Falta de políticas públicas barra uso das TICs na saúde, aponta pesquisa

17/12 - Levantamento realizado pelo Cetic.br aponta também a falta de capacitação como barreira para adoção de tecnologias da informação na área.

Fatima Fonseca
Do Tele.Síntese

17/12/2013 – As principais barreiras para a adoção de tecnologias da informação e comunicação na melhoria das condições de saúde no país não estão relacionadas a infraestrutura (equipamentos e acesso à internet), mas sim à capacitação de profissionais e à falta de prioridade nas políticas públicas.

Essa é a principal conclusão da primeira pesquisa TIC Saúde, realizada ao longo de 2013 pelo Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação (Cetic.br), órgão ligado ao Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), e divulgada nesta terça-feira (17). Foram entrevistados 1.685 gestores de estabelecimentos de saúde (42% do setor público e os demais 58% do privado) e 4.180 profissionais de saúde, entre médicos e enfermeiros.

A falta de prioridade das políticas públicas como barreira que dificulta ou dificulta muito a implantação das TIC foi apontada por 83% dos médicos e 72% dos enfermeiros; enquanto 75% dos médicos e 71% dos enfermeiros consideram a falta de treinamento como fator que dificulta ou dificulta muito a implantação e o uso de sistemas.

 “A informática na área de saúde tem algumas particularidades como a segurança de informações, caso do prontuário, e o Brasil tem três ou quatro centros para a formação de profissionais para o uso da tecnologia na área de saúde”, informou Heimar de Fatima Marin, professora titular da Unifesp, uma das três entidades acadêmicas que colaboraram para o planejamento da pesquisa (as outras duas foram a USP e a FGV).  

Para o coordenador de Pesquisas do Cetic.br, Fabio Senne, o resultado deixa claro que as políticas públicas para o setor precisam considerar não apenas o fomento à infraestrutura, mas também criar centros de capacitação. “O levantamento mostrou que apenas 23% dos médicos e 25% dos enfermeiros fizeram algum curso na área de informática nos últimos 12 meses”, informou Senne.

A falta de recursos financeiros para investimentos em tecnologia aparece em terceiro lugar como fator que dificulta a implantação de sistemas eletrônicos na área de saúde, seguido por equipamentos obsoletos. O estudo foi realizado com o objetivo de compreender o estágio de adoção das TICs nos estabelecimentos de saúde do Brasil e a apropriação dessas tecnologias pelos profissionais do setor.

Para o levantamento, o Cetic.br adotou o modelo de pesquisa proposto pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e os resultados da TIC Saúde consideraram quatro tipos específicos de estabelecimentos de saúde, com base em uma definição do IBGE: estabelecimentos sem internação, estabelecimentos com internação e com até 50 leitos, estabelecimentos com internação e com mais de 50 leitos e estabelecimentos de serviço de apoio à diagnose e terapia (SADT).
 
Infraestrutura de TIC
Dos 1.685 estabelecimentos de saúde pesquisados, 91% possuem acesso à internet. A universalização, porém, se dá nos grandes estabelecimentos. Nos estabelecimentos sem leito para internação (ambulatórios, clínicas, unidades básicas de saúde e prontos-socorros) a penetração é menor. “Nesta categoria, 20% não possuem acesso à internet e este resultado está concentrado nas unidades do setor público”, informou Senne.

Conforme o levantamento, a banda larga fixa está presente em 96% dos estabelecimentos que possuem acesso à internet. A tecnologia 3G também já começa a fazer parte da infraestrutura tecnológica dos estabelecimentos de saúde no Brasil e já está presente em 28% das organizações que utilizam internet.
 
A TIC Saúde 2013 mostra também que 41% dos estabelecimentos de saúde possuem departamento de tecnologia da informação, sendo que essa estrutura está concentrada nas organizações com mais de 50 leitos de internação (75% possuem departamento de TI).

Outra constatação da pesquisa está relacionada ao uso da tecnologia. “É razoável na área de gestão, mas apresenta baixa maturidade no uso para a melhoria do atendimento”, destacou o coordenador de Pesquisa do Cetic.br. Em 83% dos estabelecimentos os dados cadastrais dos pacientes estão disponíveis eletronicamente; em 60% deles é possível obter os exames laboratoriais no meio eletrônico, mas apenas 42% disponibilizam eletronicamente o histórico ou anotações clínicas sobre o atendimento.
 
Além de investigar os estabelecimentos de saúde, a pesquisa ouviu médicos e enfermeiros para saber como esses profissionais usam as TICs e constatou que a penetração neste segmento é superior ao da média nacional. Conforme os dados da TIC Saúde, 99% dos médicos e 97% dos enfermeiros têm acesso à internet no domicílio. A média nacional, segundo dados da pesquisa TIC Domicílios 2012 do CGI.br, é de 40% dos domicílios brasileiros com acesso à Internet.

Vantagem no setor público
Com relação à telessaúde no Brasil, os dados da TIC Saúde destacam o papel das organizações públicas no desenvolvimento de ações de educação em saúde e nas atividades de pesquisa à distância: 30% dos estabelecimentos públicos com internet possuem serviços de educação a distancia em saúde e 24% mantêm  atividades de pesquisa a distancia. “O levantamento mostra que 24% dos estabelecimentos públicos com internet participam de alguma rede de telessaúde, enquanto 8% dos privados com internet declararam integrar esse tipo de rede”, disse Senne. A íntegra da pesquisa pode ser acessada no endereço www.cetic.br