ARede nº74, outubro de 2011 – Ainda que o projeto piloto do programa Um Computador por Aluno (UCA), envolvendo 150 mil alunos em 300 escolas, esteja previsto para terminar em dezembro, as avaliações parciais já trazem um grande volume de ensinamentos. Os problemas são muitos, a começar pela infraestrutura das escolas (em algumas, os computadores educacionais, batizados de “uquinhas”, continuam nas caixas por falta de reforma na rede elétrica), pela limitada banda de acesso à internet e pela falta de formação contínua dos professores. Porém, a barreira maior, que está entravando o UCA, é a descontinuidade sofrida com a transferência da coordenação, este ano, para a Secretaria de Educação Básica, responsável pela parte pedagógica, e para o Fundo Nacional para o Desenvolvimento da Educação (FNDE), na área tecnológica.
Sempre foi voz corrente no Ministério da Educação (MEC) que o ministro Fernando Haddad não gostava do UCA. Aceitou o programa graças ao entusiasmo do então presidente Lula. Findo o governo Lula e extinto o Gabinete de Inclusão Digital da Presidência, cujas funções foram transferidas para o Ministério das Comunicações, o UCA ficou sem a mão forte do Planalto. Para complicar ainda mais, a Secretaria de Ensino a Distância, que compartilhou a coordenação com o gabinete, foi extinta pelo ministério. Como resultado, entre outubro de 2010 e agosto de 2011, o MEC não reuniu representantes das instituições de ensino superior que coordenam o processo; o pagamento das bolsas para os pesquisadores responsáveis pelo acompanhamento da formação nas escolas foi interrompido; e os recursos para viagens das equipes de formação foram cancelados.
A maior mazela, hoje, do programa, é a falta de prioridade entre as ações do MEC. Um quadro que, espera-se, seja revertido rapidamente, pois, como mostra a reportagem de capa desta edição (ver página 10), o piloto do UCA é um riquíssimo laboratório sobre o que não fazer e sobre o que fazer para colocar as tecnologias de informação e comunicação a serviço da formação do aluno — com sua participação ativa e crítica frente aos conteúdos digitais.
Como se trata de um programa importante em desenvolvimento, é fundamental o MEC retomar a articulação no âmbito federal, para que o piloto cumpra o seu ciclo. E, das lições aprendidas nas 300 escolas, se tire uma política integrada do uso dos dispositivos digitais na educação, tendo como Norte a comunicação em rede, condição básica para o aprendizado da cultura digital.
Lia Ribeiro Dias
Diretora Editorial
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