Josia Bervanger, do Conexões Globais
24/05/2013 – Desde o surgimento da internet o acesso a produção cultural ficou mais simples. O texto antes lido no livro, a música ouvida no vinil, o vídeo rodado na película passaram a ter também sua versão digital. O acesso a produção cultural ficou a um clique, basta um computador. Com objetivo de discutir esta ideia central, o último debate dos Diálogos Globais do primeiro dia do Conexões 2013, 23 de maio, falou sobre o tema “Conhecimento livre na rede”.
Via web, o sueco Peter Sunde, um dos criadores do The Pirate Bay, alertou sobre uma contraofensiva do mercado a liberdade de compartilhamento de conhecimento na internet e conjecturou a diferença entre as duas visões que se contrapõe de compartilhamento de conteúdos “Cada vez mais as empresas grandes estão controlando a infraestrutura dos dados. Já nós, estamos trabalhando em projetos parecidos. Mas queremos dominar os dados para disponibilizar para todos”, frisou.
O produtor da banda Teatro Mágico e sociólogo Gustavo Anitelli usou a trajetória desse grupo musical para exemplificar como a internet quebrou as antigas regras de acesso a música do mercado tradicional da cultura. “O cenário da música era dividido entre os que tinham contato com as gravadoras e os que queriam sair dessa relação. Com a sociedade em rede, também veio uma nova lógica, de horizontalidade com o público, de diálogo. O Teatro Mágico surgiu daí, da música baixada na internet”, disse.
O advogado Ronaldo Lemos, único latino a integrar o Conselho de Creative Commons, lembrou que a internet propiciou a “possibilidade que as pessoas possam criar cultura e serem ouvidas.”
Críticas ao mercado tradicional da cultura
Entre as falas dos palestrantes também não faltaram críticas a resistências do mercado a cultura livre e, em especial ao Ecad.
“Nesse novo cenário de acesso a cultura que a internet proporcionou, o Ecad tem tido dificuldade para lidar. Sua intenção é taxar a circulação da produção cultural e arrecadar com isso. Já chegaram ao ponto, inclusive, de querer cobrar direito autoral dos blogueiros que compartilham conteúdos de vídeos e músicas e até mesmo, toques de celulares”, disse o sociõlogo Sérgio Amadeu. “Esses caras querem deter a liberdade na rede por que sabem que com a livre circulação dos conteúdos na rede já eras pra eles. O controle dos conteúdos nada mais é do que a redução da capacidade coletiva da humanidade para solução dos problemas”, sentenciou.
“Recentemente, o Ecad foi condenado pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômicas a pagar R$ 40 milhões por formação de cartel e abuso na restrição do acesso a competição”, lembrou Ronaldo Lemos quando a palavra voltou a ele.
Política de Estado para uma nova cultura digital
O secretário-adjunto de Cultura do Rio Grande do Sul, Jéferson Assumção, falou da primeira experiência no estado de incentivo a produção de conhecimento e cultura livre “Sempre tivemos o artista legitimado pelo Estado e muitas vezes pelo mercado, hoje temos a legitimação pelo comum, pelas visualizações, pelos ‘likes’ e uma legitimação um pouco mais complexa em termos de arte nesse momento. O Estado não pode virar as costas para este tipo de arte que surge na internet e deve ressignifcar políticas ao encontro desses artistas. É preciso uma nova economia da cultura e uma nova lógica para lidar com esses produtores de arte”, falou.