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Rádio livre, para escutar diferente.

A emissora da UFSCar, em software livre, confere sua audiência pelo site e redes sociais
Anamárcia Vainsencher  e Luciana Machado


ARede nº75, novembro de 2011 –
Nas rádios convencionais, a audiência se dá pelos aparelhos dos carros que circulam dentro dos limites de abrangência da transmissão ou das casas que ficam nessa área. No caso da rádio da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), o público está no mundo inteiro. Isto é, está na internet. A rádio, que surgiu sob o slogan “Escute diferente”, tem um estúdio que produz e veicula os programas, em tempo real – com interação e retorno instantâneo dos web ouvintes. “A gente sabe se as pessoas estão gostando da banda antes de a música chegar ao fim”, diz Ricardo Rodrigues, de 29 anos, formado em Imagem e Som pela universidade e diretor geral da rádio.

As mensagens chegam por e-mail ou redes sociais como Facebook e Twitter. Para ouvir a rádio UFSCar, basta ter qualquer equipamento com acesso a internet, como desktop, laptop, tablet ou celular. A emissora também está em ondas de rádio FM (95,3) – e pode ser ouvida em radinho de pilha –, embora isso pareça contrário aos seus princípios.

As ondas de rádio atingem apenas a cidade de São Carlos e seus arredores. Já pela internet, não há fronteiras. Além de escutar aos programas ao vivo, é possível acessar cada um em podcasts, arquivos de áudio que formam um banco de dados no site. Esses arquivos podem ser compartilhados entre os amigos e até armazenados em tocadores digitais. “Salvo meus programas favoritos em meu MP3 player. Gosto de ouvir quando estou na academia”, conta Fernanda Gomes, uma ouvinte. Fernanda segue a rádio pelo Twitter e pelo Facebook.

“É uma comodidade ao nosso público, que vive conectado”, diz Rodrigues, o diretor da rádio. As reportagens veiculadas em áudio geralmente são acompanhadas de conteúdo extra no site, como vídeos e links de aprofundamento. Cada um dos programas, como o “Tenho uma banda”, é contemplado com um blog, uma ferramenta que aproxima o público das produções.

A rádio é uma emissora pública online que nasceu da iniciativa de alunos e professores da Universidade de São Carlos. Seu primeiro programa foi exibido em 23 de agosto de 2007. Todas as etapas de produção da emissora são realizadas com tecnologias livres, e a principal é o Rivendell, sistema de automação de áudio customizado pela rádio cujo software foi traduzido por um funcionário, destaca Rodrigues. Para ele, o maior diferencial do projeto está no fato de que, “no processo de desenvolvimento tecnológico, foi colocado em prática o papel público da emissora”. Toda a programação é essencialmente composta por materiais produzidos pelo público e por produtores independentes.

Desde o lançamento da rádio, muita coisa mudou. Especialmente a interação com a audiência online. Sem apoio cultural, a rádio UFSCar, uma emissora educativa com concessão outorgada à Fundação de Apoio Institucional ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico da UFSCar, continua mantida pela universidade. Há nisso um ponto positivo e um negativo. Se por um lado faltam recursos para investir em equipamentos e profissionais (os repórteres ainda não fazem intervenções ao vivo da rua), a ausência de patrocínios dá uma liberdade rara entre emissoras de rádio.

A equipe se esforça para obter recursos de outras fontes. Por exemplo, participa de editais governamentais e prospecta patrocinadores para atividades específicas, de modo a expandir suas atividades. Essa captação, contudo, é muito mais difícil. Em outra frente, realiza ações na área da economia solidária com o objetivo de estabelecer redes criativas de sustentabilidade de iniciativas culturais e, assim, de expansão do seu alcance.

A emissora é um dos agentes na implantação da Rede IFES, de compartilhamento de conteúdo em áudio e vídeo entre as Instituições Federais de Ensino Superior. Outras instituições vêm se interessando pelas inovações propostas pela rádio UFSCar. A expectativa da emissora é de que, até o final de 2011, cinco rádios públicas tenham adotado o Rivendell.

Na programação, há espaço para talentos desconhecidos, sem vínculos com gravadoras. E não há a obrigatoriedade de tocar uma música por razões comerciais. “A gente só toca aquilo que realmente acha bom”, esclarece Rodrigues. Boa parte dos novos talentos apresentada pela rádio passa a ser reconhecida na rede. Em seguida, conquista espaço em shows na vida real, algo cada vez mais comum nos dias de hoje. “Muitos artistas que se apresentam aqui recebem convites para tocar em eventos”, diz Rodrigues. A rádio também divulga a agenda cultural da região.

Um dos programas de destaque da rádio é o “Megafone: amplificando as vozes da comunidade sãocarlense através das ondas de rádio”, veiculado todas as manhãs, de segunda a sexta-feira. É dedicado a debater a rotina da região, com especialistas como advogados, médicos, professores e economistas. O professor Antônio da Silva, de 59 anos, leciona história na Escola Estadual Jesuíno da Arruda, em São Carlos. Na profissão há 24 anos, ele é responsável por um programa chamado “Ensino Básico em Revista”. Voluntário, leva alunos e profissionais liberais toda semana até os estúdios da rádio para falar de temas relevantes e atuais, como sustentabilidade.

De vez em quando escala os alunos para cantar uma música ou mostrar algum talento na rádio. “Além de prestar um serviço para a comunidade, com informações úteis, o resultado em sala de aula é surpreendente”, avalia Silva. Os alunos melhoram suas notas em todas as disciplinas, pois, segundo o professor, passam a ver mais utilidade em boa parte das informações que leem nos livros. Eles se engajam nas pesquisas e ganham traquejo para improvisar ao vivo.  Há, ainda, aqueles que se encantam pelo ofício da locução e acabam se tornando radialistas.

www.radio.ufscar.br

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