conexao social muito alem de um telecentro

conexão social – Muito além de um telecentro

conexao social muito alem de um telecentro

Muito além de um telecentro

Fundação Banco do Brasil repensa o papel das Estações Digitais. Quer que se tornem nós de rede das comunidades.
Lia Ribeiro Dias


ARede nº 85 – outubro de 2012

COM 871 PONTOS ativos de inclusão digital e outros 197 em processo de implantação, estes dentro do programa Telecentros.BR, a Fundação Banco do Brasil tem um bom problema para resolver: revisar suas políticas de gestão e formação para gerir uma rede de unidades três vezes maior do que a que tinha até 2011. “Com a nova escala, tivemos de redesenhar o programa”, conta Claiton Mello, gerente de educação e tecnologia inclusiva da FBB.

O redesenho passa por uma nova forma de atua-
ção das Estações Digitais. De pontos de capacitação da comunidade no uso do computador e acesso à internet, as unidades devem passar a ser nós de articulação política com os demais movimentos sociais e culturais do entorno, nas comunidades onde estão instaladas. “No planejamento de 2012 definimos que nosso programa trabalharia os conceitos de rede e de valorização do conhecimento e saber locais”, explica.

Para ampliar o papel das Estações Digitais, foram definidos três pilares necessários para sustentar as novas metas. A revitalização da infraestrutura física das unidades, especialmente daquelas herdadas do Banco do Brasil; aumento da velocidade de conexão das Estações Digitais, com destaque para as localizadas no Semiárido e na região Norte do país; e construção de uma plataforma de conteúdo para a transformação social.

Todas essas medidas estão em desenvolvimento e devem ser concluídas até o final do ano. Mas, para que fossem eficazes, antes a FBB teve de fazer um cuidadoso levantamento do ativo que recebeu do Banco do Brasil no final de 2011, quando passou a ser responsável pela gestão dos telecentros mantidos pelo banco em parceria com organizações da sociedade civil. Para dar conta do novo desafio, o programa de inclusão digital da FBB ganhou uma gerência própria, a de tecnologia inclusiva, com orçamento de R$ 6 milhões este ano.

Quadro real
O levantamento mostrou que dos 3 mil pontos mantidos pelo BB (basicamente, o banco fazia a doação de equipamentos reciclados, cabendo ao parceiro fornecer o local e manter a unidade) estavam efetivamente em funcionamento pouco mais de 500. Estes, somados às Estações Digitais da rede da FBB, contabilizavam 781 unidades no final de agosto. Há, ainda, outros 400 pontos que estavam fechados, cujas organizações gestoras manifestaram interesse pela sua reabertura, segundo a mesma pesquisa.

Integrar as unidades herdadas do banco na rede da FBB, diz Mello, não é um processo automático. Como o programa do banco não tinha acompanhamento pedagógico, as unidades não estavam acostumadas com uma política de formação orientada tanto à capacitação dos alunos nas tecnologias digitais quanto à produção de conteúdo para a web. Além disso, a infraestrutura tecnológica estava muito defasada.

Concluído o levantamento, a primeira tarefa foi fazer uma atualização tecnológica do parque de máquinas das unidades. As Estações próprias da FBB sempre foram equipadas com máquinas novas. Mas, para essas unidades já montadas com máquinas usadas, a revitalização será feita com máquinas descartadas pelo Banco do Brasil. “Vamos priorizar as melhores máquinas entre as 4 mil doadas pelo BB, em agosto, para nossa unidade de metarreciclagem de Samambaia”, conta Mello.

Como não faz sentido, nos dias de hoje, ter telecentro com máquinas com boa performance sem conexão à internet, a Gerência de Educação e Tecnologia Inclusiva decidiu bancar o custo das conexões para as unidades que precisam. Segundo o levantamento, 18% das 871 unidades não têm acesso à web. Entre as que têm, em 60% a velocidade é acima de 1 Mbps. Mas, afirma Mello, as unidades do Semiárido e do Norte, onde foram instaladas as Estações Digitais no início do programa da FBB, não têm conexão de qualidade. “Onde houver oferta comercial, nós vamos melhorar a conexão”, diz.

Plataforma de conhecimento
Com o aumento de escala do programa, a FBB não pode continuar fazendo a gestão das Estações Digitais da forma tradicional. “Encontros presenciais nacionais tornam-se proibitivos pelo custo”, ressalta Mello. Frente à nova realidade, decidiu-se investir em uma plataforma de conteúdos com foco em articulação local, gestão de projetos e de tecnologias sociais, educação financeira para gestores, educação em tecnologias sociais.

A plataforma deve entrar em operação em novembro. De acordo com Mello, além dos cursos de formação da FBB, a plataforma vai trazer conteúdos de parceiros. O público-alvo do programa de inclusão digital da FBB é a juventude. “Queremos que as Estações Digitais, ao assumir o papel de nós nas comunidades, sejam locais atrativos para os jovens desenvolverem suas potencialidades, não só por meio das tecnologias de informação e comunicação, mas da interação com outros movimentos comunitários”, explica Mello. Ele acredita que a caminhada em direção a esse objetivo, que reserva um novo papel de protagonismo comunitário às Estações Digitais, será facilitada pelo fato de várias unidades terem comitê gestor.

Para avaliar a proposta de transformar as unidades em nós de rede, a FBB fez uma carta convite às Estações. Das 215 que responderam ao desafio de construir um novo modelo, metade tem comitê gestor. “Isso dá uma massa crítica para gerar novas ideias e formas de sustentabilidade do projeto”, avalia Mello. A sustentabilidade é fundamental, pois todas as Estações Digitais – sejam as da rede inicial da FBB, sejam as que se incorporaram em 2011 – funcionam em parceria com instituições da sociedade civil, que respondem por parte dos custos. O novo modelo talvez gere uma resposta mais positiva ao desafio da sustentabilidade.