Inclusão digital de pessoas com deficiência ainda depende da academia

06/12 - Debate realizado na Conferência Brasil Canadá 3.0 mostra predominância de pesquisas das universidades sobre iniciativas privadas.

Rafael Bucco

06/12/2013 – O primeiro painel do dia da Conferência Brasil Canadá 3.0, que acontece em João Pessoa (PB), abordou o desenvolvimento de tecnologias para a inclusão digital de pessoas com deficiência. 

Joana Belarmino, professora de comunicação social da Universidade Federal da Paraíba, mediou a conversa. Ressaltou que a inclusão digital das pessoas com deficiência ainda está distante. “A sociedade e as corporações não conhecem a realidade dessas pessoas”, disse, ao comentar a falta de produtos e até de compreensão dos desafios enfrentados diariamente por quem tem deficiência. 

André Luiz Brandão, criador do premiado Jecripe, um jogo desenvolvido para crianças com sindrome de down, comentou o esforço necessário para realizar pesquisa e desenvolver na área. Segundo ele, o Jecripe foi feito em 10 meses, ao longo de 2009, com aporte, conquistado por edital, de R$ 48 mil do governo do Rio de Janeiro. “Para uma equipe de várias pessoas trabalharem por um ano, dá para calcular que não foi feito por dinheiro”, disse.

O Jecripe ganhou diversos prêmios desde o lançamento, em 2010. Traz exercícios para desenvolver as habilidade de crianças de 3 a 7 anos com Síndrome de Down. Ao executar exercícios, as crianças recebem orientações e são informada sobre erros ou acertos. “Escolhemos uma voz muito carinhosa para falar com a criança no momento de dar a resposta. O cursor do mouse tem a característica da mão das crianças com Síndrome de Down”, explicou. 

De acordo com Brandão, uma segunda versão, com novos exercícios, está sendo desenvolvida. Novamente, com estímulo de edital ganho em 2012 no Rio de Janeiro. O primeiro game pode ser baixado gratuitamente no site www.jecripe.com.br.

Aurélio Pimenta, brasileiro que atua na empresa canadense Essencial Accesibility, apresentou a deficiência como oportunidade comercial. Falou que as empresas deveriam, sim, se voltar para atender essa população que alcança 1,1 bilhão de pessoas no mundo. “Quase uma China”, resumiu. Segundo ele, o potencial econômico justifica a criação de soluções de baixo custo para pessoas com deficiência. “O valor do mercado é de quase US$ 4,1 trilhões”, disse.

Ele mostrou como sua empresa aborda a questão, distribuindo um software que permite a pessoas com deficiência motora, com tetraplegia e distrofia,  navegar na internet apenas com movimentos da cabeça. “As empresas pagam para distribuir entre seus clientes”, explicou. Walmart e Mastercard são exemplos de empresas que distribuem gratuitamente a tecnologia desenvolvida pela Essential.

Em seguida, Jutta Treviranus, do Instituto de Design Inclusivo do Canadá, comentou a relevância de mudar a percepção sobre o deficiente a partir da criação de produtos com desenho universal. Explicou como o desenho universal atende a todos, e pode gerar um ciclo virtuoso de inclusão das pessoas com deficiência por facilitar não só o consumo, mas a inclusão profissional.

Por fim¸ a professora Joana relembrou o papel da academia. “A universidade tem que mudar a cultura de pensar a deficiencia como limitação. A limitaçao está na sociedade, nos equipamentos, mais do que na pessoa. Se qualificarmos as pessoas, elas terão capacidade. elas precisam estar nos postos de trabalho normais. Normalmente as pessoas com deficiência estão em associações. Essa interação modifica a inserção, a qualificação das pessoas”, concluiu.

A conferência Brasil-Canadá 3.0 é uma realização do Governo do Estado da Paraíba e do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) e tem como patrocinadores master a Associação Nacional para Inclusão Digital (Anid), Câmara de Comércio Brasil-Canadá (CCBC), Governo do Canadá e da Empresa Paraibana de Turismo (PBTUR).

*O repórter viajou a convite da Anid.