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Criativos em rede

Monitores e usuários do Acessa SP recebem prêmios por ideias inovadoras para integrar os telecentros às comunidades
Rafael Bravo Bucco

ARede nº 85 – outubro de 2012

 

HÁ PELO MENOS duas coisas com as quais Ana Luiza Xavier Peral está acostumada. Uma, é ter ideias capazes de transformar – para melhor – a comunidade onde vive. A outra, é ser reconhecida muito além dos limites de seu município pelos resultados dessas ideias. Ana é, há três anos, monitora-projetista do posto do Acessa SP de Ilha Solteira, cidade a 674 quilômetros da capital paulista, localizada na divisa com o estado do Mato Grosso do Sul e que, apesar do nome, não é uma ilha. Ela é também a vencedora do troféu Projeto Destaque do 3º Prêmio Acessa SP.

O reconhecimento veio por conta do projeto intitulado Planilha Eletrônica e Educação Financeira, em que Ana e vários parceiros ensinaram 60 jovens a usar o editor de planilhas para organizar as próprias finanças. “Todo ano a associação comercial da cidade faz uma pesquisa sobre a taxa de inadimplência local. Eu soube que a taxa havia crescido 27% em comparação com 2010. Aí me acendeu uma luzinha”, conta, lembrando como tudo começou.

Empenhada em cuidar para que os jovens de sua comunidade não se tornassem devedores na praça, Ana usou o telecentro para desenvolver seu projeto. Chamou um grupo para dar noções de finanças, parcelamento, taxas de juros e assuntos afins. Convidou uma psicóloga para falar sobre consumismo e o prazer imediato da compra. Levou um gerente de banco para explicar a importância de organizar as contas desde cedo. Fez uma videoconferência com um economista brasileiro que vive na Irlanda. Conseguiu até que a prefeitura arcasse com a ida de 45 dos jovens à capital para uma aula sobre investimentos na Bolsa de Valores.

Nos computadores do Acessa, os jovens aprenderam a usar programas de administração. Foram formadas quatro turmas, que tinham aulas ou encontros semanais de cerca de duas horas. “Fui em outros dois programas sociais da cidade: o Projeto Agrícola Social e o Ilha de Papel. Sabia que ali havia muitos jovens, a maioria nunca tinha ido ao Acessa. Eles estão na idade que começam a ter recursos próprios, uma boa oportunidade para promover a educação financeira”, explica.

Não é a primeira vez que Ana tem seus esforços reconhecidos. Em maio ela recebeu o Prêmio Mário Covas na categoria Cidadania em Rede, pelo mesmo projeto. Em julho de 2011, ela ficou entre os 12 finalistas do 2º Prêmio Acessa SP, com o projeto Sua Vida em Tuas Mãos, realizado em 2010, em que adolescentes aprendiam como montar um currículo, se portar em uma entrevista profissional e até a fazer marketing pessoal.

O segredo para que suas iniciativas tenham resultados positivos é não se preocupar em criar um projeto que precise acontecer periodicamente. Pelo contrário, pode ser uma ação pontual, para resolver um problema imediato da comunidade. “Eu procuro trabalhar com uma necessidade real. O projeto de educação financeira foi realizado ano passado, mas este ano não encontrei um grupo que tivesse o mesmo problema”, relata a monitora.

Premiação
conexao social criativos em rede03Ana recebeu o troféu das mãos de David Zaia, secretário de Gestão Pública do Estado de São Paulo, Ricardo Mallet, gerente do Acessa SP, Drica Guzzi, coordenadora digital da Escola do Futuro (parceira estratégica do programa) e André Machado, diretor de serviços ao cidadão da Companhia de Processamento de Dados de São Paulo (Prodesp). A cerimônia de entrega aconteceu no final de setembro, no Memorial da América Latina, na capital. Na plateia, mais de 700 monitores.

O 3º Prêmio Acessa SP recebeu 57 projetos e foi realizado em três etapas. Um comitê avaliou aspectos como inovação, relevância, parcerias, documentação, produção de conhecimento e uso de tecnologia da informação, para chegar a 25 selecionados. Na segunda etapa, o mesmo comitê selecionou 12 finalistas. Por fim, um corpo de jurados formado por especialistas nas áreas de políticas públicas, internet e desenvolvimento de projetos comunitários, escolheu os três primeiros colocados.

