Rafael Bravo Bucco
28/04/2014 – Começou hoje, em Passo Fundo (RS), o 3º Seminário Nacional de Inclusão Digital. O evento reúne acadêmicos e professores que pesquisam ou trabalham com tecnologia educacional para promover a inclusão social. O tema deste ano é Educação em tempos de conexão, abundância e compartilhamento.
O evento acontece de hoje (28) a quarta-feira (30). São cerca de 600 inscritos para conferir a ampla programação, composta por apresentação de artigos, lançamento de livros, oficinas, paineis e palestras. A grade completa de programação está no site do evento. Segundo o coordenador do Senid, o professor Adriano Canabarro, mais de 85% das apresentações será de educadores vindos de outros cantos do país. O Senid é realizado pela Universidade de Passo e prefeitura da cidade.
Quem chegar ao campus da UPF, onde acontece o evento, vai encontrar um espaço para instalação do Linux Educacional e a Escola de Hacker, um ambiente onde estudantes da universidade ensinam programação com Scratch, além das salas ondem acontecem as palestras, painéis e oficinas.O número de ações aumentou em relação à edição anterior, com apresentações de artigos e paineis acontecendo a cada 20 minutos.
A terceira edição do Senid pretende também despertar os educadores para a percepção de que uma nova educação é necessária. Em paralelo acontece a Mostra Tecnologias na Escola, que repassa a história do uso de inovações de comunicação e informação em sala de aula. “A mostra serve para dizer que, embora a tecnologia evolua, o modelo educacional não tem evoluído. A gente continua fazendo as mesmas coisas com nossos tablets que fazíamos com a lousa antiga”, diz Canabarro.
Segundo ele, o objetivo da mostra é fazer os participantes pensarem como pode ser a educação quando a gente está conectado, compartilha informação, tem abundância de acesso a conteúdos e formatos de conteúdos. “O mote do nosso evento é questionar por que, se a gente vive na era da abundância, a gente mantém o ensino tradicional da época da escassez, em que eu tenho que estar num local específico, num dia específico, numa hora específica, com alguém me dizendo o que, como e porque aquilo é importante. Não precisamos mais fazer isso. A escola é fundamental, sim, mas não mais para ser uma repassadora de informações. Temos tecnologias que nos permitem, às vezes, obter informação com mais qualidade”, explica.
Se a educação carece de um novo olhar, a inclusão digital também tem sido encarada de modo equivocado, na visão do professor. “A gente tem uma política pública de inclusão digital muito baseada na instrumentação. Existe um privilégio das questões técnicas, em detrimento das questões fundamentais, que seriam pensar qual é o contexto mundial em que se vive, que tecnologias existem, com que metodologias podemos usar as tecnologias e como podemos qualificar o processo educacional”, diz.
Segundo ele, ainda falta levar internet de qualidade à população. “Existe esse negócio de dar prioridade de aos dispositivos, mas temos que avançar muito no acesso à internet. Temos um acesso precário, que não é de fato socializado”, sentencia.
Inclusão e ativismo
Um dos paineis iniciais foi minsitrado pelo professor Rubens Ragone Martins, do Instituto Federal de Minas Gerais – Campus Congonhas. Ele controu a experiência do curso Movimento em Rede – Inclusão Digital para a Ação Social. Iniciado em 2013, o curso tem o objetivo de formar representantes das comunidades no uso das TICs para engajamento político por meio de redes.
A primeira turma formou oito pessoas e ficou restrita a Congonhas. Este ano, já são 32 alunos vindos de outras cidades da região mineradora do estado, como Ouro Preto, Entre Rios, Conselheiro Lafaiete e Belo Vale. A primeira turma tem usado o aprendizado para cobrar as prefeituras. Como exemplo, ele cita a demanda da associação do bairro de Pires, cortado por uma estada.
Eles conseguiram, por enquanto, a instalação de radares de velocidade, mas já demandam a construção de uma passagem subterrânea para reduzir o número de atropelamentos. “A partir do segundo grupo, a ideia é irradiar a campanha pelo marco regulatório da mineração, em votação no Congresso”, conta.
O curso possui 40 horas de aulas procura dar aos alunos uma visão sistêmica da sociedade, introduzindo o conceito de redes de movimentos sociais e atuação e rede para ampliar o impacto dos trabalhos das associações comunitárias. Para isso, ensina a usar ferramentas de busca, sítios de interesse público, redes sociais, blogs, a fazer petições online, trabalhar colaborativamente e realizar enquetes virtuais.
Para coneguir que as redes sejam formadas, e mantidas, Martins, e seus colegas do IFMG, trabalham para interconectar atores de diferentes movimentos sociais. “A organização em redes para articulação institucional e política aumenta a potencialidade dos movimentos sociais comunitários, para que possam ser efetivamente transformadores”, conclui.