Rafael Bravo Bucco
08/05/2014 – Em contraposição à palestra realizada ontem (7), sobre o radicalismo na defesa do software livre, foi organizada hoje (8) uma mesa com ativistas que defendem o boicote a toda e qualquer ferramenta que tenham vínculos proprietários, mesmo se forem de código aberto.
Participaram do debate Morreu o movimento Software Livre no Brasil? Anahuac de Paula Gil, Ricardo Panaggio, Sergio Durigan Junior, Frederico Gonçalves Guimarães e Alexandre Oliva.
Oliva lembrou a definição de software livre, determinada por quatro liberdades: a liberdade para executar o programa, para qualquer propósito; a liberdade de estudar o software; a liberdade de redistribuir cópias do programa de modo que você possa ajudar ao seu próximo; a liberdade de modificar o programa e distribuir estas modificações, de modo que toda a comunidade se beneficie.
Depois, disse acreditar que o movimento perdeu consistência, em função da adoção de ferramentas proprietárias em detrimento de outras, abertas, por militantes do movimento. “Se você usar plataformas proprietárias, como o Google Groups, para discutir o software livre, influenciará outras pessoas a fazerem o mesmo”, disse.
Em sua fala, Gil criticou o uso de plataformas proprietárias para alacançar pessoas que não usam software livre ainda. “Fica todo mundo gritando no Facebook, no Twitter, e o movimento não se move. Os maiores defensores do Software Livre no passado ficam hoje no face e twitter”, falou, ressaltando o ponto de vista de Oliva, de que o uso de expoentes influencia outros usuários.
Gil criticou a flexibilização de conceitos fundamentais do Software Livre. “Temos um grupo relativamente novo de ativistas que se diz revolucionário por usar o Ubuntu, o Gmail, e iPhone. Desculpe, mas se você é assim, você é um idiota. Você foi cooptado e usa softwares de aprisionamento massivo”, disse.
O ativista disse que o software livre teve avanços, mas não na área política. “Como movimento social político, estagnou. Como técnica de produção, melhorou, tem mais gente produzindo, mas sem nenhuma consciência por trás”, defendeu.
Frederico Gonçalves Guimarẽs, da comunidade SLEducacional, buscou contemporizar. Afirmou que exenrga o momento do movimento como uma etapa de transição, o que não significa que está morto. “A gente tem que pensar se um dia teremos um mundo apenas com software livre. Acho que será um mundo mesclado. Essa evolução será positiva ou não? Não sei”, disse.
Professor, biólogo, Guimarães comentou a dificuldade em introduzir o software livre na educação, a reatividade dos preofessores, e as ameaças constantes de governos e entidades de classe pedirem o retorno ou uso de software proprietário. “Eu acredito em processo. Acho que se você mostrar um software livre, mesmo com flash instalado, pode começar a demonstrar a importância de acreditar no software livre”, disse, ressantando que não basta capacitar para o uso, é preciso fazer acreditar no movimento.
Ricardo Panaggio foi pessimista. Disse que o movimento sofre seu momento de maior baixa e descrença, com expoentes aceitando o uso de ferramentas proprietárias. “A principal crítica é que software tem que ser bom, quando na verdade as pessoas devem olhar se o software respeita a sua liberdade”, disse.
Diante do cenário pessimista entre os ativistas do software livre, Panaggio sugere o foco na educação, formando crianças e jovens para o uso de ferramentas, softwares e hardwares livres. “Para ressuscitar o movimento, a gente precisa começar de baixo, com os pequenininhos. Se você defende o software livre, ajude a formar pessoas”, convidou.
Sergio Durigan Junior, da Red Hat, vê o contexto social como fundamental para compreensão da baixa energia do movimento de software livre hoje. “A gente está em uma sociedade imersa no hedonismo e individualismo. As pessoas se preocupam com as próprias vidas, e não com a vida de todos”, disse.
Ele também ressaltou como pode ser prejudicial para o movimento o uso de ferramentas proiprietárias, em especial, das mídias sociais. “Pessoas que usam Facebook ou Gmail não se preocupam com a privacidade das pessoas com que ela convive. A privacidade é um bem coletivo”, ressaltou.
Alvo das críticas de Gil, Marcelo Branco, na plateia, se posicionou. Ressaltou que o movimento do software livre, por enquanto, é vitorioso. “Contaminou vários âmbitos da sociedade. Os movimentos socieias que sacudiram o mundo se apoiaram em conceitos nascidos com o movimento do software livre”, disse.
Branco falou ainda que o momento é de transição. “O software livre inaugurou a era dos movimentos em rede. Agora, temos que pensar como o software livre atinge essa geração da sociedade em rede. O movimento precisa conviver com as novas dinâmicas dessa sociedade, a comunidade não vai mais viver sem plataformas de comunicação em rede”, ressaltou.
Após diversas intervenções da plateia sobre a afirmação de Gil de que o usuário de algumas ferramentas proprietárias são idiotas, o debater refez sua frase. “O idiota sou eu, desculpem. Vou mudar o que falei. Quem usa essas ferramenta junto com o software livre são complacentes sabotadores do movimento”, concluiu.