Brasil e Canadá debatem parcerias para troca de conhecimentos e tecnologia

5/12 - Conferência aborda situação da economia criativa no mundo e como os dois países podem cooperar entre si.

Rafael Bucco *

5/12/2013 – Percival Henriques, presidente da Associação Nacional pela Inclusão Digital (Anid) abriu a Conferência Brasil Canadá 3.0, esta quinta-feira, com um dado: o déficit na balança comercial brasileira atingiu R$ 5 bilhões apenas no setor de TI. Diante do número, ele reforçou a urgência de o país adotar medidas que incentivem o desenvolvimento da indústria de tecnologias da informação e comunicação no país por meio da educação.

“Precisamos incentivar meninas e meninos do Nordeste a se tornarem empreendedores. Eu preferia que aqui surgissem dois Steve Jobs a que achássemos novas bacias de petróleo”, falou.

Participaram da abertura do evento o vice-governador da Paraíba, Rômulo Gouvea, Demi Getschko, do CGI.br e palestrante desta tarde de quinta, e Stephane Larue, cônsul geral do Canadá no Brasil.

Larue comentou os resultados da parceria entre os países, intensificada por acordo em 2008. “Neste ano foi assinado um convênio entre Brasil e Canadá para licenciar tecnologia e inovação. São quatro setores: biologia, tecnologias verdes, tecnologia da informação, e tecnologia oceânica”, explicou. 

Rômulo Gouveia ressaltou a importância do evento, realizado pela primeira vez em 2012. Lembrou que contribuiu para o desenvolvimento de um pacote de investimentos de R$ 100 milhões para o desenvolvimento de TICs na Paraíba, anunciado em julho deste ano.

O primeiro painel do dia teve como tema “Promovendo a Economia Digital Criativa”. A mesa foi composta por: Carlos Afonso, representante da sociedade civil no CGI.br; Erisvaldo Junior, da Startup Yupi Studios; Alain Francq, da Universidade de Waterloo (Canadá); Kevin Tuer, diretor da Rede de Mídia Digital do Canadá (CDMN na sigla em inglês).

Afonso iniciou destacando o momento delicado em que vivemos, com espionagem profunda dos cidadãos, esgotamento do protocolo IPv4 e transição para o IPv6. “A partir da transição do enderaçamento IPv4 para IPv6, que tem uma quantidade muito maior de numeração, todos os dispositivos poderão estar configurados com acesso à internet por número único. Tecnicamente seria possível acessar sua torradeira de qualquer ponto da rede. Há indícios de que isso é um risco”, frisou.

O representante do CGI afirmou que regulações governamentais têm surgido, e devem surgir ainda mais, para definir o modo como os dados que circulam pela internet das coisas podem ser usados. Por fim, comentou o risco à inovação que políticas pouco democráticas podem ocasionar. “Outra coisa que quem trabalha com economia criativa não pode deixar de considerar são os acordos internacionais de propriedade intelectual. São coisas das quais sequer os Congressos participam. O novo risco, uma reedição do ACTA, é o TPP”, disse.

Os demais participantes preferiram não tocar no tema delicado. O Canadá é um dos países que participam da proposta do TPP, um acordo comercial entre países banhados pelo oceano pacífico e que prevê sanções e penalizações a quem compartilhar conteúdos protegidos por direitos autorais, entre outras coisas.

Tuer comentou o sucesso da parceria com o Brasil e como o Canadá investe no que chama de Soft Landing, que consiste em oferecer auxílio a empresas locais que tentam atuar em outras nações. Para fazer isso, os canadenses criaram uma rede de inovação, a CDMN, com 27 pontos em todo o país. A rede reúne universidades, incubadoras, laboratórios de pesquisa, fornecedores de serviços corporativos. “Daí impactamos 3352 startups”, afirmou. 

Apenas o programa de soft landing ajudou 47 empresas a explorar outros territórios nos últimos cinco anos, o que já foi revertido em mais de US$ 30 milhões. Toda a CDMN já ajudou a fundar 961 empresas, tendo impacto econômico acima de US$ 1 bilhão de dólares.

Junior, da startup Yupi, que esteve no Canadá em estágio para conhecer a CDMN, voltou impressionado. “Temos muito o que aprender ainda. João Pessoa está carente. É preciso juntar as pessoas numa incubadora, numa aceleradora, para que os jovens possam pensar em não só em fazer concurso público ou ir para um grande empresa. Precisamos de algo que integre os estudantes e um grande centro. Precisamos de um hub para reter este talento”, disse.

Participam da Conferência autoridades do governo brasileiro, do governo canadense, representantes da sociedade civil e estudantes diversos pontos do país. Este ano o evento teve mais de 2,4 mil inscritos, dos quais 1,2 mil foram selecionados para participar gratuitamente. A Conferência acontece até amanhã, 6 de dezembro, em João Pessoa.

 * O repórter viajou a convite da Anid