Do Tele.Síntese Análise
14/11/2013 – O Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br) estima que até o final do primeiro semestre de 2014 os pacotes de endereçamento IPv4 se tornarão um recurso escasso, de forma que a distribuição será limitada à garantia de entrada de novos provedores de conexão no mercado brasileiro. O cenário é preocupante porque o uso do protocolo de endereçamento IPv6 é muito pequeno – de acordo com o Google, o tráfego IPv6 é de apenas 0,5% do total da internet brasileira. O movimento para que todos os elos da cadeia da internet estejam preparados para o tráfego IPv6 ainda é considerado lento e a alternativa de compartilhamento de endereços IPv4 por usuários, com a restrição de portas, pode respingar na experiência de uso de alguns tipos de aplicações.
“Existem impactos [no compartilhamento de endereçamento IPv4 com restrição de portas], algumas aplicações como games, P2P e VoIP podem não funcionar adequadamente”, explica Ricardo Patara, gerente de recursos de numeração do NIC.br, entidade responsável pelo registro de domínios no Brasil. Uma solução que garante o menor impacto para o usuário final vem sendo debatida pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), Anatel e provedores de conexão. Mas o ideal é que o compartilhamento seja usado por um período curto, como explica Marcos de Souza Oliveira, gerente de Certificação e Numeração da Anatel.
“Existem técnicas de compartilhamento de endereços IPv4 que permitem um menor impacto nesses tipos de serviços. No entanto, trabalhamos para que este período de uso de endereços compartilhados seja o menor possível”, diz Oliveira. O tempo de uso do compartilhamento de endereços IPv4 será determinado pelo grau de esforço de adaptação ao novo protocolo IP das redes de telecomunicações, das aplicações de internet, provedores de conteúdo e dos equipamentos usados na ponta, pelo contratante do serviço.
As operadoras, neste momento, estão adquirindo a plataforma e equipamentos que suportem o novo protocolo. E preveem a atualização dos equipamentos existentes hoje, que suportam apenas IPv4. “É um trabalho denso, porque altera a topologia da rede, mas trabalhamos com um roll out agressivo para que o processo esteja concluído em 2014”, afirma Charles Costa, diretor do SindiTelebrasil, entidade que representa as prestadoras de serviço de telecomunicações. Essa ação concorre com outros deployments das operadoras, como a cobertura de 3G e 4G obrigatórias, e vem em um momento de resultados financeiros mais apertados, o que torna a migração um esforço ainda maior para elas.
A Anatel estuda a inclusão, no processo de certificação e homologação da agência, da avaliação quanto ao suporte ao protocolo IPv6. “Tal iniciativa poderá auxiliar a migração para a versão mais nova do protocolo IP, uma vez que teremos produtos no mercado adequados a este novo cenário”, afirma Oliveira. A agência, no entanto, ainda não fala em prazos para colocar a medida em operação. A iniciativa da Anatel é vista com bons olhos pelo SindiTelebrasil: “Nas discussões, ela [a Anatel] está muito sensível à questão dos equipamentos, considerando validação e certificação para o IPv6. Ela sabe que isso vai ser necessário”, afirma Costa.
Escassez do protocolo antigo
Da parte do NIC.br, explica Patara, além dos esforços de divulgação do novo protocolo de endereçamento e da importância da migração e apoio técnico para empresas, ações que ocorrem desde 2008, a distribuição de pacotes IPv4 já mudou para refletir a realidade de escassez no curto prazo. “Estamos orientando as provedoras de conexão a resgatar endereçamentos dados a, por exemplo, usuários corporativos e que já não são mais utilizados”. Ainda, a entidade só provê endereçamento para a necessidade de três meses das provedoras. “O NIC.br tem aumentado o seu grau de exigência em relação à utilização eficiente do recurso e tem exigido mais dados para liberação. Com o volume de informações que entregamos, o CGI.br tem sugerido a melhor forma de utilização dos recursos”, detalha Costa.
Apesar desses esforços, os diversos elos do ecossistema da internet seguem especialmente preocupados com o atraso ao suporte de IPv6 por provedores de conteúdo. “A gente fica preocupado, porque mesmo que nossa infraestrutura estivesse adequada, o usuário não conseguiria acessar diversas aplicações”, lamenta o diretor do SindiTelebrasil.