Banda larga faz bem à saúde
Conexão 3G em barco-hospital facilita o trabalho de médicos no atendimento a comunidades ribeirinhas da amazônia
Igor Ojeda
ARede nº 86 – novembro de 2012
EM TUPI, abaré significa “amigo cuidador”. Pois é esse o nome sugerido por moradores das margens do rio Tapajós, na Amazônia, ao barco-hospital que desde 2006 realiza atendimento básico de saúde à população ribeirinha da região. O Barco-Hospital Abaré, financiado pela ONG Terre dês Hommes Holanda, atende cerca de 15 mil pessoas de 73 comunidades que, antes, eram obrigadas a viajar até cinco horas para chegar a um centro médico nas cidades próximas, tendo, muitas vezes, que gastar muito dinheiro com alimentação, transporte e alojamento. Agora, a saúde vai até elas. Consultas médicas, atendimentos ambulatoriais, exames de rotina, pequenas cirurgias, pré-natais, neonatais, imunizações, atendimento dentário, planejamento familiar são oferecidos sem custo algum.
E, no esforço para proporcionar o melhor atendimento, médicos, enfermeiros, dentistas e agentes de saúde a bordo do Abaré contam, desde 2009, com uma importante ferramenta: conexão banda larga 3G. “A conectividade é uma arma efetiva para a segurança e qualidade da assistência para médicos que trabalham em áreas isoladas e de difícil acesso”, ressalta Fábio Tozzi, médico e coordenador de saúde do Projeto Saúde e Alegria (PSA), ONG gestora da iniciativa.
A banda larga no Abaré foi instalada por meio de uma parceria entre o PSA e as empresas Telefônica Vivo e Ericsson. Assim, o sinal da região foi reforçado e a cobertura no interior da embarcação, ampliada. Segundo Carla Teixeira Belitardo, diretora de sustentabilidade da Ericsson América Latina e gestora do projeto pela empresa, a conexão no barco-hospital contribuiu para o sucesso da iniciativa pois os médicos a bordo podem fazer pesquisas de diagnósticos, pedir uma segunda opinião a um colega, contatar os serviços de emergência dos hospitais, antecipar o tratamento de doenças e buscar prontuários nos hospitais da região. “A tecnologia melhora a prestação de serviço de saúde, pois permite o compartilhamento de informações entre médicos”, opina. Tozzi reforça a importância da banda larga: “Principalmente a possibilidade de acesso a uma segunda opinião pode fazer a diferença no resultado e na qualidade do atendimento de quem trabalha isolado em áreas remotas, como é o caso de grande parte dos médicos que vêm trabalhar em municípios ou comunidades na Amazônia”.
O Abaré está equipado com sala odontológica e de obstetrícia, equipamentos para exames clínicos básicos completos, entre outros, e instrumentos de comunicação e educação, com espaços para palestras e oficinas de capacitação. Além disso, revela Tozzi, há a bordo uma farmácia básica mantida pelas prefeituras locais que, somada ao estoque próprio, totaliza 180 tipos de medicamentos, fornecidos aos pacientes gratuitamente sob a condição de apresentação de receita médica. O barco-hospital carrega ainda uma “ambulancha”, que em casos de emergência atua no resgate de pacientes da região.
Os benefícios proporcionados pelo Abaré às comunidades ribeirinhas do rio Tapajós foram reconhecidos até pelo governo federal, que vem procurando seguir o exemplo. Em dezembro de 2010, inaugurou em Santarém (PA) a primeira embarcação do tipo, chamada de Unidade Básica de Saúde da Família Fluvial. O executivo lançou, inclusive, um edital para 100 barcos-hospitais – o financiamento para 32 unidades já foi aprovado.
Um dos responsáveis por isso é o doutor Tozzi. Inicialmente atuando apenas no atendimento à população ribeirinha, hoje ele faz a articulação com as autoridades locais para a criação de uma política pública. “Meu trabalho é de apoio às atividades das Secretarias de Saúde que atualmente conduzem a Unidade de Saúde da Família Fluvial. Além disso, estamos apostando na compra do Abaré pelo Ministério da Saúde e no estabelecimento de um verdadeiro barco-hospital-escola que vai servir de modelo para as populações ribeirinhas que, dadas as características amazônicas, estão isoladas ou quase excluídas do SUS [Sistema Único de Saúde]”, explica.
Para Carla Belitardo, além da necessidade de se continuar replicando o sistema de saúde da família fluvial, outro desafio é a expansão da cobertura de banda larga na região. Tozzi vê com esperança a possibilidade de uma melhoria da estrutura de comunicação a bordo do Abaré. “Se considerarmos a possibilidade real de no futuro próximo termos um barco escola, a comunicação abriria um leque infindável de oportunidades para sua aplicação no ensino médico e na pesquisa. Imagine podermos fazer uma videoconferência com alunos de todas as partes do Brasil e do mundo mostrando casos de doenças infectocontagiosas comuns por aqui, que os médicos só teriam oportunidade de ver e entender em livros”, ressalta. (Colaborou Tatiana Merlino)
www.abare.redemocoronga.org.br