Mike Ramsey
Do The Wall Street Journey
15/02/2012 – As montadoras estdunidenses, despreocupadas com regras mais rígidas sobre a distração no trânsito, estão acumulando novas tecnologias em seus veículos, desde telas de 17 polegadas no painel até serviços que acessam o Facebook e compram ingressos de cinema on-line.
Com os consumidores cada vez mais colados aos seus aparelhos eletrônicos e acostumados com um fluxo constante de informação, as montadoras estão lançando o que chamam de “carro conectado”. Esses veículos podem fazer de tudo, desde reservar lugares num restaurante até mostrar mensagens do Twitter — tudo isso a cem quilômetros por hora.
O Sync, da Ford, foi o primeiro sistema a conectar o celular ao painel do carro. E há outras novidades a caminho. Software para importar para os carros aplicativos feitos para o iPhone e o Android deve chegar ao mercado em breve.
As novas tecnologias de conexão estão ganhando importância para as montadoras, cada vez mais interessadas em atrair motoristas mais jovens, que em vários mercados maduros, como os EUA, estão optando por não ter carro.
A General Motors Co. vai lançar no segundo trimestre um painel de oito polegadas com tela de toque para aplicativos, navegação na web e música online, que pode ser ativado por voz, toque na tela ou controles no volante. A Ford Motor Co. já permite que os motoristas enviem e recebam mensagens via Twitter e ouçam música online por meio da sua tecnologia Sync. Os novos Mercedes-Benz que serão lançados no segundo trimestre vão acessar o Facebook e fazer pesquisas no Google. Quem dirigir um desses Mercedes não poderá digitar textos enquanto o carro está se movimentando, mas frases pré-gravadas podem ser selecionadas com um clique.
Os clientes dizem que amam os recursos eletrônicos. “Gosto do visual”, disse Jamie Walters Kaye, 38, executivo de uma produtora de televisão que recentemente comprou um Ford 2012 com o sistema Sync. “É verdade que distrai um pouco, mas me permite avançar com meu trabalho enquanto estou dirigindo, sem ter que olhar para o celular. Posso fazer tudo com comandos de voz.”
As montadoras dizem que as funções desses sistemas que permitem comandá-los por voz, deixando as mãos livres, são seguras — ou, pelo menos, mais seguras do que permitir ao motorista procurar um número teclando na lista de contatos do celular, para iniciar uma chamada ou mandar uma mensagem de texto. Elas vêm argumentando com os reguladores que se pode conseguir mais segurança com comandos de voz e funções embutidas no volante.
“Não é possível impedir” essa evolução, disse Michael Sprague, diretor de marketing da divisão estadunidense da coreana Kia Motors Corp. “Os clientes vão continuar a usar o celular enquanto dirigem, e tudo o que podemos fazer, como fabricantes, é oferecer o que eles estão pedindo e dar aos recursos o máximo de segurança.”
Rob Reynolds, diretor executivo da FocusDriven, grupo de prevenção da distração ao volante, disse que um recurso “com mais segurança” não é a mesma coisa que um recurso “seguro”. “A atitude das montadoras é tornar a distração ao volante mais segura do que nunca”, disse Reynolds, cuja filha de 16 anos morreu em um acidente causado por um motorista distraído. “Eles estão colocando um filtro bem grande no cigarro, de modo que vai levar mais tempo para matar o usuário.”
As montadoras apontam para estudos, inclusive um feito por pesquisadores do Instituto de Transportes da Universidade Estadual da Virgínia que mostram que falar ao celular aumenta o risco de um acidente ou quase acidente em 1,3 vez, enquanto teclar um número no aparelho aumenta o risco 2,8 vezes. Enviar mensagens de texto aumenta em 20 vezes a probabilidade de alguém se envolver em um acidente ou quase acidente.
Esses dados, obtidos por meio de centenas de horas de monitoramento por câmeras das pessoas dirigindo no dia a dia, levaram as montadoras e o governo à conclusão de que as atividades com “mãos livres” são seguras. Outros estudos, inclusive um feito por Michael Strayer, pesquisador da Universidade de Utah, mostram que falar ao telefone, seja com as mãos livres ou não, é igualmente perigoso. A maioria dos novos sistemas eletrônicos nos carros têm controles por tela sensível ao toque.
Telefonar com as mãos livres enquanto se dirige “não é o grande problema dos motoristas dos EUA”, disse o secretário dos Transportes do país, Ray LaHood, depois que uma proposta feita em dezembro pelo Conselho Nacional de Segurança nos Transportes pediu uma proibição total do uso de celulares pelos motoristas. Outro grupo, a agência do governo de segurança nas estradas, ou NHTSA, está estudando a distração cognitiva causada pelas novas tecnologias, e deve divulgar um relatório no fim do ano.
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