Sustentabilidade – Ativismo jovem na rede

Ativismo jovem na rede

No Semiárido Mineiro, galera usa rede social para se comunicar e participar das tomadas de decisões em suas cidades
Igor Ojeda

ARede nº 86 – novembro de 2012

NELTINHA Oliveira dos Santos, de 22 anos, estava insatisfeita com as condições de funcionamento do telecentro comunitário de Franciscópolis, sua cidade, localizada no Semiárido Mineiro. O espaço é uma unidade do programa de inclusão digital Cidadão.NET, do governo de Minas Gerais. Ela, então, tomou uma decisão. Pela internet, realizou uma pesquisa colaborativa com jovens sobre os telecentros das regiões Norte e Nordeste do estado. Postou um questionário na rede e aguardou as respostas. O resultado surpreendeu. A enquete possibilitou um diagnóstico de 17 telecentros: muitos estavam fechados ou funcionando com menos da metade dos computadores. A pesquisa foi encaminhada ao governo, que foi obrigado a tomar providências.

A ação de Neltinha talvez não teria sido tão efetiva se não existisse a Rede de Jovens Comunicadores do Semiárido Mineiro, plataforma de conexão de centenas de jovens de várias cidades da região. Na rede, eles debatem temas do interesse de suas gerações e produzem comunicação como forma de incidir nas políticas públicas locais.

Formada em 2008, a proposta da rede – uma iniciativa da ONG Oficina de Imagens – é justamente estimular nos jovens a utilização das diversas linguagens comunicacionais para manifestar suas opiniões e buscar a participação efetiva no processo de tomada de decisões em seus municípios. “Desde 2007, a Oficina de Imagens é a Secretaria-Executiva do Selo Unicef [Fundo das Nações Unidas para a Infância] em Minas Gerais. Esse selo é uma certificação internacional para municípios que cumprem algumas metas na área de infância. No processo de nossa articulação com essas cidades, percebemos que havia uma fragilidade no que dizia respeito à participação dos adolescentes nas discussões políticas locais. A partir daí, passamos a fomentar a Rede Jovem”, conta Adriano Guerra, secretário-executivo da Oficina de Imagens.

Assim, um grupo foi aberto na Ning, plataforma online de criação de redes sociais. Com a ferramenta, os jovens podem publicar vídeos, fotos e montar fóruns de discussão. Segundo Bruno Vilela, coordenador e facilitador da Rede Jovem, a ideia é que eles debatam sobre suas dificuldades, percebam suas potencialidades e, juntos, criem soluções para suas principais demandas. “Podem postar suas produções de comunicação, como boletins, fotos, áudios, vídeos… É um espaço realmente de compartilhamento, tanto das produções, quanto das ideias”, explica. A interação também é feita por outras mídias sociais, como o Facebook e o Twitter.

O projeto deu tão certo que em três cidades da região – Itaobim, Pedra e Franciscópolis – formaram-se núcleos de jovens com os participantes da rede. “No nosso polo, em Franciscópolis, produzimos matérias mensais da nossa cidade e publicamos na Rede, compartilhamos vídeos produzidos por nós, trazendo sempre temáticas relevantes para a nossa juventude, como migração jovem e comunicação. E na Rede a gente vai trocando essas ideias e informações com outros jovens, o que gera uma discussão muito forte dentro do Semiárido Mineiro”, conta Neltinha.

De acordo com Vilela, a Rede Jovem de Comunicadores do Semiárido Mineiro ajuda seus participantes a ganhar consciência sobre o processo político de suas cidades e a entender como funcionam espaços como os conselhos municipais, para que possam integrá-los. Dessa forma, opina ele, os jovem conseguem, de alguma maneira, pautar o poder público com as demandas que consideram importantes. “As várias experiências e conhecimentos adquiridos com produção de vídeo, oficinas de comunicação, mobilização social, pôsteres, fotografia, textos jornalísticos, participação em fóruns e seminários relacionados ao direito da criança, do adolescente e do jovem me transformaram em uma pessoa mais qualificada, independente, e me fizeram uma cidadã mais ativa e participativa”, garante Neltinha, hoje formada em Ciência da Computação.

Guerra explica que hoje a Rede de Jovens funciona praticamente de modo autogestionário. “Não tem mais administração. A gente ainda posta informação, publica conteúdo, mas já rola muita interação entre eles, com contato direto, de forma autônoma”, conta. Segundo Vilela, os jovens mexem bastante na ferramenta, formatando-a como bem entendem. “Na verdade, cada vez menos tenho usado a rede. Tenho tentado ficar mais ausente para que os jovens assumam mais esse papel de articuladores”, esclarece.

Hoje, 575 adolescentes e jovens formam a Rede Jovem, que abriga mais de 200 vídeos, 2,7 mil fotos e cerca de 650 fóruns de discussão. Enquanto a iniciativa é financiada pelo Unicef e por recursos do Fundo da Infância e do Adolescente de Minas Gerais (FIA), a manutenção dos três núcleos de jovens e os projetos de criação de outros espaços semelhantes são bancados por uma emenda popular de R$ 100 mil feita ao orçamento do Estado de Minas Gerais, por meio da Assembleia Legislativa.

Segundo o secretário-executivo da Oficina de Imagens, o desafio para o futuro próximo é criar uma estratégia de fomento a iniciativas dos próprios jovens e assegurar que a rede tenha, de fato, articulação com os espaços de decisões políticas do Estado. 

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