Segundo o diretor da CIA, cada dispositivo conectado facilitará o envio de dados pessoais aos departamentos de inteligência em todo o mundo.
Miguel Jorge
do ALT1040
Muitos de nós podemos pensar em um futuro próximo em que todos os lares estejam conectados à internet e a automatização de qualquer eletrodoméstico torne nossa vida mais simples graças à conectividade de que disporemos. É isso o que pensa a CIA, embora a vida mais simples em questão será a de sua atuação. O diretor da agência, David Petraus, falou recentemente sobre o futuro que chega, um futuro em que cada dispositivo conectado facilitará a “chegada” de dados pessoais às agências de espionagem no mundo, em que cada passo que damos através da conexão lhes dirá o que estamos fazendo.
É que, embora estejamos caminhando para uma realidade em que cada dispositivo do lar se conecte à internet, cada um destes poderá se converter de forma fácil e simples em um fluxo de dados para a própria CIA. Um efeito sobre o qual falou Petraus durante a última cúpula da In-Q-Tel (empresa da CIA de capital de risco) e que sem hesitação foi chamado por ele de “efeito clandestino”.
A razão é muito simples. Se durante muitos anos vimos em centenas de filmes como os serviços de espionagem se dedicavam a se infiltrar em casas para incluir dispositivos de escuta ou câmeras, a chegada das “casas inteligentes” permitiria erradicar essas práticas. Petraus fala do envio diário de tags que realizaríamos da mesma forma que em um equipamento pessoal. Fala também dos dados que mostraremos de geolocalização em tempo real. Imaginemos um smartphone com uma aplicação que nos permita diminuir a intensidade da luz de uma sala da casa; esses dados permitiriam que a agência pudesse saber o ponto exato em que nos encontramos.
Segundo Petraus, “os produtos que sejam de nosso interesse serão identificados, localizados, monitorados e controlados a distância por meio de tecnologias como radiofrequências, sensores de redes, pequenos servidores embebidos e recolectores de energia. Além disso, tudo seria possível através de uma conexão à rede de próxima geração, utilizando baixo custo e alta potência de cálculo. Estamos a caminho do cloud computing e, em última instância, da computação quântica. Esses dispositivos de espionagem do lar nos farão repensar nossas noções (atuais) de identidade e sigilo”.
Talvez as palavras de Petraus vão muito longe, mas como aponta a revista Wired, é possível que de suas palavras possamos ler as entrelinhas. Existe um vazio legal na atualidade em torno da recompilação de dados de geolocalização nos dispositivos. GPS, smartphones, tablets… a maioria dos fabricantes de hardware tem a capacidade de guardar muitos de nossos dados durante um período que varia de acordo com o produto, situação que torna fácil a tarefa de seguimento para qualquer agência de espionagem governamental se esta assim o requerer.
Mas não só isso: quando Petraus fala de se criar novas identidades online para os espiões secretos, ele fala de erradicar a pegada digital dos agentes após suas ações. “Pais orgulhosos documentam o nascimento e o crescimento de seus futuros agentes da CIA em todas as formas de mídias sociais, as quais todo mundo pode ter acesso por décadas. Temos que pensar como criar pegadas digitais para as novas identidades de alguns agentes.”
Possivelmente ele fale de uma espécie de “caché” invisível para os espiões… ou simplesmente da possibilidade que espaços como Facebook e seu Timeline começam a oferecer, por meio dos quais é muito simples voltar no tempo do histórico do usuário e, portanto, coletar qualquer informação sem a necessidade de agentes secretos. (tradução: Igor Ojeda)
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