação profissional, para jovens e adultos, com ou sem escolaridade. O objetivo é preparar para as funções de baixa complexidade, como operador de máquinas. Há cursos de qualificação profissional, para as áreas que incorporaram novas tecnologias; de aperfeiçoamento profissional, para as profissões que ganharam novas especializações; e de habilitação profissional, para formação de técnicos que concluíram o ensino médio. Há ainda cursos de pós-graduação.
www.senai.br/br/home/index.aspx
Escola Virtual da Fundação Bradesco – Cursos para formação de programadores, especialistas em matemática financeira e introdução ao
e-learning. Todos são abertos à população, mas boa parte é semi-presencial. Portanto, é preciso morar próximo à unidade.
www.escolavirtual.org.br
Mini Cursos Unicamp – Desenvolvidos pela equipe de Educação a Distância do Centro de Computação da Unicamp. São cursos de HTML (Ilustrado), Cascading Style Sheets (CSS) e Conceitos Básicos sobre Videoconferência.
www.ead.unicamp.br/minicurso
Fundação Getúlio Vargas – A instituição faz parte de um consórcio de instituições de ensino de diversos países que oferecem cursos pela internet. Os cursos de finanças pessoais, sustentabilidade e direito estão entre os mais disputados.
www5.fgv.br/fgvonline/cursosgratuitos.aspx
Sebrae – Oferece uma série de cursos online, com inscrições pelo site: análise e planejamento financeiro, como vender mais e melhor, gestão de cooperativas de crédito e gestão da segurança em alimentação, entre outros.
www.ead.sebrae.com.br (L.M.)
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