O segundo colocado foi o projeto Blogueiros de Plantão, realizado em Mococa (275 km de São Paulo). Idealizado por Regina Buzo, usuária do posto, e pelos monitores Felipe Giuntini e Flávio Augusto da Silva, consiste em criar uma rede de blogs pessoais e um principal, dedicado a contar a história da cidade, falar de seus produtos e pontos turísticos. Alimentado por 11 pessoas, o blog ganhou volume, passando a ser fonte de informação sobre o trabalho de artesãos e estabelecimentos locais.

“Tínhamos a intenção de fazer um blog que mexesse com o povo todo e com o turismo. A gente fez um uniforme, que chama a atenção da comunidade, eles nos chamam para visitas. A gente vai até uma escultura, tira foto e posta no blog com a história da escultura, o que significa, o que é para o município. Nisso a gente faz o mocoquense conhecer a própria história”, conta Regina. Tudo foi feito sem custo algum. “A ideia é replicável para outras comunidades. Divulgando o município, podemos divulgar a região. Muitas pessoas não valorizam a própria cidade, mas para atrair turistas a gente precisa gostar de onde vive”, ensina.

Em terceiro lugar ficou o Foto Celular, de Francisco Cândido, o Chiquinho, projeto realizado em Colômbia (468 km de São Paulo). “A gente estuda técnicas de fotografia e, no final dos encontros, sugere uma atividade para a semana, como fotografar o ambiente. Aí o pessoal tem de ir fotografando e publicando nas redes sociais. A gente comenta as fotos e no próximo encontro debate também a questão ambiental”, explica. Seu projeto tem duração de seis meses, com encontros semanais de 1h30, e tem frequentadores com idades entre 10 e 54 anos.

Outro benefício gerado pela ideia de Chiquinho foi o aumento da frequência no telecentro onde ele atua. “A maioria das pessoas ali já tem computador com internet em casa, o que estava reduzindo a taxa de ocupação do posto. Como eles já têm acesso, pensei em oferecer algo além da internet”, diz. As próximas aulas serão dadas por um artesão, que vai ensinar a confeccionar molduras. “Vamos fazer uma exposição com as fotos em novembro. Estamos atrás de um parceiro para apoiar a ideia”, avisa o monitor.

Na cerimônia de premiação foi apresentado o novo portal do Acessa SP, que teve o visual renovado e novos serviços incluídos. Ficou mais fácil encontrar regras de uso, o manual do AcessaLivre (o software usado nos computadores das unidades), acompanhar os números do programa, cursos e minicursos oferecidos online e gratuitamente – além, é claro, de acionar a Rede de Projetos.

O Acessa SP tem 682 postos, onde trabalham 1,1 mil monitores. Este ano, o estado destinou R$ 20,5 milhões para o programa, cerca de 31% a mais que em 2011. Para o ano que vem, o orçamento ainda está em estudo, mas os compromissos já se acumulam. Há um ano planeja-se fazer mais Acessinhas, dedicados a crianças de 4 a 10 anos – atualmente existem dois, um no Centro de Integração da Cidadania, em Campinas, e outro no Parque da Juventude, em São Paulo. O governo também afirma que quer abrir mais 50 telecentros e renovar os equipamentos de 160 postos.

Para o próximo ano, Drica Guzzi, da Escola do Futuro, espera aumentar a participação popular nos projetos e no Prêmio. “É importante que o engajamento não precise somente do posto do Acessa SP. Assim a Rede de Projetos sai um pouco do lugar físico e o Prêmio ajuda a fortalecer a pessoa que tem a ideia”, sugere. A coordenadora vislumbra um futuro, ainda sem data, em que o Acessa SP terá como papel primordial fornecer rede sem fio de boa velocidade, uma vez que tablets e celulares serão a principal forma de acesso à internet. “A questão não é mais sobre equipamentos, é oferecer uma banda digna, de pelo menos 2 Mbps”, conclui. 

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